Municípios devem assumir a tributação do ... - Vida Económica
Municípios devem assumir a tributação do ... - Vida Económica
Municípios devem assumir a tributação do ... - Vida Económica
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Director de Recursos Humanos da Autoeuropa em entrevista à “<strong>Vida</strong> <strong>Económica</strong>”<br />
“Vamos ter Autoeuropa<br />
em 2030”<br />
“Claro que poderia sempre criticar algumas coisas”, mas, no geral, o pacote de medidas<br />
apresenta<strong>do</strong> pelo Governo para rever o Código <strong>do</strong> Trabalho é “muito bom”. A opinião<br />
foi manifestada à “<strong>Vida</strong> <strong>Económica</strong>” pelo director de recursos humanos da Autoeuropa,<br />
Julius von Ingelheim, à margem de uma palestra, na Faculdade de Engenharia <strong>do</strong> Porto,<br />
sobre “Estratégia e Planeamento de Recursos Humanos numa Empresa Multinacional”.<br />
Ciente <strong>do</strong>s bons resulta<strong>do</strong>s da fábrica em 2007 (produziu 93 609 veículos, contra 81 835<br />
em 2006), Julius von Ingelheim concede que o futuro da multinacional está garanti<strong>do</strong><br />
até 2010, poden<strong>do</strong> chegar a 2030. “A chave para sobreviver é a adaptabilidade”.<br />
<strong>Vida</strong> <strong>Económica</strong> – Como olha para as<br />
propostas recentemente apresentadas<br />
pelo Governo para a revisão <strong>do</strong> Código<br />
<strong>do</strong> Trabalho?<br />
Julius von Ingelheim – Para mim há<br />
muitas coisas positivas nesta proposta <strong>do</strong><br />
Governo, principalmente a ideia de consenso,<br />
de criar consensos entre as partes,<br />
que é muito importante. Uma outra palavra-chave<br />
é a adaptabilidade. Essa é a<br />
moldura da proposta apresentada. Além<br />
de que os diferentes pontos apresenta<strong>do</strong>s<br />
são muito positivos, especialmente a flexibilidade<br />
em relação aos horários de trabalho,<br />
quanto ao horário diário, semanal<br />
e anual, porque é importante assegurar<br />
diferentes necessidades durante a semana,<br />
em cada mês e durante o ano de trabalho.<br />
VE – O Código <strong>do</strong> Trabalho é a lei geral<br />
laboral <strong>do</strong> país, mas a Autoeuropa<br />
tem um acor<strong>do</strong> de empresa próprio. As<br />
mudanças no Código <strong>do</strong> Trabalho influenciam<br />
a vossa empresa? O acor<strong>do</strong><br />
de empresa não é suficiente?<br />
JvI – Nós criámos uma moldura laboral<br />
própria para poder estar no merca<strong>do</strong><br />
e muitas das soluções que são agora propostas<br />
para o Código <strong>do</strong> Trabalho nós já as<br />
praticamos na Autoeuropa.<br />
VE – Os bancos de horas, por exemplo?<br />
JvI – Sim, sim, o banco de horas. Já<br />
praticamos. E é algo de muito importante,<br />
que permite reduzir o perío<strong>do</strong> de trabalho<br />
anual, dan<strong>do</strong> flexibilidade, que é o que está<br />
na base <strong>do</strong> sucesso de muito produtos finais.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, há o pagamento das<br />
horas suplementares, que para nós é um<br />
problema [a empresa paga aos trabalha<strong>do</strong>res,<br />
pelo trabalho presta<strong>do</strong> ao <strong>do</strong>mingo,<br />
por exemplo, mais 200% em relação à<br />
hora normal e, após a 8ª hora de trabalho<br />
nesse dia, mais 800%, para além de 100%<br />
de descanso compensatório. O Código <strong>do</strong><br />
Trabalho apenas prevê o pagamento de<br />
100%, também com 100% de descanso<br />
compensatório].<br />
541 milhões investi<strong>do</strong>s até 2010<br />
Em 2007, a fábrica de Palmela da Autoeuropa<br />
produziu 93 609 veículos (uma média<br />
de 30 veículos por trabalha<strong>do</strong>r) contra<br />
81835 em 2006, revelou director de recursos<br />
humanos da empresa, Julius von Ingelheim,<br />
numa recente palestra na Faculdade de Engenharia<br />
<strong>do</strong> Porto (FEUP).<br />
E, na sequência da decisão da casa-mãe de<br />
produzir integralmente em Portugal o novo<br />
Wolkswagen Sciroco, a fábrica de Palmela,<br />
que tem capacidade de produção instalada<br />
para 172 mil automóveis/ano, vai receber<br />
um investimento, no perío<strong>do</strong> entre 2008 e<br />
2010, de 541 milhões de euros. “É o maior<br />
investimento de sempre” nesta fábrica, disse<br />
Julius von Ingelheim aos presentes, maioritariamente<br />
alunos <strong>do</strong> mestra<strong>do</strong> integra<strong>do</strong> em<br />
Gestão e Engenharia Industrial da FEUP.<br />
sexta-feira, 23 Maio de 2008 negócios e empresas<br />
23<br />
VE – As horas extra são um custo adicional<br />
para a Autoeuropa?<br />
JvI – Sim, são um custo. E com o banco<br />
de horas podemos balançar com as novas<br />
necessidades [de produção] semanais<br />
e anuais. É que os pagamentos adicionais<br />
de horas e de tempo compensatório, que<br />
também remuneramos em dinheiro, são<br />
um problema. A nossa proposta agora é<br />
que, em vez de pagar esse tem-<br />
po compensatório em dinheiro,<br />
possamos pagá-lo em tempo livre.<br />
VE – É fácil negociar com os<br />
trabalha<strong>do</strong>res e com os sindicatos<br />
na Autoeuropa?<br />
JvI – Não é fácil. Veja que o objectivo<br />
mais importante <strong>do</strong> Governo é criar consenso<br />
à volta das realidades para criar uma<br />
forma de adaptabilidade. Esse é o objectivo<br />
mais importante de todas as negociações:<br />
é que todas as pessoas compreendam por<br />
que é que se faz uma mudança. Nós, na<br />
Autoeuropa, tivemos esse problema, porque<br />
as pessoas não compreendiam por que<br />
é que era preciso cortar nos pagamentos<br />
adicionais. E quan<strong>do</strong> nós explicámos a<br />
situação e os objectivos, eles perceberam,<br />
confiaram e aceitaram a mudança, porque<br />
era para criar mais crescimento.<br />
VE – Que expectativas é que tem em<br />
relação à revisão <strong>do</strong> Código <strong>do</strong> Trabalho?<br />
JvI – A revisão <strong>do</strong> Código <strong>do</strong> Trabalho<br />
é um pacote. O Governo e o ministro <strong>do</strong><br />
Trabalho apresentaram um pacote de coisas<br />
diferentes, mas, no geral, é um pacote<br />
muito positivo. Claro que poderia sempre<br />
criticar algumas coisas, mas no seu conjunto<br />
o pacote das propostas apresentadas é<br />
muito bom.<br />
VE – Qual é a proposta mais positiva<br />
que destaca?<br />
JvI – Para mim é a criação <strong>do</strong> banco de<br />
horas.<br />
VE – E quanto aos despedimentos?<br />
Como é que vê as propostas <strong>do</strong> Governo<br />
O director de recursos humanos da multinacional<br />
revelou ainda que a empresa, que<br />
emprega cerca de 2990 trabalha<strong>do</strong>res e onde<br />
a taxa de absentismo é “mínima” (1,3%),<br />
pretende recrutar até mais 2 mil colabora<strong>do</strong>res<br />
até 2010, como forma de corresponder<br />
ao aumento da actividade decorrente <strong>do</strong> produção<br />
<strong>do</strong> novo modelo.<br />
Questiona<strong>do</strong> pelos alunos da FEUP sobre<br />
uma possível deslocalização para a Ásia ou a<br />
Europa de Leste, Julius von Ingelheim declinou,<br />
lembran<strong>do</strong> que os factores de localização<br />
da unidade em Portugal (os custos com<br />
a energia, os impostos, a economia, a localização<br />
geográfica, os recursos humanos, a<br />
legislação laboral, etc) estão no “meio termo”<br />
entre a realidade alemã e a de certos países<br />
asiáticos ou da Europa de Leste.<br />
30<br />
veículos/ano/<br />
trabalha<strong>do</strong>r<br />
em matéria de despedimentos? Disse<br />
aqui na palestra que a lei laboral portuguesa<br />
é “um desastre”…<br />
JvI – Para nós, a flexibilidade interna é<br />
a coisa mais importante. E em Portugal a<br />
lei transfere poucas coisas para os contratos<br />
colectivos, é uma lei muito estática. Nós<br />
valorizamos muito a flexibilidade funcional,<br />
o poder fazer hoje umas funções num<br />
posto de trabalho e amanhã po-<br />
der fazer outras. E não é fácil<br />
fazer estas mudanças internas<br />
e, por isso, recorrer ao despedimento<br />
é uma forma, por vezes,<br />
de ter essa flexibilidade. Para nós,<br />
hoje é possível fazer alguns despedimentos,<br />
embora a lei tenha aspectos<br />
jurídicos mais orienta<strong>do</strong>s para proteger os<br />
trabalha<strong>do</strong>res e não tanto para perceber a<br />
realidade das empresas. E quan<strong>do</strong> nós fazemos<br />
um despedimento – e fazemos muito<br />
poucos – os processos para os tribunais são<br />
“Para nós a flexibilidade interna é a coisa mais importante”, explicou Julius<br />
von Ingelheim à “<strong>Vida</strong> <strong>Económica</strong>”.<br />
muito complexos. É por isso que a proposta<br />
<strong>do</strong> Governo de simplificação <strong>do</strong>s processos<br />
disciplinares também é muito importante,<br />
porque acelera to<strong>do</strong> o processo.<br />
VE – Qual é o futuro da Autoeuropa?<br />
Como vai ser após 2010?<br />
JvI – Depois de um ano de 2007 muito<br />
positivo, no geral, nós, na Autoeuropa,<br />
lutamos dia a dia. Em 2005 tínhamos uma<br />
fábrica com balanço negativo, em 2006<br />
tivemos um ano muito bom, assim como<br />
em 2007. Em <strong>do</strong>is anos fizemos mudanças<br />
radicais e fizemos negócios com muita<br />
rapidez. Até 2010 temos produção de<br />
automóveis garantida. Eu sou uma pessoa<br />
muito positiva. Estou certo de que vamos<br />
ter Autoeuropa em 2020, 2030. Aquilo<br />
que lhe digo é que a chave para sobreviver<br />
é a adaptabilidade.<br />
TERESA SILVEIRA<br />
teresasilveira@vidaeconomica<br />
PUB