Municípios devem assumir a tributação do ... - Vida Económica
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24<br />
negócios e empresas<br />
A taxa de retorno <strong>do</strong> imobiliário<br />
e o (des)investimento nacional<br />
Uma notícia de hoje levou-me a<br />
recordar um relatório que redigi<br />
em 24 de Maio de 2005 para<br />
informação a prestar a Sª Exª o Secretario<br />
de Esta<strong>do</strong> da Administração Interna,<br />
Dr. Eduar<strong>do</strong> Cabrita, pela Associação<br />
Lisbonense de Proprietários, no âmbito<br />
e sequência das consultas aos “parceiros<br />
sociais”, consultas essas feitas por aquele<br />
membro <strong>do</strong> Governo na fase preparatória<br />
<strong>do</strong> que viria a ser o NRAU,<br />
Tive nele ocasião de então emitir a opinião<br />
de que deveria ser da ordem <strong>do</strong>s 7%<br />
a 9% a taxa de retorno regular a obter<br />
para os investimentos que se objectivavam<br />
com a elaboração daquele diploma,<br />
dadas as condições de amortização, conservação,<br />
gestão, etc, mas também de risco<br />
que lhe são inerentes, em comparação<br />
com outras possíveis aplicações “concorrentes”<br />
neste e noutros merca<strong>do</strong>s.<br />
Isto para que fosse possível criar atracção<br />
em capitais de qualquer origem para<br />
investimento imobiliário necessário, não<br />
só para a enorme tarefa de reabilitação<br />
<strong>do</strong> património degrada<strong>do</strong> como para a<br />
própria manutenção no merca<strong>do</strong> de arrendamento<br />
com um<br />
suficientemente grande<br />
volume de capitais já<br />
aplica<strong>do</strong>s nos imóveis<br />
correspondentes. Fi-lo,<br />
aliás, sem grande convicção<br />
que tal pudesse<br />
influir sensivelmente<br />
no resulta<strong>do</strong> da decisão<br />
governamental, mas<br />
por simples “descargo<br />
de consciência”.<br />
Não sem alguma surpresa<br />
– não tanto pela<br />
incoincidência mas pela desproporção relativamente<br />
às minhas conjecturas – pude<br />
verificar depois que a taxa a<strong>do</strong>ptada na<br />
Lei em causa tinha si<strong>do</strong> de tão somente<br />
4%, mas ainda mais porque esta taxa deveria<br />
aplicar-se, não ao valor de merca<strong>do</strong><br />
da habitação em causa mas ao correspondente<br />
valor tributário, calcula<strong>do</strong> através<br />
de uma formulação que envolvia valores<br />
variáveis <strong>do</strong>s factores condicionantes (e<br />
ainda redutores daquele valor tribtário)<br />
tais como antiguidade, conservação, localização,<br />
etc.<br />
Iríamos continuar a ser a tal “ilha”, e<br />
por isso depois publiquei um artigo intitula<strong>do</strong><br />
“Valha-nos Deus!...”<br />
Ora já eu então escrevera:<br />
“A utilização de capitais numa deter-<br />
minada aplicação (ou a sua distribuição<br />
por diversas aplicações) corresponde hoje<br />
à ‘procura’ de um merca<strong>do</strong> de oportunidades<br />
de investimento — livre quanto a<br />
acesso, altamente concorrencial quanto<br />
essas oportunidades, e de âmbito verdadeiramente<br />
mundial — em que o objectivo<br />
final é a maximização <strong>do</strong> rendimento<br />
por parte de um grande volume de capitais,<br />
internacionalmente ‘volantes’”…<br />
“Não há – sobretu<strong>do</strong> hoje – forma de<br />
‘obrigar’ o investi<strong>do</strong>r, por via administrativa,<br />
a fazer uma tal utilização de capitais<br />
(ou de bens equivalentes) numa aplicação<br />
conducente a uma taxa de retorno menor.<br />
A consequência de qualquer medida<br />
nesse senti<strong>do</strong> será:<br />
- a fuga desses deseja<strong>do</strong>s capitais relativamente<br />
a essas aplicações, para outras<br />
mais interessantes, em conformidade com<br />
esse parâmetro;<br />
- a redução da oferta <strong>do</strong>s bens que resultem<br />
desse tipo de investimento;<br />
- a subida <strong>do</strong>s preços correspondentes<br />
no respectivo merca<strong>do</strong>, mesmo em igualdade<br />
de condições de procura…”<br />
De facto o grande factor<br />
de transformação da<br />
economia mundial já<br />
então tinha começa<strong>do</strong><br />
a ser o desenvolvimento<br />
das “economias emergentes”,<br />
principalmente<br />
no Sueste Asiático, onde<br />
a China, a Índia, a In<strong>do</strong>nésia<br />
e o Paquistão,<br />
que só por si representam<br />
mais de 50% da<br />
população <strong>do</strong> Globo,<br />
têm regista<strong>do</strong> taxas de<br />
expansão entre os 6% e os 10%.<br />
Como, sempre e em qualquer lugar,<br />
essa tendência abrange também aquelas<br />
camadas da população cujos rendimentos<br />
já ultrapassaram suficientemente o nível<br />
da subsistência, gera-se, pelo menos entre<br />
estas, uma acumulação de riqueza que<br />
passa a constituir excedentes financeiros,<br />
neste caso com dimensões talvez nunca<br />
vistas.<br />
Estes, por sua vez, não são deixa<strong>do</strong>s<br />
eternamente em depósitos à ordem sem<br />
rendimentos, buscan<strong>do</strong> em qualquer parte<br />
aplicações, em primeiro lugar com o<br />
mínimo de risco, depois sem perigo de<br />
desvalorização, e em terceiro lugar com<br />
algum rendimento, se for viável, e, nesse<br />
caso, o mais eleva<strong>do</strong> possível<br />
Para a grande maioria <strong>do</strong>s não “inicia<strong>do</strong>s”<br />
nos jogos das Bolsas, é o imobiliário<br />
a solução mais prática e “concreta”, normalmente<br />
com rendimento e valorização<br />
regulares, sobretu<strong>do</strong> nos países de economias<br />
mais desenvolvidas e conhecidas por<br />
proporcionarem protecção legal a esses<br />
investimentos, embora os capitais e eles<br />
acorram passan<strong>do</strong> pelos mais varia<strong>do</strong>s caminhos….<br />
Por outro la<strong>do</strong>, normalmente em qualquer<br />
país, e sobretu<strong>do</strong> nessa altura, nem<br />
era proporcionalmente significativo o volume<br />
total de imobiliário imediatamente<br />
disponível para venda<br />
nem a “produção” de<br />
imobiliário novo podia<br />
(nem poderá nunca<br />
sê-lo, passan<strong>do</strong> pela<br />
obtenção de terrenos,<br />
elaboração de projectos<br />
licenciamentos…<br />
etc) fazer-se subitamente<br />
crescer,como<br />
pode suceder com a<br />
produção de bens móveis.<br />
Pelo simples mecanismo<br />
<strong>do</strong> “quem dá<br />
mais..” a que se chama<br />
“lei da oferta e da procura”, os preços<br />
imobiliários subiram ao mesmo tempo<br />
em mais de 20 países de to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>,<br />
desde os EUA à Austrália, de Singapura a<br />
Inglaterra, da África <strong>do</strong> Sul a Dubai ou a<br />
Espanha, como, por “varinha de condão”<br />
e independentemente uns <strong>do</strong>s outros,<br />
como o vêm mostran<strong>do</strong>, creio que desde<br />
há mais de seis anos, as estatísticas <strong>do</strong><br />
“The Economist” – bem se provan<strong>do</strong> que<br />
tal subida não era fruto da”especulação”<br />
ou de quaisquer outras circunstancias locais<br />
e ocasionais.<br />
A valorização imobiliária atingiu, em<br />
médias nacionais e em muitos desses países,<br />
mais de 20% por ano, tal era o volume<br />
de capitais que surgia subitamente<br />
como “procura” imobiliária neles, por tal<br />
forma que, por exemplo, em 2005, em<br />
Espanha, apesar de o ritmo da construção<br />
ter aumenta<strong>do</strong> de 12%, o preço das<br />
habitações aumentou de outros 12% na<br />
média nacional (30% em Valência…) e<br />
traduzin<strong>do</strong>-se em conjunto, mas por si<br />
só, num aumento de cerca de 3% no rendimento<br />
nacional.<br />
De facto, em mensagem que recebi há<br />
poucos dias de um congénere espanhol –<br />
lamentan<strong>do</strong>-se quanto a orientações tão<br />
desfavoráveis recentemente surgidas no<br />
seu merca<strong>do</strong> –, ele recordava-me que:<br />
“…até tão recentemente como há <strong>do</strong>is<br />
anos, a aquisição de propriedades aqui<br />
correspondia a cerca de 20% <strong>do</strong> IDE (investimento<br />
directo estrangeiro) e a um<br />
forte sustentáculo da construção e <strong>do</strong><br />
emprego com esta relaciona<strong>do</strong>…”.<br />
Foi por coincidência nessa altura que<br />
vieram a publico referencias às mais recentes<br />
estatísticas da Eurostat (gabinete<br />
estatístico comunitário) relativamente aos<br />
27 países comunitários, segun<strong>do</strong> as quais,<br />
no ano passa<strong>do</strong>, o IDE (investimento directo<br />
estrangeiro) em<br />
Portugal se reduziu da<br />
seguinte maneira:<br />
– <strong>do</strong>s outros países<br />
da União, de 6,4 para<br />
2,8 mil milhões de euros<br />
(- 56%)<br />
– <strong>do</strong>s países extracomunitários,<br />
de 2,7<br />
para 1,7 mil milhões<br />
de Euros (-37%),<br />
acrescentan<strong>do</strong>-se:<br />
“A forte tendência<br />
de queda <strong>do</strong> investimento<br />
estrangeiro no<br />
nosso país contrasta<br />
com o aumento <strong>do</strong> IDE verifica<strong>do</strong> no<br />
conjunto <strong>do</strong>s 27 esta<strong>do</strong>s-membros da<br />
União Europeia” (+ 89%).<br />
Paralelamente ao acima exposto e como<br />
eu receava no meu relatório antes referi<strong>do</strong>,<br />
não foi só relativamente à entrada de<br />
capitais no país que a situação se alterou.<br />
Realmente, em paralelo com um invulgar<br />
anúncio feito público por uma importante<br />
media<strong>do</strong>ra local, de “sal<strong>do</strong>s” de<br />
muitos milhares de fogos “abaixo <strong>do</strong>s preços<br />
de merca<strong>do</strong>”, tivemos notícia que o<br />
Governo português tinha si<strong>do</strong> condena<strong>do</strong><br />
no tribunal comunitário por cobrança<br />
indevida de “imposto sobre mais-valias”<br />
a investi<strong>do</strong>res nacionais que teriam aplica<strong>do</strong><br />
nos outros países comunitários capitais<br />
obti<strong>do</strong>s da venda de propriedades<br />
aqui.<br />
Tal prova o segun<strong>do</strong> aspecto <strong>do</strong>s meus<br />
receios: o desinvestimento em imobilário<br />
aqui, para idêntica aplicação <strong>do</strong>s capitais<br />
resultantes noutros países membros.<br />
Claro que essa tendência regressiva <strong>do</strong><br />
investimento não pode passar sem consequências<br />
para o desemprego e para expansão<br />
económica.<br />
Mas pelo menos conseguiu-se travar o<br />
aumento das rendas com os tais 4%...<br />
HPP Saúde investe 57,5 milhões no Hospital da Boavista<br />
Nova unidade hospitalar tem 160 camas, 36 gabinetes de consultas, sete salas de bloco operatório e uma unidade de cuida<strong>do</strong>s<br />
intensivos, poden<strong>do</strong> realizar 17 mil cirurgias por ano, 50 mil diárias de internamento e mais de 340 mil consultas<br />
A HPP Saúde, a empresa <strong>do</strong><br />
sector da saúde <strong>do</strong> universo Caixa<br />
Geral de Depósitos, apresentou<br />
recentemente o Hospital da<br />
Boavista, no Porto, que representou<br />
um investimento global de<br />
57,5 milhões de euros. Esta nova<br />
unidade hospitalar aguarda apenas<br />
pela licença de utilização por<br />
parte da Câmara <strong>do</strong> Porto para<br />
começar a operar, disse António<br />
Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong> Gonelha, presidente<br />
<strong>do</strong> Conselho de Administração<br />
da HPP Saúde, aos jornalistas<br />
durante a apresentação.<br />
A nova unidade pretende “pri-<br />
Tendência regressiva<br />
<strong>do</strong> investimento<br />
não pode passar sem<br />
consequências para o<br />
desemprego e para a<br />
expansão económica<br />
vilegiar modelos de organização<br />
flexíveis, alia<strong>do</strong>s a eleva<strong>do</strong>s níveis<br />
tecnológicos e a uma infra-estrutura<br />
funcional”. “Não há luxos<br />
aqui”, disse o administra<strong>do</strong>r da<br />
empresa José Manuel Boquinhas,<br />
aquan<strong>do</strong> da visita ao hospital.<br />
O hospital trabalhará com cerca<br />
de 850 colabora<strong>do</strong>res, entre<br />
eles cerca de 300 serão médicos<br />
(“entre 40 e 50” em regime de<br />
exclusividade), cerca de 250 enfermeiros,<br />
130 auxiliares e 50 técnicos<br />
de saúde.<br />
Recorde-se que a HPP Saúde é<br />
um <strong>do</strong>s maiores grupos <strong>do</strong> sector<br />
priva<strong>do</strong> da saúde em Portugal,<br />
ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> o escolhi<strong>do</strong> pelo Esta<strong>do</strong><br />
na parceria público-priva<strong>do</strong><br />
(PPP) para a construção e exploração<br />
<strong>do</strong> hospital de Cascais.<br />
“Temos um contrato de exploração<br />
<strong>do</strong> hospital garanti<strong>do</strong> por 10<br />
anos, que se renova por perío<strong>do</strong>s<br />
de mais 10, mas estamos convenci<strong>do</strong>s<br />
que, ven<strong>do</strong> a nossa forma<br />
de trabalhar, ao fim <strong>do</strong>s primeiros<br />
10 anos renovaremos o contrato<br />
de gestão”, disse Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong> Gonelha.<br />
Quanto aos restantes concursos<br />
para os novos hospitais em parce-<br />
sexta-feira, 23 Maio de 2008<br />
ria com o Esta<strong>do</strong>, a HPP Saúde,<br />
que já gastou 5 milhões de euros<br />
nas PPP, não deverá voltar a<br />
concorrer, “porque agora os concursos<br />
são só para a construção<br />
<strong>do</strong> hospital”, excluin<strong>do</strong> a gestão<br />
clínica.<br />
A HPP Saúde, que é detida a<br />
75% pela Caixa Seguros (Grupo<br />
CGD) e a 25% pela USP Hospitales,<br />
está ainda integrada numa<br />
rede ibérica, contan<strong>do</strong> com mais<br />
de 40 unidades e 5 mil profissionais<br />
em Portugal e Espanha.<br />
Em Portugal, a HPP Saúde detém<br />
seis hospitais (Hospital <strong>do</strong>s<br />
MANuel JoAquiM<br />
MoNteiro de<br />
BArroS<br />
Consultor imobiliário<br />
- CRE<br />
A utilização de capitais<br />
numa determinada<br />
aplicação corresponde<br />
hoje à “procura”<br />
de um merca<strong>do</strong> de<br />
oportunidades de<br />
investimento<br />
Clérigos, da Boavista, da Misericórdia<br />
de Sangalhos, <strong>do</strong>s Lusíadas,<br />
em Lisboa, São Gonçalo de<br />
Lagos e Santa Maria de Faro) e o<br />
Hospital de Cascais, cuja construção<br />
vai iniciar-se em regime de<br />
parceria público-privada.<br />
Em Espanha, o grupo conta<br />
com 13 hospitais (Barcelona,<br />
Madrid, La Coruña, Marbella,<br />
Murcia, Palma de Maiorca, Santa<br />
Cruz de Tenerife, Sevilha, Torrevieja<br />
e Vitória), 10 centros ambulatórios<br />
e 12 policlínicas.<br />
TERESA SILVEIRA<br />
teresasilveira@vidaeconomica.pt