Liberdade de existir - Visão Judaica
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REFLEXÕES<br />
10<br />
VISÃO JUDAICA • Março <strong>de</strong> 2004 • Adar/Nissan • 5764<br />
* Sérgio Rosvald Donaire<br />
(Jochanan Saphir ben Avraham)<br />
é administrador <strong>de</strong> empresas,<br />
auditor, consultor - Donaire<br />
Sistemas, é coor<strong>de</strong>nador do<br />
Grupo Yidish Surfers<br />
http://br.groups.yahoo.com/<br />
group/Yidish_Surfers<br />
© Reprodução e divulgação<br />
permitida no total, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
citada a origem e o autor.<br />
B”H<br />
A Segunda Lei da Termodinâmica e D-us<br />
Sérgio Rosvald Donaire (Jochanan<br />
Saphir ben Avraham) *<br />
que a Segunda Lei da Termodinâmica<br />
tem a ver com<br />
D-us e com a ética judaica?<br />
Ora, meus amigos, se vocês<br />
também não lembram muito<br />
bem daquela Lei, não se preocupem,<br />
fiz cursinho há uns 15 anos, também<br />
não lembro totalmente. Vamos recordar<br />
os princípios básicos e o relacionamento<br />
disto com a<br />
vida; com o modo <strong>de</strong> vida<br />
judaico, mais particularmente.<br />
E, com<br />
isso, nossa relação<br />
com D-us, B”H.<br />
Imagine uma pedra<br />
caindo. Ela possui<br />
Energia Potencial<br />
(pela sua posição, sua<br />
altura do solo) e Cinética,<br />
relacionada ao seu<br />
movimento. Quando se<br />
choca com o solo, converte<br />
parte da energia <strong>de</strong> seu movimento<br />
em calor e <strong>de</strong>sagregação, neste caso,<br />
Crítica árabe aos<br />
atentados suicidas<br />
um <strong>de</strong>sperdício, por assim dizer,<br />
uma energia caótica, uma energia<br />
<strong>de</strong>sorganizada.<br />
O que quero propor aqui é que a<br />
forma como o Universo está disposto,<br />
faz-nos acreditar que toda energia<br />
“organizada” ten<strong>de</strong> a se <strong>de</strong>sorganizar.<br />
Hum... Agora você <strong>de</strong>ve estar<br />
pensando: Como explicar os processos<br />
que organizam a vida? Este é o<br />
ponto no qual queremos refletir.<br />
Vamos voltar às <strong>de</strong>finições clássicas.<br />
A Segunda Lei da Termodinâmica<br />
procura estudar as limitações a<br />
que estão sujeitos os processos, <strong>de</strong>terminando<br />
o sentido em que ocorrem<br />
essas transformações, através da<br />
função Entropia.<br />
Entropia: quando ocorre uma<br />
transformação termodinâmica, uma<br />
parte da energia é aproveitada e uma<br />
outra é <strong>de</strong>sperdiçada, em forma <strong>de</strong>sorganizada<br />
e aparentemente inútil,<br />
conhecida como energia térmica. A<br />
Entropia me<strong>de</strong> a “<strong>de</strong>gradação” da<br />
energia organizada para uma energia<br />
<strong>de</strong>sorganizada.<br />
No jornal egípcio “Al Shark El Awsat” a jornalista Mona El Tjawi [1] criticou abertamente os<br />
atentados suicidas e o uso <strong>de</strong> mulheres por parte das organizações terroristas.<br />
Num artigo publicado dia 25 <strong>de</strong> janeiro ela escreveu que <strong>de</strong>sta forma, a mensagem do Hamas<br />
aos palestinos é reforçar a idéia <strong>de</strong> que as mulheres não valem nada. A jornalista expressa sua<br />
preocupação ante a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avivar um <strong>de</strong>bate no seio da socieda<strong>de</strong> palestina sobre o<br />
inútil e imoral estímulo ao sacrifício <strong>de</strong> meninos para auto-imolação. Também <strong>de</strong>staca que se opõe<br />
aos atentados suicidas em todas suas formas e que até agora o envio <strong>de</strong> suicidas nunca havia<br />
envolvido crianças.<br />
Do seu ponto <strong>de</strong> vista, o atentado que Al Riashi [2] realizou não servirá como apoio aos<br />
trabalhadores palestinos, como justificou o Hamas, mas só os prejudica mais ainda. Após o atentado,<br />
Israel fechou a passagem <strong>de</strong> Erez e isso <strong>de</strong>ixou os operários jogados à sua sorte. Assim<br />
mesmo, a jornalista pe<strong>de</strong> ao povo palestino para superar suas dúvidas e negar-se claramente a este<br />
fenômeno espantoso.<br />
Num outro artigo <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> fevereiro, a mesma jornalista se esten<strong>de</strong>u em sua crítica e explica que<br />
se os palestinos querem <strong>de</strong>rrotar Israel, <strong>de</strong>verão viver e não morrer. Também reflexiona acerca da<br />
impossibilida<strong>de</strong> do governo palestino em enten<strong>de</strong>r que é sua responsabilida<strong>de</strong> coroar como<br />
heróis aos que permanecem com vida apesar <strong>de</strong> todas as dificulda<strong>de</strong>s, e não aos que se sacrificam.<br />
Mona El Tjawi vai além: Que os mais <strong>de</strong> 100 atentados suicidas não trouxeram ao povo<br />
palestino nenhum beneficio. Ainda assim, agrega também que os dirigentes palestinos só dizem a<br />
verda<strong>de</strong> a seu público só <strong>de</strong>pois que renunciam. Como exemplo cita o caso <strong>de</strong> Mohamed Dahlan<br />
que, só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> renunciar, <strong>de</strong>clarou que a situação dos palestinos era melhor antes da Intifada.<br />
Na mesma nota a jornalista <strong>de</strong>staca que muitos leitores lhe enviaram cartas carregadas <strong>de</strong> ódio em<br />
resposta ao seu artigo anterior, no qual se manifestou contrária a suicida Al Raishi, se bem que<br />
escolheu resumir as reações dos leitores que a apoiaram, um da Arábia Saudita e o outro da França.<br />
Resumindo: Nestes artigos ela também critica Israel e a “política <strong>de</strong> conquista”, mas aos<br />
leitores fica bem claro que a mensagem principal é o repudio aos atentados suicidas.<br />
[1] Jornalista egípcia radicada em Nova York. Trabalhou como correspon<strong>de</strong>nte da Reuters no<br />
Cairo e como representante <strong>de</strong>sta agência <strong>de</strong> notícias em Jerusalém durante um ano.<br />
[2] Primeira mulher suicida palestina que se matou em nome do Hamas, em fevereiro <strong>de</strong> 2004.<br />
Tinha filhos.<br />
Nos processos naturais (irreversíveis)<br />
a Entropia aumenta. Se admitirmos<br />
que o Universo seja um sistema<br />
isolado, a Entropia do Universo<br />
sempre aumentaria. (Conforme Fuke,<br />
Carlos e Kazuhito - Os Alicerces da<br />
Física - 1ª edição - Ed. Saraiva, 1988)<br />
E nós, Yehudi, com isso? Vamos<br />
tentar imaginar se a vida é um processo<br />
organizado ou <strong>de</strong>sorganizado.<br />
O que você acha? Talvez não sejam<br />
necessários muitos argumentos para<br />
convencê-lo que os processos vitais<br />
são altamente organizados, complexos,<br />
perfeitos, preparados, sábios, por<br />
que não dizer? E quanto à criativida<strong>de</strong>?<br />
Bem, então agora chegamos ao<br />
contraponto: os processos vitais, em<br />
sua constituição, negam o aumento<br />
da Entropia (que seria o aumento da<br />
“bagunça”). E isto está perfeitamente<br />
<strong>de</strong> acordo com as leis <strong>de</strong> D-us.<br />
Nos foi dado o livre-arbítrio. Nos<br />
foi dada a opção <strong>de</strong> imitarmos nosso<br />
D-us, <strong>de</strong> auxiliarmos em sua Obra Criadora,<br />
<strong>de</strong> sermos “realmente uma parte<br />
do D-us acima”. “LeChaim”! Viva a vida!<br />
A noção <strong>de</strong> Entropia (e aqui não<br />
a estamos <strong>de</strong>sfazendo, e sim, buscando<br />
trazer um conceito da Física) foi <strong>de</strong>senvolvida<br />
numa época em que a preocupação<br />
dos cientistas era a <strong>de</strong> estudar<br />
as condições através das quais o Calor<br />
po<strong>de</strong> ser convertido em Trabalho.<br />
O quanto <strong>de</strong> seu Calor, digo, do<br />
Calor <strong>de</strong> seus pensamentos, do Calor<br />
<strong>de</strong> seu coração, tem se convertido em<br />
Trabalho Divino? Com seu trabalho,<br />
com sua imaginação bem conduzida,<br />
com sua ação neste Mundo, po<strong>de</strong>mos<br />
melhorá-lo. Assim, com a sua criativida<strong>de</strong><br />
aplicada, elevando este Mundo,<br />
você estaria “negando” aquela lei<br />
do aumento da Entropia (bagunça).<br />
Entenda que tudo neste Mundo foi<br />
criado e está sob as Leis <strong>de</strong> D-us, e<br />
as leis da matéria, as leis científicas,<br />
não se opõem às leis morais, às leis<br />
judaicas. Qualquer contradição aparente<br />
é um ponto a <strong>de</strong>senvolvermos,<br />
pois como sabemos e acreditamos:<br />
“Ad’nai Eloh’nu, Ad’nai Ech’d”. (O Eterno<br />
é nosso D-us, o Eterno é Um). O<br />
fato é que D-us não só criou a maté-<br />
ria, mas o Homem, à sua semelhança.<br />
Conforme revelado a nosso<br />
Patriarca, Avraham, Avinu, Z”L, este<br />
abraçou a fé monoteísta, e construiu<br />
uma nação, para glorificar e aumentar<br />
a luz <strong>de</strong> D-us neste mundo.<br />
A dualida<strong>de</strong> Energia organizada<br />
versus Entropia é apenas uma outra<br />
forma <strong>de</strong> se colocar a questão do<br />
dualismo da Criação. Isto não foi à<br />
toa. Há o mundo “Olam” e há o Homem<br />
“Adam Kadmon”. Através <strong>de</strong>le,<br />
D-us quer que seja evitada a tendência<br />
ao caos, a tendência <strong>de</strong> aumento<br />
da Entropia. “Yetzer HaTov” sobrepujando<br />
“Yetzer Hará”. A boa inclinação<br />
superando a má inclinação. Como<br />
dizia um nobre Físico: “D-us não joga<br />
dados com o Universo”.<br />
Observe os fenômenos ao seu redor.<br />
As águas <strong>de</strong> um rio movimentam-se<br />
<strong>de</strong>vido a um <strong>de</strong>snível; o fluxo<br />
<strong>de</strong> água po<strong>de</strong> ser utilizado para gerar<br />
Trabalho e mover turbinas <strong>de</strong> usinas<br />
hidroelétricas ou mover moinhos.<br />
Você, meu amigo, não <strong>de</strong>ixe suas<br />
águas paradas, transforme-as em<br />
Energia; é isto o que quer nos dizer a<br />
Natureza. Entretanto, a mesma água,<br />
estando parada num lago, por exemplo,<br />
não é capaz <strong>de</strong> gerar trabalho,<br />
pois não há fluxo. Aqui se vê outra<br />
relação importante: a vida é fluxo, a<br />
vida é movimento. Lembrando daquela<br />
outra <strong>de</strong>finição: Trabalho é igual à<br />
Força vezes o Deslocamento. Portanto:<br />
entre no movimento da vida, <strong>de</strong>sloque-se,<br />
provoque a mudança, transforme<br />
o mundo: “Tikun Olam”, conforme<br />
dizem nossos sábios.<br />
Uma xícara <strong>de</strong> café quente <strong>de</strong>ixada<br />
sobre a mesa, esfria, isto é, entra<br />
em equilíbrio térmico com o meio<br />
ambiente, e <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> haver fluxo <strong>de</strong><br />
calor do café para o meio externo.<br />
Ao contrário disso, sejamos parte do<br />
fluxo que vem <strong>de</strong> D-us, contribuamos<br />
para aquecer nossos semelhantes<br />
e vice-versa.<br />
Shalom.