Liberdade de existir - Visão Judaica
Liberdade de existir - Visão Judaica
Liberdade de existir - Visão Judaica
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Foto: Arquivo Morashá<br />
20<br />
VISÃO JUDAICA • Março <strong>de</strong> 2004 • Adar/Nissan • 5764<br />
As <strong>de</strong>z tribos perdidas - 7<br />
Conheça os “Beta<br />
Israel”, os khazares<br />
e os lemba<br />
No século nono, havia um homem chamado<br />
Eldad ha-Dani, mercador e viajante ju<strong>de</strong>u que ia<br />
e vinha entre as comunida<strong>de</strong>s judaicas da Babilônia,<br />
Norte da África e Espanha. Deixou um registro<br />
<strong>de</strong> suas viagens, que constituem mais uma<br />
lenda que um fato, mas mesmo assim <strong>de</strong>spertou<br />
o interesse das pessoas. Eldad dizia ser um mercador<br />
e erudito, originário <strong>de</strong> um país ju<strong>de</strong>u in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />
situado a leste da África. Declarava<br />
categoricamente que seu país era o lar das Tribos<br />
Perdidas <strong>de</strong> Asher, Gad, Naftali e Dan, e que<br />
ele próprio era da Tribo <strong>de</strong> Dan. Seu nome, ha-<br />
Dani, significa da Tribo <strong>de</strong> Dan em hebraico.<br />
Eldad mencionava que em “Kush”, na África<br />
Oriental, on<strong>de</strong> é hoje a Etiópia, viviam muitos<br />
<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes da Tribo <strong>de</strong> Dan e <strong>de</strong> outras Tribos<br />
<strong>de</strong> Israel.<br />
É interessante notar que ainda hoje na Etiópia,<br />
vive um grupo ju<strong>de</strong>u chamado falashas. Sua<br />
pele é negra e chamam a si mesmos “Beta Israel”,<br />
que significa Casa <strong>de</strong> Israel em hebraico.<br />
Eles vêm seguindo os preceitos da Torá <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os<br />
tempos antigos, <strong>de</strong> maneira um tanto <strong>de</strong>sprendida.<br />
Os falashas na Etiópia falam o gez, uma língua<br />
com termos hebraicos e guardam o shabat. (o sábado).<br />
Tragicamente, muitos <strong>de</strong>les pereceram <strong>de</strong>vido<br />
à guerra civil e ás recentes secas na Etiópia,<br />
mas os remanescentes emigraram para Israel. Foram<br />
transportados em aviões fretados pelo governo<br />
<strong>de</strong> Israel em 1983 e 1991, em duas operações<br />
conhecidas como Moisés e Salomão. Aproximadamente<br />
90% dos Beta Israel vivem hoje em Israel.<br />
Os khazares<br />
Eldad ha-Dani mencionou também o reino <strong>de</strong><br />
Khazar, que estava localizado entre o Mar Negro<br />
e o Mar Cáspio. Declarou que muitas das Dez Tribos<br />
Perdidas <strong>de</strong> Israel vivem em Khazar. Por volta<br />
<strong>de</strong> 740, o rei e todo o povo dos khazares converteram-se<br />
todos ao judaísmo. Foi uma conversão<br />
nacional, e esta também é uma história bem<br />
conhecida entre os ju<strong>de</strong>us.<br />
Ainda <strong>de</strong> acordo com Eldad, vivem em Khazar<br />
três das Dez tribos Perdidas <strong>de</strong> Israel. Eram Reuven,<br />
Gad e meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Menashe. Eles eram aproximadamente<br />
300.000 pessoas do povo <strong>de</strong> Khazar.<br />
No século nono da Era Comum, José, o rei <strong>de</strong><br />
Khazar, escreveu: “(A capital <strong>de</strong> Khazar consiste<br />
<strong>de</strong> três cida<strong>de</strong>s e) na segunda cida<strong>de</strong> vivem os<br />
israelitas, os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Ismael, cristãos e<br />
o povo que fala outros idiomas.” Assim, é perfeitamente<br />
possível que algumas das Dez tribos Perdidas<br />
<strong>de</strong> Israel ainda vivam lá.<br />
Os ju<strong>de</strong>us negros da Etiópia viveram por séculos separados das outras<br />
comunida<strong>de</strong>s judaicas<br />
Origem e história dos<br />
ju<strong>de</strong>us etíopes remonta<br />
aos tempos do rei Salomão Vivem<br />
or quase 3.000 anos, os ju<strong>de</strong>us<br />
negros da Etiópia, conhecidos<br />
como falashas e<br />
que se auto-<strong>de</strong>nominam<br />
“Beta Israel” mantiveram sua fé<br />
e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> lutando contra a fome,<br />
a seca e as guerras tribais. Acreditase<br />
que eles faziam parte <strong>de</strong> uma das<br />
<strong>de</strong>z tribos perdidas, seus ancestrais<br />
remontando ao rei Salomão e à rainha<br />
<strong>de</strong> Sheba (Sabá).<br />
Em maio <strong>de</strong> 1991, os falashas protagonizaram<br />
um êxodo milagroso. Com<br />
a Etiópia envolvida em profunda e brutal<br />
guerra civil, 14.200 membros <strong>de</strong>ssa<br />
comunida<strong>de</strong> foram transportados <strong>de</strong><br />
avião para Jerusalém pelas Forças <strong>de</strong><br />
Defesa <strong>de</strong> Israel. Toda a operação <strong>de</strong><br />
salvamento durou 25 horas.<br />
O herói que i<strong>de</strong>alizou e organizou<br />
o incrível resgate foi o então embaixador<br />
<strong>de</strong> Israel na Etiópia, Asher<br />
Naim. A epopéia foi narrada no livro<br />
Saving the lost tribe (Salvando a tribo<br />
perdida), no qual Naim relata com<br />
humor e conhecimento <strong>de</strong> causa a<br />
ação que se tornou conhecida como<br />
Operação Salomão.<br />
No outono <strong>de</strong> 1990, quando foi<br />
nomeado pelo governo israelense<br />
para o cargo <strong>de</strong> embaixador em Adis<br />
Abeba, sua i<strong>de</strong>ntificação com os ju<strong>de</strong>us<br />
etíopes foi imediata. Ele queria<br />
dar continuida<strong>de</strong> à chamada Operação<br />
Moisés, iniciada em 1985 pelos<br />
israelenses com o apoio dos norte-americanos<br />
e que durante três anos, tentou<br />
tirar do país <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhares<br />
<strong>de</strong> falashas através do Sudão, levando-os<br />
<strong>de</strong> barco para Israel. O sucesso<br />
daquela operação foi relativo, pois na<br />
época, só oito mil pessoas conseguiram<br />
fugir; o restante adoeceu na viagem<br />
e muitos voltaram à Etiópia. Muitas<br />
famílias foram, assim, separadas.<br />
História dos falashas<br />
Em 1860, missionários britânicos<br />
que viajavam pela Etiópia foram os<br />
primeiros oci<strong>de</strong>ntais a encontrar a<br />
tribo dos falashas, ficando surpresos<br />
ao ver as faces queimadas com traços<br />
semitas e que praticavam o judaísmo.<br />
Os membros <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong><br />
observavam o shabat e mantinham<br />
rígidas leis rituais da forma<br />
como estão <strong>de</strong>scritas na Torá.<br />
Pouco tempo <strong>de</strong>pois, o estudioso<br />
ju<strong>de</strong>u Joseph Halevy <strong>de</strong>cidiu conhecê-los<br />
pessoalmente. Seria possível<br />
que esses ju<strong>de</strong>us fossem parte <strong>de</strong> uma<br />
das tribos <strong>de</strong> Israel, perdidas há muito,<br />
foragidas durante as <strong>de</strong>struições<br />
do Primeiro ou Segundo Templo? Halevy<br />
foi recebido com curiosida<strong>de</strong> e<br />
<strong>de</strong>sconfiança pelos nativos, que lhe<br />
perguntavam: O senhor, ju<strong>de</strong>u? Como<br />
po<strong>de</strong> ser ju<strong>de</strong>u? O senhor é branco!<br />
Mas quando Halevy mencionou a<br />
palavra Jerusalém, todos se convenceram.<br />
Os falashas haviam sido separados<br />
<strong>de</strong> outros ju<strong>de</strong>us por milhares<br />
<strong>de</strong> anos. Nenhum <strong>de</strong>les jamais saíra<br />
<strong>de</strong> seus vilarejos. No entanto, todos<br />
acalentavam um gran<strong>de</strong> sonho, vindo<br />
<strong>de</strong> gerações passadas: voltar para Jerusalém.<br />
Os ju<strong>de</strong>us da Etiópia sofriam<br />
as mesmas discriminações que os <strong>de</strong>mais,<br />
na diáspora.<br />
No início <strong>de</strong> 1970, havia um grupo<br />
organizado dos Beta-Israel que<br />
queria emigrar para Israel, apesar <strong>de</strong><br />
seus membros ainda não serem<br />
consi<strong>de</strong>rados ju<strong>de</strong>us àquela<br />
época, não tinham, portanto,<br />
direito a fazer aliá (imigração).<br />
Uma centena <strong>de</strong> falashas já vivia<br />
em Israel, on<strong>de</strong> começou<br />
um movimento li<strong>de</strong>rado por um<br />
iemenita ju<strong>de</strong>u nascido na Etiópia,<br />
Ovadia <strong>de</strong> Tzahala, que<br />
fizera aliá em 1930 e que tinha<br />
parentes entre os falashas.<br />
Por isso, pressionava-os a emigrar<br />
para Israel.<br />
hoje em<br />
Israel cerca <strong>de</strong> 70<br />
mil ju<strong>de</strong>us negros<br />
Operação Salomão<br />
Em 1990, enquanto as forças rebel<strong>de</strong>s<br />
avançavam contra o ditador<br />
etíope Mengistu Haile Mariam (conhecido<br />
como o açougueiro <strong>de</strong> Adis),<br />
foi ficando claro que os falashas seriam<br />
exterminados, a não ser que conseguissem<br />
<strong>de</strong>ixar o país pois eram<br />
muito discriminados. Asher Naim, excelente<br />
mediador, trabalhou em vários<br />
campos simultaneamente. Negociava<br />
com Mengistu, coor<strong>de</strong>nava logística<br />
e estratégias com os militares<br />
israelenses e arrecadava doações,<br />
freneticamente, através <strong>de</strong> contatos<br />
nos Estados Unidos.<br />
No dia 23 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1991, <strong>de</strong>cidiu<br />
que havia chegado a hora <strong>de</strong> convocar<br />
a Força Aérea Israelense: a<br />
Operação Salomão <strong>de</strong>via começar<br />
imediatamente. O ditador Mengistu<br />
aceitara as condições, mediante pagamento<br />
em espécie e impondo segredo<br />
absoluto.<br />
Diante da embaixada israelense,<br />
milhares <strong>de</strong> falashas se acotovelavam,<br />
prontos para partir. Os primeiros<br />
aviões israelenses aterrissaram no<br />
aeroporto <strong>de</strong> Adis Abeba e uma equipe<br />
<strong>de</strong> comandantes muito bem preparados<br />
se posicionou para proteger<br />
a missão a qualquer custo.<br />
No total, em pouco mais <strong>de</strong> um<br />
dia, 14.200 emigrantes<br />
foram levados para o aeroporto<br />
Ben-Gurion, em<br />
Tel Aviv. Trinta e cinco<br />
aviões militares e civis fizeram<br />
41 vôos. Em um<br />
dado momento, havia 28<br />
aviões no ar. Um dos Jumbos,<br />
que normalmente po<strong>de</strong>ria<br />
levar 500 passagei-<br />
Em duas operações<br />
"Moisés" (em 1983) e<br />
"Salomão" (em 1991)<br />
foram transferidos da<br />
Etiópia para Israel cerca<br />
<strong>de</strong> 90% dos falashas<br />
ros, transportou <strong>de</strong> uma<br />
só vez 1.087 pessoas,<br />
num feito anotado no livro<br />
<strong>de</strong> recor<strong>de</strong>s Guinness.