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Carl_Sagan_O_Mundo_Assombrado_pelos_Demonios

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como distinguir a ciência verdadeira da imitação barata. Ele não tinha idéia<br />

de como a ciência funciona.<br />

Há centenas de livros sobre Atlântida – o continente mítico que<br />

dizem ter existido há uns 10 mil anos no oceano Atlântico. (Ou em algum<br />

outro lugar. Um livro recente o localiza na Antártida.) A lenda remonta a<br />

Platão, que a relatou como uma história de eras remotas que lhe chegou aos<br />

ouvidos. Livros recentes descrevem com segurança o alto nível da tecnologia,<br />

dos costumes e da espiritualidade em Atlântida, bem como a grande tragédia<br />

que significa um continente povoado afundar nas ondas. Há uma Atlântida<br />

da “Nova Era”, “a lendária civilização de ciências avançadas”, voltada<br />

principalmente para a “ciência” dos cristais. Numa trilogia chamada Crystal<br />

Enlightenment, escrita por Katrina Raphaell – os livros que são os principais<br />

responsáveis pela mania de cristais nos Estados Unidos –, os cristais de<br />

Atlântida lêem a mente, transmitem pensamentos, são repositórios de<br />

história antiga, bem como o modelo e a fonte das pirâmides do Egito. Nada<br />

que chegue perto de alguma evidência é oferecido para confirmar essas<br />

afirmativas. (Talvez haja um ressurgimento da mania de cristais depois da<br />

recente descoberta, feita pela ciência verdadeira da sismologia, de que o<br />

núcleo interior da Terra pode ser composto de um único cristal imenso e<br />

quase perfeito – de ferro.)<br />

Alguns livros – Legends of the Earth, de Dorothy Vitaliano, por<br />

exemplo – interpretam com simpatia as lendas originais de Atlântida como<br />

uma pequena ilha no Mediterrâneo que foi destruída por uma erupção<br />

vulcânica, ou como uma antiga cidade que deslizou para dentro do golfo de<br />

Corinto depois de um terremoto. Pelo que sabemos, essa pode ser a origem<br />

da lenda, mas está muito longe da destruição de um continente onde surgira<br />

uma civilização mística e técnica sobrenaturalmente avançada.<br />

O que quase nunca encontramos – nas bibliotecas públicas, nas<br />

revistas das bancas de jornais e nos programas de horário nobre na televisão<br />

– é a evidência, fornecida pelo deslocamento do fundo do mar e pelo<br />

movimento das placas tectônicas, e também pelo mapeamento do fundo do<br />

oceano, mostrando de forma inequívoca a impossibilidade de ter existido um<br />

continente entre a Europa e as Américas num período que se aproxime da<br />

escala de tempo proposta.<br />

Os relatos espúrios que enganam os ingênuos são acessíveis. As<br />

abordagens céticas são muito mais difíceis de encontrar. O ceticismo não<br />

vende bem. Uma pessoa inteligente e curiosa, que se baseie inteiramente na<br />

cultura popular para se informar sobre uma questão como Atlântida, tem<br />

uma probabilidade centenas ou milhares de vezes maior de encontrar uma<br />

fábula tratada de maneira acrítica em lugar de uma avaliação sóbria e<br />

equilibrada.

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