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Carl_Sagan_O_Mundo_Assombrado_pelos_Demonios

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conseguiram encontrar um único que resistisse a um exame criterioso. Os<br />

terapeutas relatavam abusos nesses casos baseando-se apenas nas “revelações<br />

do paciente via hipnoterapia”, por exemplo, ou no “medo de símbolos<br />

satânicos”. Em certos casos, o diagnóstico foi feito com base no<br />

comportamento comum a muitas crianças. “Somente em alguns deles é que<br />

se mencionou evidência física – em geral, ‘cicatrizes’.” Mas na maioria das<br />

vezes as “cicatrizes” eram muito tênues ou nem sequer existiam. “Mesmo<br />

quando existiam, não ficou determinado se as próprias vítimas não as teriam<br />

causado”. Isso é também muito semelhante aos casos de rapto por<br />

alienígenas, conforme descrito mais adiante. George K. Ganaway, professor<br />

de psiquiatria na Universidade de Emory, propõe que “a causa comum mais<br />

provável de lembranças ligadas a cultos pode vir a ser um engano mútuo<br />

entre o paciente e o terapeuta”.<br />

Um dos casos mais espinhosos de “memória recuperada” de abusos<br />

cometidos em rituais satânicos foi narrado por Lawrence Wright num livro<br />

extraordinário, Remembering Satan (Knopf, 1994). Diz respeito a Paul Ingram,<br />

um homem que pode ter deixado que os outros arruinassem a sua vida por<br />

ser demasiado crédulo, demasiado sugestionável, demasiado inexperiente em<br />

ceticismo. Em 1988, Ingram era o principal dirigente do Partido Republicano<br />

em Olympia, Washington, além de ser o principal agente civil no<br />

departamento do xerife local, bem conceituado, muito religioso, e<br />

responsável por alertar as crianças sobre os perigos das drogas nas reuniões<br />

da escola. Sobreveio então o pesadelo, quando uma de suas filhas – depois de<br />

uma sessão altamente emocional num retiro religioso fundamentalista –<br />

dirigiu contra ele a primeira de muitas acusações, cada uma mais terrível que<br />

a outra, de que Ingram a teria atacado sexualmente, engravidado, torturado,<br />

iniciado em ritos satânicos, de que ele a teria oferecido a outros agentes do<br />

xerife, de que ele esquartejava e comia bebês... Isso vinha acontecendo desde<br />

a sua infância, afirmou ela, quase até o dia em que começou a se “lembrar” de<br />

tudo.<br />

Ingram não via razão para sua filha mentir – embora ele próprio não<br />

se recordasse de nada. Mas os investigadores da polícia, um psicoterapeuta e<br />

seu ministro na Igreja da Água Viva, todos lhe explicaram que os infratores<br />

sexuais com freqüência reprimem as lembranças de seus crimes.<br />

Estranhamente imparcial, mas ansioso por cooperar, Ingram tentou recordar.<br />

Depois de um psicólogo empregar uma técnica hipnótica de olhos fechados<br />

para induzir o transe, Ingram começou a visualizar algo semelhante ao que os<br />

policiais estavam descrevendo. O que lhe vinha à mente não pareciam<br />

recordações reais, mas algo que lembrava fragmentos de imagens no meio de<br />

uma neblina. Toda vez que produzia uma lembrança – de conteúdo cada vez<br />

mais odioso –, ele era estimulado e reforçado. Seu pastor lhe assegurou que

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