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Carl_Sagan_O_Mundo_Assombrado_pelos_Demonios

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Essas descobertas e milhares de outras que honram e caracterizam o<br />

nosso tempo, e algumas das quais devemos nossas vidas, foram feitas em<br />

última análise por cientistas que tiveram a oportunidade de explorar o que,<br />

em sua opinião, sob o escrutínio de seus pares, eram questões básicas da<br />

Natureza. As aplicações industriais, em que o Japão teve um desempenho tão<br />

bom nas últimas duas décadas, são excelentes. Mas elas são aplicações do<br />

quê? A pesquisa fundamental, a pesquisa no coração da Natureza, é o meio<br />

de adquirirmos o novo conhecimento que passa então a ser aplicado.<br />

Os cientistas têm a obrigação, especialmente quando solicitam<br />

grandes somas, de explicar com clareza e honestidade o objetivo de suas<br />

pesquisas. O Superacelerador a Supercondutores para Colisões (SSC) teria<br />

sido o principal instrumento no planeta para sondar a estrutura fina da<br />

matéria e a natureza do Universo primitivo. Seu preço era 10 a 15 bilhões de<br />

dólares. Foi cancelado pelo Congresso em 1993, depois de terem sido gastos<br />

mais ou menos 2 bilhões – a pior das alternativas. Mas o principal tema desse<br />

debate não foi, a meu ver, o declínio do interesse em apoiar a ciência. Poucos<br />

no Congresso compreendiam para que servem os modernos aceleradores de<br />

alta energia. Não servem para fabricar armas. Não têm aplicações práticas.<br />

Servem para algo que é chamado, inquietantemente, segundo muitos, “a<br />

teoria de tudo”. As explicações envolvem entidades chamadas quarks,<br />

atrativo, sabor, cor, etc., e dão a impressão de que os físicos estão fazendo<br />

gracinhas. O que ficou de toda essa história, pelo menos segundo alguns dos<br />

congressistas com que falei, é que “os nerds enlouqueceram” – o que acho um<br />

modo severo de descrever a ciência fundamentada na curiosidade. Ninguém<br />

dentre os que foram solicitados a pagar pelo projeto tinha a mais remota idéia<br />

do que fosse um bóson de Higgs. Li parte do material destinado a justificar o<br />

SSC. Ao final, nem tudo estava de todo ruim, mas não havia nada que de fato<br />

tratasse do objetivo do projeto num nível acessível a não-físicos inteligentes,<br />

mas céticos. Se estavam pedindo 10 ou 15 bilhões de dólares para construir<br />

uma máquina que não tem valor prático, os físicos deveriam, no mínimo,<br />

fazer um esforço extremamente sério, com gráficos deslumbrantes, metáforas<br />

e emprego competente da língua inglesa, para justificar a sua proposta. Mais<br />

do que má administração financeira, restrições orçamentárias e<br />

incompetência política, acho que essa foi a principal causa do fracasso do<br />

SSC.<br />

Há uma crescente visão de livre mercado do conhecimento humano,<br />

segundo a qual a pesquisa básica deve competir, sem apoio do governo, com<br />

todas as outras instituições e reivindicações da sociedade. Se não tivessem<br />

contato com o suporte governamental, e precisassem competir na economia<br />

de livre mercado de seu tempo, é improvável que qualquer um dos cientistas<br />

na minha lista tivesse conseguido realizar o seu trabalho pioneiro. E o custo

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