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Carl_Sagan_O_Mundo_Assombrado_pelos_Demonios

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gatilho mais rápido do Oeste”: o jovem que conseguisse sacar o revólver<br />

antes do velho e famoso pistoleiro herdaria a sua reputação e o respeito que<br />

inspirava. Era irritante, resmungou, mas ajudava a dirigir os jovens fedelhos<br />

para áreas importantes de pesquisa em que nunca teriam se aventurado<br />

sozinhos.<br />

Sendo humanos, os cientistas às vezes também se envolvem na<br />

falácia de selecionar as observações: gostam de se lembrar daqueles casos em<br />

que tinham razão e esquecer as vezes em que estavam errados. Mas, em<br />

muitos exemplos, o que está “errado” é parcialmente certo, ou estimula os<br />

outros a descobrir o que está certo. Um dos astrofísicos mais produtivos de<br />

nossos tempos é Fred Hoyle, responsável por contribuições monumentais<br />

para a compreensão da evolução das estrelas, da síntese dos elementos<br />

químicos, da cosmologia e de muito mais. Às vezes, ele teve êxito por estar<br />

certo, antes que os outros sequer compreendessem que alguma coisa<br />

precisava de explicação. Outras vezes, ele foi bem-sucedido por estar errado –<br />

por ser tão provocador, por sugerir alternativas tão escandalosas que os<br />

observadores e experimentalistas se sentiam obrigados a checá-las. Ora o<br />

esforço apaixonado e combinado de “provar que Fred está errado” tem<br />

fracassado, ora tem sido bem-sucedido. Em quase todos os casos, tem<br />

alargado as fronteiras do conhecimento. Mesmo as teses mais escandalosas<br />

de Hoyle – por exemplo, que o vírus da gripe e o HIV são despejados de<br />

cometas sobre a Terra, e que os grãos de poeira interestelar são bactérias –<br />

têm propiciado progressos significativos no conhecimento (embora não tenha<br />

surgido nada que fundamente essas noções em particular).<br />

Talvez fosse útil que os cientistas listassem de vez em quando<br />

alguns de seus erros. Isso poderia ter o papel instrutivo de iluminar e<br />

desmistificar o processo da ciência, e de esclarecer os cientistas mais jovens.<br />

Até Johannes Kepler, Isaac Newton, Charles Darwin, Gregor Mendel e Albert<br />

Einstein cometeram erros sérios. Mas o empreendimento científico<br />

providencia para que o trabalho de equipe prevaleça: o que um de nós, talvez<br />

o mais brilhante, deixa de perceber, outro de nosso grupo, até muito menos<br />

famoso e capaz, pode detectar e retificar.<br />

Quanto a mim, em livros anteriores me inclinei a relatar algumas<br />

das ocasiões em que estava com a razão. Que eu mencione neste livro alguns<br />

dos casos em que estava errado: numa época em que nenhuma nave espacial<br />

estivera em Vênus, pensei a princípio que a pressão atmosférica de lá fosse<br />

várias vezes superior à da Terra, e não muitas dezenas de vezes. Pensei que<br />

as nuvens de Vênus fossem constituídas principalmente de água, que na<br />

verdade representa apenas 25% de sua constituição. Pensei que havia placas<br />

tectônicas em Marte, quando as observações colhidas mais de perto pelas<br />

espaçonaves mostram que não há vestígio delas. Pensei que as altíssimas

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