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Carl_Sagan_O_Mundo_Assombrado_pelos_Demonios

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Talvez o sr. Buckley tivesse que saber ser mais cético a respeito das<br />

informações que lhe são fornecidas pela cultura popular. Mas, fora isso, é<br />

difícil achar que a falha é sua. Ele simplesmente aceitou o que as fontes de<br />

informação mais difundidas e acessíveis diziam ser verdade. Por<br />

ingenuidade, foi sistematicamente enganado e ludibriado.<br />

A ciência desperta um sentimento sublime de admiração. Mas a<br />

pseudociência também produz esse efeito. As divulgações escassas e<br />

malfeitas da ciência abandonam nichos ecológicos que a pseudociência<br />

preenche com rapidez. Se houvesse ampla compreensão de que os dados do<br />

conhecimento requerem evidência adequada antes de poder ser aceitos, não<br />

haveria espaço para a pseudociência. Mas na cultura popular prevalece uma<br />

espécie de Lei de Gresham, segundo a qual a ciência ruim expulsa a boa.<br />

Em todo o mundo, existe um enorme número de pessoas<br />

inteligentes e até talentosas que nutrem uma paixão pela ciência. Mas essa<br />

paixão não é correspondida. Os levantamentos sugerem que 95% dos norteamericanos<br />

são “cientificamente analfabetos”. A porcentagem é exatamente<br />

igual à de afro-americanos, quase todos escravos, que eram analfabetos<br />

pouco antes da Guerra Civil – quando havia penalidades severas para quem<br />

ensinasse um escravo a ler. É claro que existe um grau de arbitrariedade em<br />

qualquer determinação de analfabetismo, quer ele se aplique à língua, quer à<br />

ciência. Mas qualquer índice de analfabetismo próximo de 95% é grave.<br />

Toda geração se preocupa com o declínio dos padrões educacionais.<br />

Um dos ensaios curtos mais antigos, escrito na Suméria há 4 mil anos,<br />

lamenta que os jovens sejam desastrosamente mais ignorantes do que a<br />

geração imeditatamente anterior. Há 2400 anos, o idoso e rabugento Platão,<br />

no livro VII das Leis, deu a sua definição de analfabetismo científico:<br />

Aquele que não sabe contar um, dois, três, nem distinguir os números<br />

ímpares dos pares, ou que não sabe contar coisa alguma, nem a noite nem<br />

o dia, e que não tem noção da revolução do Sol e da Lua, nem das outras<br />

estrelas [...]. Acho que todos os homens livres devem estudar esses ramos<br />

do conhecimento tanto quanto ensinam a uma criança no Egito, quando<br />

ela aprende o alfabeto. Naquele país, os jogos aritméticos foram<br />

inventados para ser empregados por simples crianças, e elas os aprendem<br />

como se fosse prazer e diversão [...]. Com espanto, eu [...] no final da vida,<br />

tenho tomado conhecimento de nossa ignorância sobre essas questões;<br />

acho que parecemos mais porcos do que homens, e tenho muita vergonha,<br />

não só de mim mesmo, mas de todos os gregos.<br />

Não sei até que ponto a ignorância em ciência e matemática<br />

contribuiu para o declínio da Atenas antiga, mas sei que as conseqüências do<br />

analfabetismo científico são muito mais perigosas em nossa época do que em<br />

qualquer outro período anterior. É perigoso e temerário que o cidadão médio

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