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A interpretação das culturas - Identidades e Culturas

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110 CAPÍTULO SEIS<br />

mais sofisticados e infinitamente mais penetrantes. Em seu seminal ensaio sobre "Ideologia e Civilid<br />

por exemplo, Edward Shils esboça um retraio da "postura ideológica" que é, se isso é possível, ainda<br />

sombrio que o de Stark. 6 Surgindo numa "variedade de formas, cada uma delas alegando ser a única'<br />

fascismo italiano, o nacional-socialismo alemão, o bolchevismo russo, o comunismo francês e italis<br />

Action Française, a British Union of Fascists e "o seu novato parente norte-americano, o 'macarthismo<br />

morreu na infância" — essa postura "circundou e invadiu a vida pública nos países ocidentais dura<br />

século XIX e o século XX... ameaçando alcançar a dominação universal". Ela consiste, em seu ponto<br />

central, no "pressuposto de que a política deve ser conduzida do ponto de vista de um conjunto de cri<br />

coerentes, abrangentes, que deve superar qualquer outra consideração". Como a política que apoia,<br />

dualista, opondo o puro "nós" ao perverso "eles" e proclamando que aquele que não está comigo está c<br />

mim. Ela é alienante pelo fato de desconfiar, atacar e trabalhar para destruir instituições políticas estabi<br />

<strong>das</strong>. É doutrinária pelo fato de reclamar a posse completa e exclusiva da verdade política e abomi<br />

diálogo. É totalista em seu objetivo de ordenar toda a vida social e cultural à imagem dos seus i(<br />

futurista pelo fato de trabalhar por um fim utópico da história, no qual se realizará tal ordenação. Resi<br />

do, ela não é a espécie de prosa que qualquer bom burguês (ou qualquer bom democrata) admitiria fa<br />

Mesmo em níveis ainda mais abstratos e teóricos, onde a preocupação é mais puramente conceptual<br />

desaparece a noção de que o termo "ideologia" se aplica às perspectivas dos que são "rígidos em<br />

opiniões e estão sempre errados". Na análise mais recente do Paradoxo de Mannheim feita por T;<br />

Parsons, por exemplo, os "desvios da objetividade científica [social]" emergem como "o" critério esse<br />

de uma ideologia: "O problema da ideologia surge quando existe uma discrepância entre o que se acrei<br />

o que pode ser [estabelecido como] cientificamente correto." 7 Os "desvios" e "discrepâncias" envol 1<br />

são de duas espécies gerais. Primeiramente, onde a ciência social, modelada, como todo pensamento, j<br />

valores gerais da sociedade em que está contida, é seletiva na espécie de questões que formula, nos pr<br />

mas particulares que escolhe abordar e assim por diante, as ideologias estão sujeitas a uma nova seletivi<br />

"secundária", cognitivamente mais perniciosa pelo fato de enfatizar alguns aspectos da realidade soei<br />

por exemplo, aquela realidade revelada pelo conhecimento científico social em curso — e negligencia c<br />

mesmo suprime outros aspectos. "Assim, por exemplo, a ideologia dos negócios exagera substancialme<br />

contribuição dos homens de negócios ao bem-estar nacional e diminui a contribuição dos cientistas e pi<br />

sionais liberais. E na ideologia em curso do 'intelectual', a importância <strong>das</strong> 'pressões à conformidadi<br />

social é exagerada e são ignorados ou diminuídos os fatores institucionais da liberdade do indivíduo.'<br />

segundo lugar, o pensamento ideológico, não contente com a simples superseletividade, positivamente<br />

torce até mesmo os aspectos da realidade social que reconhece, distorção que só se torna evidente quani<br />

afirmações envolvi<strong>das</strong> são coloca<strong>das</strong> contra o pano de fundo <strong>das</strong> descobertas autoriza<strong>das</strong> da ciência se<br />

"O critério da distorção está no fato de que as declarações são feitas a respeito de urna sociedade, o que<br />

ser demonstrado positivamente como erro pelos métodos científicò-sociais, enquanto a seletividade<br />

envolvida onde as declarações são 'verdadeiras' em seu nível adequado, mas não constituem um r<br />

equilibrado da verdade disponível." Não parece que exista, porém, aos olhos do mundo, uma larga mai<br />

de escolha entre estar positivamente errado e apresentar um relato não-equilibrado da verdade dispor<br />

Aqui, também, a ideologia surge como um rio de águas muito sujas.<br />

6 E. Shils, "Ideology and Civility: On the Politics of the Intelectual", The Sewanee Review, 66 (1958): 450-480.<br />

7 T. Parsons, "An Approach to the Sociology of Knowledge", Transactions ofthe Fourth World Congress of Sociology (M<br />

Stressa, 1959), pp. 25-49. Grifos no original.

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