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A interpretação das culturas - Identidades e Culturas

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CAPÍTULO 7<br />

A POLÍTICA DO SÍGNIFICÃDÒ<br />

[Uma <strong>das</strong> coisas que quase todo mundo conhece mas não sabe muito bem como demonstrar é que a política<br />

|è um país reflete o modelo de sua cultura. Num dos níveis, a proposição é indubitável — onde mais poderia<br />

(existir a política francesa, senão na França? Entretanto, afirmar isso é levantar dúvi<strong>das</strong>. Desde 1945 a Indonésia<br />

Item sido sucessivamente uma revolução, uma democracia parlamentar, uma guerra civil, uma autocracia prejsidencial,<br />

um assassinato em massa e uma dominação militarista. Nisso tudo, onde está o modelo?<br />

Na corrente de acontecimentos que formam a vida política e a teia de crenças que a cultura abarca é difícil<br />

(encontrar um meio-termo. De um lado, tudo parece um amontoado de esquemas e surpresas: de outro, uma<br />

(vasta geometria de julgamentos estabelecidos. É extremamente obscuro o que une esse caos de incidentes a<br />

(esse cosmos de sentimentos, e como formulá-lo torna-se ainda mais obscuro. Acima de tudo, o que a tentai<br />

de ligar a política à cultura precisa é de uma perspectiva menos ansiosa da primeira e uma perspectiva<br />

Imenos estética da última.<br />

Nos diversos ensaios que formam a Culture and Politics in Indonésia, foi assumida a espécie de recons-<br />

(trução teórica necessária para produzir tal mudança de perspectiva por parte de Benedict Anderson e Taufik<br />

(Àbdulah, principalmente do lado cultural, e de Daniel Lev e G. William Liddle, principalmente do lado<br />

(político, e da parte de Sartono Kartodirdjo mais ou menos igualmente de ambos os lados. 1 Quer o assunto<br />

(seja a lei ou a organização partidária, a ideia javanesa de poder ou a ideia minangkabau da mudança, do<br />

(conflito étnico ou do radicalismo rural, o esforço é o mesmo: tornar a vida política indonésia inteligível<br />

(olhando-a, mesmo em sua forma mais errática, como informada por um conjunto de concepções — ideais,<br />

(hipóteses, obsessões, julgamento — deriva<strong>das</strong> de preocupações que a transcendem de longe, e dar realidade<br />

(a essas concepções encarando-as como tendo existência não em algum mundo diáfano de formas mentais,<br />

Imas na imediação concreta da luta facciosa. A cultura, aqui, não são cultos e costumes, mas as estruturas de<br />

(significado através <strong>das</strong> quais os homens dão forma à sua experiência, e a política não são golpes e constitui-<br />

(ções, mas uma <strong>das</strong> principais arenas na qual tais estruturas se desenrolam publicamente. Com essa reformulação<br />

<strong>das</strong> duas — cultura e política — passa a ser um empreendimento mais praticável determinar a conexão<br />

(entre elas, embora a tarefa não seja modesta.<br />

A razão pela qual o empreendimento é imodesto ou, de qualquer modo, particularmente temerário, é não<br />

(existir praticamente qualquer aparato teórico para conduzi-lo: todo esse campo — como o chamaremos?<br />

1'Cf. C. Holt, org., Culture and Politics in Indonésia (Ithaca, 1972), no qual o presente ensaio surgiu primeiro como um "posfácio",<br />

n. 319-336.

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