18.06.2013 Views

A interpretação das culturas - Identidades e Culturas

A interpretação das culturas - Identidades e Culturas

A interpretação das culturas - Identidades e Culturas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

154 CAPÍTULO OITO<br />

Mais uma vez, contudo, essas relações não são percebi<strong>das</strong> exatamente como tais; elas só são apreendi<strong>das</strong><br />

através da mediação de formulações culturais sobre elas. Sendo formula<strong>das</strong> culturalmente, seu caráter preciso<br />

difere de uma sociedade para outra, como difere o inventário dos padrões culturais existentes; ele difere também<br />

de situação para situação dentro de uma única sociedade, como padrões diferentes entre a pluralidade dos<br />

padrões existentes que são considerados suficientemente satisfatórios para serem aplicados. Diferem ainda de<br />

ator para ator dentro de situações semelhantes, na medida em que os hábitos idiossincráticos, as preferências e<br />

as interpretações exercem influência. Não existem realmente experiências sociais límpi<strong>das</strong> de qualquer importância<br />

na vida humana, pelo menos além da infância. Tudo é manchado com um significado imposto e os<br />

companheiros, como os grupos sociais, as obrigações morais, as instituições políticas ou as condições ecológicas,<br />

só são apreendidos através de uma tela de símbolos significantes que constituem os veículos de sua<br />

objetificação, uma tela que está, portanto, muito longe de ser neutra no que se refere à sua natureza "real". Os<br />

consócios, os contemporâneos, os precedessores e os sucessores tanto nascem como são feitos. 6<br />

As Ordens Balinesas da Definição-Pessoa<br />

Em Bali 7 há seis tipos de rótulos que uma pessoa pode aplicar a uma outra a fim de identificá-la como um<br />

indivíduo único e que desejo levar em consideração contra esse pano de fundo conceptual geral: (1) nomes<br />

pessoais; (2) nomes na ordem de nascimentos; (3) termos de parentesco; (4) tecnônimos; (5) títulos de status<br />

(chamados comumente "nomes de casta" na literatura sobre Bali); e (6) títulos públicos, com os quais quero<br />

indicar os títulos semi-ocupacionais utilizados pelos chefes, governantes, sacerdotes e deuses. Esses vários<br />

rótulos não são empregados simultaneamente, na maioria dos casos, mas usados alternativamente, dependendo<br />

da situação e, às vezes, do indivíduo. Essas não são to<strong>das</strong> as espécies de rótulos que são usa<strong>das</strong>, mas<br />

são as únicas geralmente reconheci<strong>das</strong> e aplica<strong>das</strong> regularmente. Como cada tipo consiste não numa mera<br />

coleção de etiquetas úteis, mas num sistema terminológico distinto e limitado, passo a me referir a eles como<br />

as "ordens simbólicas da definição-peesoa" e a considerá-los primeiro em série e só mais tarde como um<br />

amontoado mais ou menos coerente...<br />

NOMES PESSOAIS<br />

A ordem simbólica definida pelos nomes pessoais é a mais simples de descrever porque é a menos complexa<br />

em termos formais e a menos importante em termos sociais. Todos os balineses têm nomes pessoais, mas<br />

6 É justamente nesse aspecto que a formulação consócio-contemporâneo-predecessor-sucessor difere criticamente de pelo menos<br />

algumas versões da formulação umwelt-mitwelt-vorwelt-vogelwelt da qual se origina, pois não existe aqui a questão <strong>das</strong> decisões<br />

apodíticas da "subjetividade transcendental" à Ia Husserl, mas, ao contrário, "formas de compreensão" desenvolvi<strong>das</strong> sócio-psicologicamente<br />

e historicamente transmiti<strong>das</strong>, à Ia Weber. Para uma discussão extensa, embora um tanto indecisa, desse contraste, cf. M.<br />

Merleau-Ponty, "Phenomenology and the Sciences of Man", em seu The Primacy ofPerception (Evanston, 1964), pp. 43-55.<br />

7 Na discussão subsequente, serei forçado a esquematizar drasticamente as práticas balinesas e a representá-las como muito mais<br />

homogéneas e bastante mais consistentes do que elas são realmente. Particularmente as afirmativas categóricas, tanto da variedade<br />

positiva como negativa ("Todos os balineses..."; "Nenhum balinês...") devem ser li<strong>das</strong> como tendo afixada a elas a qualificação<br />

implícita "...até onde vai meu conhecimento" e muitas vezes até, como pontas em ferraduras, com relação a exceções considera<strong>das</strong><br />

"anormais". Etnograficamente, podem ser encontra<strong>das</strong> apresentações dos dados aqui resumidos em H. e C. Geertz, "Teknonymy<br />

in Bali: Parenthood, Age-Grading and Genealogical Amnésia", Journal ofthe RoyalAnthropological Institute, 94 (1964): pp. 94-<br />

108; C. Geertz, "Tihingan: A Balinese Village", Bijdragen tot de taalland-en volkenkunde, 120 (1964): 1-33; e C. Geertz, "Form<br />

andVariationinBalinese Village Structure", American Anthmpologist, 61 (1959): pp. 991-1012.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!