18.06.2013 Views

A interpretação das culturas - Identidades e Culturas

A interpretação das culturas - Identidades e Culturas

A interpretação das culturas - Identidades e Culturas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A IDEOLOGIA COMO SISTEMA CULTURAL 121<br />

cujo entrelaçamento se originam tanto o poder expressivo como a força retórica do símbolo final. Esse<br />

entrelaçamento é em si mesmo um processo social, uma ocorrência não "na cabeça", mas naquele mundo<br />

político onde "as pessoas falam umas com as outras, dão nome às coisas, fazem afirmativas e, num certo<br />

grau, compreendem umas às outras". 31 O estudo da ação simbólica é não menos uma disciplina sociológica<br />

do que o estudo dos pequenos grupos, <strong>das</strong> burocracias ou da mudança no papel da mulher norte-americana<br />

— só é muito menos desenvolvido.<br />

Formular a questão que a maioria dos estudiosos da ideologia deixa de formular — o que queremos dizer,<br />

precisamente, quando afirmamos que as tensões sócio-psicológicas são "expressas" em formas simbólicas?<br />

— leva-nos, diretamente, a águas muito profun<strong>das</strong>, na verdade a uma teoria um tanto não tradicional e<br />

aparentemente paradoxal da natureza do pensamento humano como atividade pública e não particular, pelo<br />

menos não fundamentalmente. 32 Os detalhes de tal teoria não podem ser discriminados aqui e nem se pode<br />

colocar em ordem qualquer quantidade significativa de evidências para apoiá-la. Todavia, é preciso esboçar<br />

os seus contornos gerais se queremos encontrar nosso caminho e sair do mundo ilusório dos símbolos e do<br />

processo semântico para o mundo (aparentemente) mais sólido dos sentimentos e <strong>das</strong> instituições, se queremos<br />

reconstituir com alguma circunstancialidade os modos de interpenetração da cultura, da personalidade<br />

e do sistema social.<br />

A teoria definidora dessa espécie de abordagem do pensamento en plein air — a que, seguindo Galanter<br />

e Gerstenhaber, podemos chamar de "teoria extrínseca" — é que o pensamento consiste na construção e<br />

manipulação dos sistemas simbólicos que são empregados como modelos de outros sistemas — físico,<br />

orgânico, social, psicológico e assim por diante — numa forma tal que a estrutura desses outros sistemas é,<br />

por assim dizer, "compreendida" — e, na melhor <strong>das</strong> hipóteses, como se pode esperar que eles se comportem.<br />

33 Pensar, conceituar, formular, compreender, entender, ou o que quer que seja consiste não em acontecimentos<br />

fantasmagóricos na cabeça, mas em combinar os estados e processos dos modelos simbólicos com<br />

os estados e processos do mundo mais amplo:<br />

O pensamento imaginário nada mais é do que construir uma imagem do ambiente, fazendo o modelo correr mais<br />

depressa do que o ambiente e predizendo que o ambiente se comportará segundo o modelo... O primeiro passo para a<br />

solução de um problema consiste na construção de um modelo ou imagem dos "aspectos relevantes" do [ambiente].<br />

Esses modelos podem ser construídos a partir de muitas coisas, inclusive partes do tecido orgânico do corpo, e pelo<br />

homem, por papel e lápis ou artefatos verdadeiros. Uma vez construído o modelo, ele pode ser manipulado sob várias<br />

condições e repressões hipotéticas. O organismo é então capaz de "observar" o resultado dessas manipulações e<br />

projetá-las no ambiente, de forma a tornar possível a predição. De acordo com essa perspectiva, um engenheiro<br />

aeronáutico está pensando, quando manipula o modelo de um novo avião, num túnel aerodinâmico. O motorista está<br />

pensando, quando corre o dedo sobre uma linha no mapa, servindo o dedo como modelo dos aspectos relevantes do<br />

31 Percy, "Symbolic Stracture".<br />

ÍJ G. Ryle, The Concept ofMind (Nova York, 1949).<br />

!3 E. Galanter e M. Gerstenhaber, "On Thought: The Extrinsic Theory", Psychol. Rev., 63 (1956): pp. 218-227.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!