F O T O G R A F I - Arquivo Nacional
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R V O<br />
Se o traçado é estreito e acanhado, o<br />
paisagismo da cidade, castigada pelo<br />
calor, é igualmente precário:<br />
"Onde achar o fresco, a brisa, a sombra?<br />
não há árvores, não há galerias<br />
nas grandes praças. O largo do Faço,<br />
que se estende ao longo da baia, não<br />
passa de um lugar árido, calcinante,<br />
sem um arbusto, sem uma simples cobertura.<br />
Apenas o chafariz dá a sombra<br />
de um homem e o refrigério de suas<br />
águas'. ,e<br />
A oposição progresso x atraso' apare<br />
ce claramente indicada ao longo de todo<br />
o capítulo sobre a cidade. Progresso -<br />
por sinal, mais reclamado do que cons<br />
tatado - é, por exemplo, a iluminação a<br />
gás que invade tudo: na capital do Impé<br />
rio, 'o bico irradia; o candieiro agoni<br />
za". 17<br />
Já o atraso... Esse aparece por todo o<br />
lado: no 'esgoto que mata a cidade', na<br />
presença da escravidão e no serviço dos<br />
tigres' (escravos encarregados do des<br />
pejo dos barris de águas servidas e ma<br />
térias fecais), no serviço médico, na<br />
ausência de jardins públicos e monu<br />
mentos, etc. Atraso, também, é a tradi<br />
ção portuguesa e a arquitetura herdada<br />
do período colonial. O tom é irônico:<br />
"Aqui, as antigas ruas conservam a sua<br />
fisionomia primitiva, atèo nome profissional.<br />
São como arquivos de memória.<br />
A pedra fala, e as legendas são quase<br />
todas em português' (...). "Estudai os<br />
hábitos, as tradições, os costumes e,<br />
diga o que disser a Constituição,<br />
achareis por toda parte o mesmo cunho,<br />
a mesma lei. O brasileiro reina. O<br />
português governa'. 1 "<br />
Mais adiante, contudo, para tratar das<br />
igrejas, hospitais, palácios, teatros e<br />
monumentos, o tom é de menosprezo<br />
pela arquitetura mais expressiva da ci<br />
dade:<br />
"Por onde começar ? Oratórios, capelas,<br />
igrejas. Aqui abundam os sinos.<br />
Contam-se mesmo, o que é razoável,<br />
templos protestantes. Como arquitetura,<br />
escultura, obras de arte, que haverá<br />
que estudar nessas basílicas ? Elas são<br />
em geral carregadas de ouro, faustosas,<br />
ricamente dotadas. Mas nenhuma delas<br />
apresenta as grandes formas monumentais.<br />
Mão se depara nelas, em pleno<br />
viço, nem a ogiva nem a linha grega.<br />
Messes edifícios, a disposição e a divisão<br />
são as mesmas; e graças a essa<br />
uniformidade de plano, pode-se dizer<br />
que no Brasil - filho de Portugal - só<br />
existe uma igreja: a igreja barrominicana.<br />
Uma fachada com pequeno frontal e<br />
pórtico algumas vezes esculpido. Por<br />
cima, duas torres quadradas, demasiado<br />
baixas, que não falam ao céu, nem<br />
pela flecha, nem pelas cúpulas . Depois,<br />
ao longo da construção, a nave,<br />
que segue em varias curvas até a ábside.<br />
De um e outro lado, as capelas, sem<br />
profundeza, apenas interrompendo a<br />
linha mestra. Eis a igreja .'' 9<br />
Depois de mencionar as oito freguesias<br />
do Rio e suas igrejas, sem grandes admi<br />
rações, Ribeyrolles esclama um único<br />
elogio: "que explêndido pedestal esse<br />
outeiro da Glória!" 20 Justamente a igreja<br />
que aparece centralizando uma das vis<br />
tas de Victor Frond, denominada "A Gló<br />
ria" (há ainda um "panorama do Rio de<br />
Janeiro" onde o Mosteiro de Sáo Bento<br />
centraliza a imagem). E só.<br />
Acervo, Rio de Janeiro, v. 6, n" 1-2. p. 87-98, jan/dez 1993 - pag. 95