F O T O G R A F I - Arquivo Nacional
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R V O<br />
são espetacular, onde questiona exata<br />
mente o 'fetiche da objetividade'<br />
construído em torno da fotografia desde<br />
o seu aparecimento . 3<br />
Com a sucessão de tempos perpetuados<br />
pelo obturador, a fotografia contribuiu<br />
para reforçar a idéia de tempo linear e<br />
sucessivo subjacente às teorias sociais<br />
do século XIX, onde se inclui a constitui<br />
ção da própria história enquanto disci<br />
plina. Uma história que, por sinal, passa<br />
a afirmar sua cientificidade, entre ou<br />
tros meios, pela 'verdade absoluta' das<br />
fontes documentais .<br />
Diante da transformação dos suportes<br />
da memória coletiva em documentos<br />
com valor de "prova" do tempo passado<br />
na história das sociedades, a fotografia<br />
passou a ser encarada como 'testemu<br />
nho' por excelência da evolução do tem<br />
po e, por extensão, das sociedades .<br />
Este fenômeno foi tão abrangente e di<br />
fundido no mundo, a partir de meados<br />
do século XIX, quanto o foram as própri<br />
as imagens produzidas pela fotografia a<br />
partir de então. Contudo, as relações<br />
entre Fotografia e História, em cada épo<br />
ca e lugar, manifestam-se em sua<br />
especificidade sempre em consonância<br />
com a dinâmica própria de cada socie<br />
dade .<br />
Partindo destas considerações, podemos<br />
então pensar numa 'preocupação com a<br />
história' a partir da produção fotográfi<br />
ca realizada no Brasil durante o século<br />
XIX, particularmente se observarmos que<br />
essa época assinala também o floresci<br />
mento de uma produção historiográfica<br />
nacional' que não deixou de recorrer<br />
às imagens - palpáveis e também simbó<br />
licas - na construção de uma determina<br />
da 'imagem' da nação brasileira e de<br />
seu processo histórico até então .<br />
neste horizonte mais amplo (o nosso<br />
'pano de fundo') é que se pretende<br />
focalizar o objeto deste ensaio: a cidade<br />
do Rio de Janeiro e seu passado coloni<br />
al, tal como isto foi visto e apresentado<br />
na segunda metade do século XIX . Em<br />
outros termos, poder-se-ia indagar como<br />
os indivíduos dessa época viram as re-<br />
miniscências daquela outra época (o<br />
Brasil colonial) no espaço da cidade e de<br />
que modo a fotografia contribuiu para a<br />
produção, em tal contexto, de uma 'vi<br />
são' particular da cidade e de sua histó<br />
ria.<br />
RIO DE JANEIRO: IMAGENS DA<br />
CIDADE COLONIAL<br />
Rio de Janeiro tem algumas caracterís<br />
ticas importantes para o exercício desta<br />
análise sobre o papel da fotografia na<br />
Oconstrução de uma 'memória<br />
da cidade'. Tendo funcionado<br />
como sede da administração co<br />
lonial (a partir de 1763) e, em seguida,<br />
dos governos imperial (1822 - 1889) e<br />
republicano (1889 -1960), a cidade com<br />
binou a condição de centro político e<br />
administrativo do país por quase dois<br />
séculos, com a posição de eixo conver<br />
gente e difusor da cultura brasileira. Daí<br />
sua importância como síntese e emble<br />
ma da vida nacional.<br />
Por outro lado, a enorme beleza natural<br />
do Rio, sempre decantada em prosa,<br />
verso e imagens por artistas e viajantes<br />
de todas as épocas, era (e ainda é) tema<br />
constante daqueles que se dispuseram<br />
Acervo. Rio de Janeiro, v. 6, n* 1-2. p. 87-98. jan/dez 1993 - pag. 89