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F O T O G R A F I - Arquivo Nacional

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A C E<br />

a 'registrar' a cidade, o seu cenário e a<br />

sua história, do descobrimento aos dias<br />

atuais ,<br />

Mas, curiosa ironia, tanta beleza foi tam­<br />

bém motivo para um certo desencanto<br />

com a cidade, particularmente entre<br />

aqueles que a observaram no século<br />

passado. Pois, se o Rio dos panoramas -<br />

tomados à distância - provocava excla­<br />

mações e grande deslumbramento com<br />

a paisagem que se descortinava, o cená­<br />

rio visto de perto (e de dentro) gerou<br />

relatos, crônicas e imagens de uma cida­<br />

de 'atrasada' e 'insalubre', em perver­<br />

sa contradição com seus dotes naturais.<br />

Um desses observadores, o francês<br />

Charles Expilly, em sua obra Le Brésil tel<br />

qu'il est, de 1862, antes mesmo de ter se<br />

decepcionado com a falta de desembar-<br />

cadouro na cidade, a 'pobreza não es­<br />

perada' e o odor nauseabundo<br />

corrompendo' a atmosfera local, já ex­<br />

primia, numa figura de linguagem, o<br />

desencanto com o contraste que domi­<br />

nava a paisagem local:<br />

"Esse amontoado de campanários dourados,<br />

de torres, de tetos, de cúpulas<br />

sem caráter sério è, sem dúvida, atraente,<br />

mas não encanta o olhar. A moldura<br />

é bela demais, resplandecente<br />

demais, para que a tela tenha seu efeito"<br />

.*<br />

Aqui é preciso destacar também o papel<br />

da arquitetura nesse contexto, entendi­<br />

da como elemento simbólico das rela­<br />

ções que, ao mesmo tempo, cristalizam<br />

e renovam a interação dos homens com<br />

o espaço de sua inserção social . "Mais<br />

do que só abrigar variadas funções da<br />

atividade humana, os edifícios, através<br />

pag. 90.jan/dez 1993<br />

de suas formas, caracterizam-se como<br />

símbolos dessas mesmas funções" 5 ,<br />

observaram as autoras de um estudo<br />

exploratório sobre as relações entre ar­<br />

quitetura e fotografia, publicado na co­<br />

letânea de textos organizada pela pro­<br />

fessora Annateresa Fabris e intitulada<br />

Fotografia: usos e funções no século XIX.<br />

Mo texto que apresentam, Maria Cristina<br />

W. de Carvalho e Silvia F.S. Wolff anali­<br />

sam o intercâmbio entre esses dois cam­<br />

pos tão expressivos da vida social, numa<br />

época em que a novidade representada<br />

pela fotografia e suas variadas aplica­<br />

ções interagiu de modo particularmente<br />

intenso com o acelerado processo de<br />

mudanças e novas definições no campo<br />

da arquitetura .<br />

Messe processo, fotografia e arquitetura<br />

tornaram-se aliadas, investigando o pas­<br />

sado através de seus monumentos, do­<br />

cumentando técnicas e construções do<br />

presente, explorando a paisagem natu­<br />

ral e urbana .<br />

'Num universo ilimitado de arquiteturas<br />

a serem fotografadas, o fotógrafo<br />

do século XIX trabalhou com diligência<br />

para construir suas imagens de acordo<br />

com o que entendia dever ressaltar:<br />

das vistas globais da paisagem, onde o<br />

edifício estava inserido, ao pequeno<br />

detalhe ornamental, é recorrente sua<br />

determinação em reproduzir e bem informar.<br />

Também no caráter dessas<br />

abordagens reside aquilo que distingue<br />

as fotografias de arquitetura do século<br />

XIX daquelas deste século, nessas imagens<br />

mais recentes, uma mudança de<br />

sensibilidade e intenções, novas pesquisas<br />

e explorações visuais farão das<br />

formas arquitetônicas pretextos para

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