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F O T O G R A F I - Arquivo Nacional

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A C E<br />

Com o seu conhecido anti-clericalismo,<br />

o seu menosprezo pela tradição portu­<br />

guesa e pela arquitetura barroca, bem<br />

como aquele apego típico de sua época<br />

às formas neoclássicas e ao gosto<br />

parisiense, não era difícil para Ribeyroi­<br />

les concluir que "a arte não floresce no<br />

Brasil' 2I e que o Rio "adormece em sua<br />

mole ociosidade de capital. -22 Por isso<br />

mesmo ele compara:<br />

'O Rio não está aberto, alargado, refor­<br />

mado como o velho Paris, onde os<br />

bairros históricos desaparecem e cada<br />

ano surgem novas avenidas e praças*. 13<br />

A cidade do Rio de Janeiro comparada à<br />

cidade de Paris, tal como nos é apresen­<br />

tada no Brazil Pittoresco de Ribeyroiles e<br />

Frond, é uma imagem particularmente<br />

interessante, pois sugere, e com isto<br />

'antecipa', a referência simbólica pre­<br />

ferida pelas elites republicanas na vira­<br />

da do século. Com sua fúria demolidora<br />

que 'botou abaixo' boa parte da heran­<br />

ça colonial do Rio de Janeiro, transfor­<br />

mando a capital do país numa reprodu­<br />

ção a mais 'fiel' possível da capital<br />

francesa, não foram poucos os que se<br />

utilizaram de imagens do passado para<br />

construir uma nova versão da cidade e<br />

de sua história que legitimasse a nova<br />

ordem estabelecida.<br />

O historiador Afonso Arinos de Melo Fran­<br />

co, já no século XX, em uma obra que se<br />

tornou famosa, Desenvolvimento da civili­<br />

zação material no Brasil, publicada em<br />

1944, resumiu com uma frase a imagem<br />

da cidade do Rio de Janeiro que também<br />

pag. 96,jan/dez 1993<br />

pode ser encontrada nos mais diversos<br />

registros produzidos desde o século<br />

passado: "uma cidade que cresceu mui­<br />

to e progrediu pouco" 24 . Para Afonso<br />

Arinos e toda uma geração de historia­<br />

dores, o Rio não deixava de ser, "como<br />

cidade higiênica e moderna, uma reali­<br />

zação republicana." 25 Referia-se, natu­<br />

ralmente, ao intenso proces­<br />

so de transformações urbanas<br />

encenado no Rio de Janeiro<br />

com a administração do pre­<br />

feito Francisco Pereira Passos<br />

(1902 - 1906). Daí resultará o<br />

'bota abaixo' daquela cidade<br />

de feição colonial que havia<br />

sobrevivido ao século XIX e<br />

que fora em grande parte rejei­<br />

tada pelas elites republicanas,<br />

após a derrocada do regime mo­<br />

nárquico. Daí resultará também<br />

o cenário afrancesado em que<br />

se transformara o Rio de Janeiro<br />

como capital da república<br />

oligárquica.<br />

Entre esses dois momentos -<br />

meados do século XIX e início<br />

do século XX - podem ser en­<br />

contradas referências muito ex­<br />

pressivas de uma certa ima­<br />

gem' do Rio colonial forte­<br />

mente identificada com aque­<br />

las imagens produzidas no Brazil<br />

Pittoresco. Referências que se<br />

complementam, se explicam e de cer­<br />

to modo nos ajudam a refletir sobre o<br />

papel da fotografia, ao lado das crônicas<br />

e outros registros, na construção da

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