Informalidade no projeto formal de habitação - blog da Raquel Rolnik
Informalidade no projeto formal de habitação - blog da Raquel Rolnik
Informalidade no projeto formal de habitação - blog da Raquel Rolnik
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
mento. É pouco dig<strong>no</strong> viver em espaços apertados e sem<br />
insolação. Existe vi<strong>da</strong> ali, claro. Mas, como arquiteto, a<br />
permissão a tal situação é mostrar conivência com uma<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> bastante precária. Como é possível aceitar que<br />
se more em beiras <strong>de</strong> córregos, em locais <strong>de</strong> risco, em<br />
casas <strong>de</strong> alvenaria sem estrutura e barracos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira<br />
Neste sentido, o que é urbanizar É possível transformar<br />
uma favela num bairro É possível construir ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia Os questionamentos i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> do local x<br />
<strong>projeto</strong>; infraestrutura x <strong>de</strong>sapropriação; <strong>habitação</strong> x áreas<br />
<strong>de</strong> risco são os principais pontos que a discussão mostra.<br />
Se formos levar essa discussão até o próprio <strong>projeto</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>habitação</strong> social e à apropriação pelos moradores, a temática<br />
aqui seria infinita. Dentro <strong>de</strong>stas questões, muitas<br />
vezes urbanizar um local <strong>de</strong>sse - consoli<strong>da</strong>r uma favela<br />
- não é a melhor <strong>da</strong>s opções. Mas remover completamente<br />
também não é! A análise caso a caso correspon<strong>de</strong> à única<br />
resposta possível para esse problema. O ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>projeto</strong><br />
permeia uma crítica à especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> do local, então porque<br />
fazemos <strong>projeto</strong>s <strong>de</strong> urbanização repetitivos Porque<br />
o público alvo não necessariamente se insere <strong>no</strong> mercado<br />
imobiliário direto Por isso, urbanizar é projetar. E aqui,<br />
não apenas compreen<strong>de</strong>ndo a i<strong>de</strong>ia <strong>da</strong> intervenção <strong>da</strong> favela,<br />
mas a i<strong>de</strong>ia essencial <strong>de</strong> que é preciso construir e<br />
propor ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. É preciso ser urba<strong>no</strong>! É enten<strong>de</strong>r o local em<br />
to<strong>da</strong>s as suas especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s e avaliar qual a melhor solução.<br />
E é um <strong>projeto</strong> <strong>de</strong> extrema complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> que envolve<br />
diretamente a melhoria <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pessoas, direta ou<br />
indiretamente. Quando o direito à moradia <strong>de</strong>ve vir sobre<br />
o direito ao meio ambiente Quando foi que Habitação<br />
se restringiu apenas à moradia, e não ao livre acesso aos<br />
equipamentos públicos e à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Quando o morar virou<br />
repetição <strong>de</strong> prédios e enclaves <strong>de</strong>sconectados <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, e<br />
quando a política habitacional será uma política <strong>de</strong> cunho<br />
social e não apenas uma política financeira<br />
14<br />
São muitas perguntas que não nesariamente possuem<br />
respostas imediatas. E muitas sequer tenho insumos para<br />
começar a resolver; mas a i<strong>de</strong>ia do <strong>projeto</strong> é fun<strong>da</strong>mental<br />
para enten<strong>de</strong>r que é possível pensar em algo melhor, rever<br />
os critérios e <strong>de</strong>finir priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s, ou métodos <strong>de</strong> trabalho<br />
para problemas específicos, como por exemplo, <strong>habitação</strong><br />
x APP urbana.<br />
O arquiteto não irá resolver os problemas do mundo, e<br />
isso é fun<strong>da</strong>mental enten<strong>de</strong>r. Mas o importante é não se<br />
acomo<strong>da</strong>r com esta situação, saber que a crítica <strong>de</strong>ve ser<br />
sempre reaviva<strong>da</strong> como maneira <strong>de</strong> administrar melhorias<br />
e pequenas mu<strong>da</strong>nças. E construir, <strong>da</strong> melhor maneira<br />
que é possível, o <strong>projeto</strong> <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Essa é minha ótica<br />
<strong>de</strong> trabalho. Ou, talvez, minha ética para o dia a dia do<br />
arquiteto urbanista.<br />
Neste sentido, o presente trabalho preten<strong>de</strong> abor<strong>da</strong>r<br />
os aspectos que permearam a produção do espaço urba<strong>no</strong><br />
paulista<strong>no</strong>, i<strong>de</strong>ntificando em qual contexto tem sido<br />
trabalha<strong>da</strong>s questões como a urbanização <strong>de</strong> favelas e a<br />
produção <strong>de</strong> conjuntos habitacionais, questões bastante<br />
recorrentes em São Paulo quando analisamos os processos<br />
<strong>de</strong> produção do tecido urba<strong>no</strong>. Para tanto, busca-se<br />
i<strong>de</strong>ntificar, <strong>no</strong> contexto atual, o que é a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que produzimos,<br />
efetivamente, seja in<strong>formal</strong>mente, seja pelo po<strong>de</strong>r<br />
público. O estudo <strong>de</strong> caso será o PAI - Perímetro <strong>de</strong> Ação<br />
Integra<strong>da</strong> Oratório 1, localizado em Sapopemba, <strong>no</strong> distrito<br />
<strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte. Neste sentido,<br />
O capítulo 1 traz uma abor<strong>da</strong>gem sobre a formação urbana<br />
<strong>de</strong> São Paulo e as políticas públicas volta<strong>da</strong>s para a<br />
produção habitacional que permearam o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. A falta <strong>de</strong> um planejamento para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
urba<strong>no</strong> somado à veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento <strong>da</strong><br />
urbe <strong>no</strong> século XX gerou uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> com graves <strong>de</strong>fi-