Informalidade no projeto formal de habitação - blog da Raquel Rolnik
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quando o po<strong>de</strong>r público é forçado a tomar uma atitu<strong>de</strong><br />
com relação à situação.<br />
Em termos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r público, o estado liberalista <strong>de</strong><br />
fins do Século XIX não intervém diretamente, mas toma<br />
atitu<strong>de</strong>s para que a iniciativa priva<strong>da</strong> seja responsável pelo<br />
<strong>de</strong>senvolvimento, por assim dizer. Essa é a base <strong>da</strong> política<br />
dita rentista. Contudo, com a <strong>de</strong>terioração <strong>da</strong>s condições<br />
sanitárias <strong>da</strong>s habitações construí<strong>da</strong>s pelos investidores<br />
e pela constante a<strong>de</strong>nsamento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, estes motivos<br />
forçaram uma intervenção estatal <strong>de</strong> porte regulador. Po<strong>de</strong>mos<br />
dizer que isso ain<strong>da</strong> está inserido <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> política<br />
liberal, na mesma medi<strong>da</strong> em que Londres e Paris<br />
também <strong>de</strong>senvolveram políticas semelhantes. A política<br />
era pauta<strong>da</strong> <strong>no</strong> código <strong>de</strong> posturas, na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma<br />
legislação urbanística e na promoção <strong>de</strong> infraestrutura<br />
via água e saneamento básico. Por conta do brusco aumento<br />
<strong>da</strong>quelas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s em função <strong>da</strong> criação do parque<br />
industrial urba<strong>no</strong> <strong>da</strong> Inglaterra e <strong>da</strong> França, nas regiões<br />
<strong>da</strong> Gran<strong>de</strong> Londres e Gran<strong>de</strong> Paris, respectivamente, e<br />
pelo aumento do êxodo rural em favor <strong>da</strong> mecanização <strong>da</strong><br />
agricultura, houve graves problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública em<br />
função <strong>da</strong> contaminação <strong>da</strong>s águas e <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> infraestrutura<br />
básica.<br />
Contudo a política brasileira começou a tratar tais casos<br />
muito antes <strong>da</strong>s aglomerações <strong>de</strong> 1.000.000 <strong>de</strong> habitantes,<br />
como foi o caso <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s europeias <strong>de</strong> Londres e<br />
Paris. A intervenção higienista trabalhou diretamente na<br />
formulação <strong>de</strong> padrões mínimos <strong>de</strong> habitabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Muitos<br />
cortiços foram fechados, outros interditados, em especial<br />
na área mais central, próximo aos bairros ditos <strong>de</strong> elite<br />
(ain<strong>da</strong> que, à época, essa diferenciação seja quase impossível,<br />
<strong>da</strong><strong>da</strong> que São Paulo era uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> elitiza<strong>da</strong>), em<br />
especial <strong>no</strong> bairro <strong>de</strong> Santa Efigênia. Ao mesmo tempo, a<br />
municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> atuava através <strong>da</strong> Companhia Cantareira<br />
na produção <strong>de</strong> infraestrutura básica. O espaço produzido<br />
em São Paulo até meados <strong>de</strong> 1930 era constituído, portanto,<br />
<strong>de</strong> um conflito intrínseco, dualizado pela relação cafeicultores<br />
na produção habitacional x política higienista.<br />
É consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> uma relação dual, pois a elite que produzia<br />
as habitações para a crescente população era a mesma que<br />
visava a existência <strong>de</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> “europeia”, que <strong>de</strong>terminava<br />
as bases <strong>de</strong> uma política higienista. Neste sentido,<br />
mo<strong>de</strong>rnizar era exterminar; retirar cortiços seria a prática<br />
mais rápi<strong>da</strong> na construção <strong>de</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que se buscava<br />
avança<strong>da</strong>. Isso é fácil verificar, em especial, na próxima<br />
déca<strong>da</strong>, quando o impacto causado pelas <strong>de</strong>cisões políti-<br />
3 - mapa <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> são paulo, 1905<br />
4 - cortiço na rua oscar freire, hoje uma <strong>da</strong>s mais valoriza<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
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