20 3
quando o po<strong>de</strong>r público é forçado a tomar uma atitu<strong>de</strong> com relação à situação. Em termos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r público, o estado liberalista <strong>de</strong> fins do Século XIX não intervém diretamente, mas toma atitu<strong>de</strong>s para que a iniciativa priva<strong>da</strong> seja responsável pelo <strong>de</strong>senvolvimento, por assim dizer. Essa é a base <strong>da</strong> política dita rentista. Contudo, com a <strong>de</strong>terioração <strong>da</strong>s condições sanitárias <strong>da</strong>s habitações construí<strong>da</strong>s pelos investidores e pela constante a<strong>de</strong>nsamento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, estes motivos forçaram uma intervenção estatal <strong>de</strong> porte regulador. Po<strong>de</strong>mos dizer que isso ain<strong>da</strong> está inserido <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> política liberal, na mesma medi<strong>da</strong> em que Londres e Paris também <strong>de</strong>senvolveram políticas semelhantes. A política era pauta<strong>da</strong> <strong>no</strong> código <strong>de</strong> posturas, na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma legislação urbanística e na promoção <strong>de</strong> infraestrutura via água e saneamento básico. Por conta do brusco aumento <strong>da</strong>quelas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s em função <strong>da</strong> criação do parque industrial urba<strong>no</strong> <strong>da</strong> Inglaterra e <strong>da</strong> França, nas regiões <strong>da</strong> Gran<strong>de</strong> Londres e Gran<strong>de</strong> Paris, respectivamente, e pelo aumento do êxodo rural em favor <strong>da</strong> mecanização <strong>da</strong> agricultura, houve graves problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública em função <strong>da</strong> contaminação <strong>da</strong>s águas e <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> infraestrutura básica. Contudo a política brasileira começou a tratar tais casos muito antes <strong>da</strong>s aglomerações <strong>de</strong> 1.000.000 <strong>de</strong> habitantes, como foi o caso <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s europeias <strong>de</strong> Londres e Paris. A intervenção higienista trabalhou diretamente na formulação <strong>de</strong> padrões mínimos <strong>de</strong> habitabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Muitos cortiços foram fechados, outros interditados, em especial na área mais central, próximo aos bairros ditos <strong>de</strong> elite (ain<strong>da</strong> que, à época, essa diferenciação seja quase impossível, <strong>da</strong><strong>da</strong> que São Paulo era uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> elitiza<strong>da</strong>), em especial <strong>no</strong> bairro <strong>de</strong> Santa Efigênia. Ao mesmo tempo, a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> atuava através <strong>da</strong> Companhia Cantareira na produção <strong>de</strong> infraestrutura básica. O espaço produzido em São Paulo até meados <strong>de</strong> 1930 era constituído, portanto, <strong>de</strong> um conflito intrínseco, dualizado pela relação cafeicultores na produção habitacional x política higienista. É consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> uma relação dual, pois a elite que produzia as habitações para a crescente população era a mesma que visava a existência <strong>de</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> “europeia”, que <strong>de</strong>terminava as bases <strong>de</strong> uma política higienista. Neste sentido, mo<strong>de</strong>rnizar era exterminar; retirar cortiços seria a prática mais rápi<strong>da</strong> na construção <strong>de</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que se buscava avança<strong>da</strong>. Isso é fácil verificar, em especial, na próxima déca<strong>da</strong>, quando o impacto causado pelas <strong>de</strong>cisões políti- 3 - mapa <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> são paulo, 1905 4 - cortiço na rua oscar freire, hoje uma <strong>da</strong>s mais valoriza<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> 21