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Informalidade no projeto formal de habitação - blog da Raquel Rolnik

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uma casa É resi<strong>de</strong>ncial É um conjunto habitacional verticalizado<br />

<strong>de</strong> 4 torres com 8 apartamentos por an<strong>da</strong>r É<br />

nesse sentido que a interação produz espaço, pois ela po<strong>de</strong><br />

ser um reflexo direto <strong>da</strong> produção pública, como <strong>no</strong> caso<br />

<strong>da</strong> produção <strong>de</strong> <strong>habitação</strong> social produzi<strong>da</strong> em conjuntos<br />

habitacionais; po<strong>de</strong>m ser as ruas <strong>de</strong> um loteamento irregular<br />

<strong>de</strong> casas autoconstruí<strong>da</strong>s à mercê <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong><br />

infraestrutura; ou po<strong>de</strong> ser uma favela, com suas vielas.<br />

A questão é que a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> é composta por diversas re<strong>de</strong>s<br />

diferentes <strong>de</strong> interação social; agrega<strong>da</strong>s, produzem espaços<br />

diferentes. Sua composição, soma<strong>da</strong> a outros níveis <strong>de</strong><br />

relação social, redun<strong>da</strong>m na produção do que se chama<br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assim sendo, quando o <strong>projeto</strong> pretendido admite<br />

apenas uma ou outra or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> tecido urba<strong>no</strong> como principal,<br />

po<strong>de</strong> estar levando a uma <strong>de</strong>sestruturação <strong>de</strong> to<strong>da</strong><br />

uma re<strong>de</strong> local. O <strong>projeto</strong> <strong>de</strong>ve levar em consi<strong>de</strong>ração que<br />

a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> é mista, é plural; portanto, porque o <strong>projeto</strong> é<br />

único Quando analisamos as propostas que consi<strong>de</strong>ram<br />

os trabalhos <strong>de</strong> intervenção urbana, um aspecto parece<br />

ser <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rado, que é a multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. A<br />

<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração pela diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, pelo uso cotidia<strong>no</strong>, pelo<br />

comum, po<strong>de</strong>-se dizer assim, é uma <strong>da</strong>s questões que dificultam<br />

a produção e apropriação do <strong>projeto</strong>. Simplificamos<br />

muito uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> extremamente complexa.<br />

É mister enten<strong>de</strong>r que não necessariamente o <strong>projeto</strong><br />

irá resolver todos os problemas, porque não irá. A resolução<br />

<strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> cunho urbanístico esbarra em diversas<br />

outras áreas do conhecimento huma<strong>no</strong>, as quais o<br />

arquiteto não tem controle sobre, nem conhecimento para<br />

intervir. O espaço produzido pelo <strong>projeto</strong> <strong>de</strong>ve ser múltiplo<br />

como o <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>; não apenas isso, mas o espaço <strong>de</strong>ve<br />

ser flexível como o tempo permite. As pessoas evoluem; e<br />

junto com elas suas i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> moradia, espaço público, <strong>de</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. O <strong>projeto</strong> precisa incorporar a dimensão temporal<br />

como fator <strong>de</strong> análise. O tempo modifica o espaço. Quando<br />

esse tópico é analisado, é válido perguntar - como eu <strong>projeto</strong><br />

algo fixo e mutável<br />

As questões <strong>da</strong> casa e do bairro recaem sobre essa pergunta.<br />

O <strong>projeto</strong> <strong>no</strong> tempo não é uma questão comum <strong>no</strong><br />

âmbito do <strong>de</strong>senvolvimento projetual. Em primeira instância,<br />

porque não é possível predizer o amanhã, não diretamente<br />

ao me<strong>no</strong>s. Mas se levarmos em consi<strong>de</strong>ração qual foi<br />

o comportamento do bairro ao longo dos a<strong>no</strong>s, é possível<br />

verificar se houve um padrão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do local.<br />

Por exemplo, a produção <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas habitações na Zona Leste<br />

em áreas periféricas esteve vincula<strong>da</strong> a processos <strong>de</strong> compra<br />

<strong>de</strong> lote e autoconstrução por seus próprios moradores. O<br />

aspecto permanente <strong>de</strong> construção inacaba<strong>da</strong> é uma característica<br />

<strong>de</strong>sses locais, pois o principal aspecto que <strong>de</strong>fine<br />

essa produção era a questão <strong>de</strong> possuir uma casa própria,<br />

ain<strong>da</strong> que em local sem infraestrutura, e do pensar na expansão<br />

<strong>da</strong> família. Assim, to<strong>da</strong> laje que se faz já cria a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um futuro <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> casa, uma expansão<br />

vertical realiza<strong>da</strong> sem qualquer auxílio técnico, mas<br />

por outro lado, viável <strong>de</strong> ocorrer. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> manter a casa<br />

para a família que expan<strong>de</strong>, ou a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> criar um<br />

<strong>no</strong>vo cômodo, acima ou abaixo, e tornar-se um locatário,<br />

aumentando sua ren<strong>da</strong>, é uma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> viável. Contudo,<br />

pelo fato <strong>de</strong> estar sempre em processo <strong>de</strong> construção,<br />

o acabamento é relegado a segundo pla<strong>no</strong>. Esteticamente,<br />

as casas autoconstruí<strong>da</strong>s são <strong>de</strong>sta maneira. Composições<br />

volta<strong>da</strong>s à própria família ou que fomentem a produção <strong>de</strong><br />

um “mercado imobiliário inter<strong>no</strong>”, exter<strong>no</strong> ao <strong>formal</strong>, porém<br />

tão ferrenho quanto o outro. O aluguel em locais <strong>de</strong>sse<br />

tipo po<strong>de</strong> chegar facilmente a R$ 500,00 para aluguel <strong>de</strong><br />

um cômodo <strong>de</strong> 4m2.<br />

Internamente, porém a situação mu<strong>da</strong> significativamente.<br />

O relativo <strong>de</strong>sapego com relação á aparência externa <strong>da</strong><br />

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