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Informalidade no projeto formal de habitação - blog da Raquel Rolnik

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negro encobre os alojamentos dos trabalhadores: ninguém os<br />

via, ninguém os <strong>de</strong>screvia”. (Bonduki, 1998)<br />

Esse problema foi visto, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, como uma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

bastante rentável <strong>de</strong> produção habitacional. A solução<br />

engendra<strong>da</strong> - e aqui não estamos falando <strong>da</strong> solução<br />

estatal, uma vez que o estado à época constituía-se liberal<br />

e não intervia diretamente nas ações, mas estimulava a<br />

ação priva<strong>da</strong> - foi utilizar o incremento monetário gerado<br />

pela cafeicultura com forma <strong>de</strong> investimento em <strong>habitação</strong>.<br />

Ou seja, como a cafeicultura passava por momentos<br />

<strong>de</strong> oscilação, ora com gran<strong>de</strong> alta, ora com gran<strong>de</strong> baixa, o<br />

que surge é a construção <strong>de</strong> moradias para aluguel como<br />

forma <strong>de</strong> manter um rendimento extra. Tais habitações<br />

eram construí<strong>da</strong>s por profissionais liberais, por funcionários<br />

públicos, ou mesmo por latifundiários que posteriormente<br />

viram na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> a mais <strong>de</strong> lucro<br />

e ren<strong>da</strong>. Chama-se isso <strong>de</strong> política rentista (Zílio, 2011).<br />

Porém, com a gran<strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> imigrantes, tornase<br />

impossível a manutenção <strong>da</strong> infraestrutura mínima. E,<br />

além disso,<br />

“O investimento nesses alojamentos era altamente rentável<br />

em virtu<strong>de</strong> do intenso aproveitamento do terre<strong>no</strong> e <strong>da</strong><br />

eco<strong>no</strong>mia <strong>de</strong> material possibilita<strong>da</strong> pela sua organização espacial,<br />

<strong>da</strong> péssima quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> edificação e <strong>da</strong> inexistência<br />

<strong>de</strong> custos <strong>de</strong> manutenção” (Bonduki, 1998).<br />

Para apontar um <strong>da</strong>do, estima-se em aproxima<strong>da</strong>mente<br />

1000% o incremento populacional em São Paulo em<br />

pouco mais <strong>de</strong> 30 a<strong>no</strong>s. Em termos absolutos, a população<br />

imigrante que chega a São Paulo ultrapassou em 200<br />

000 pessoas, sendo que parte se fixa na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, uma parte<br />

pequena, e outra irá trabalhar <strong>no</strong> interior do estado,<br />

nas fazen<strong>da</strong>s. A população, que era tipicamente composta<br />

por uma elite local, <strong>de</strong> comerciantes e cafeicultores, sofre<br />

uma mu<strong>da</strong>nça significativa. Bonduki (1998) aponta que a<br />

segregação social nesta época torna-se visível, porém não<br />

em termos espaciais ain<strong>da</strong>; a segregação via espacialização<br />

torna-se mais evi<strong>de</strong>nte com o padrão periférico <strong>de</strong> urbanização.<br />

A tolerância era ligeiramente maior, uma vez<br />

que as casas <strong>de</strong> todos localizavam-se <strong>no</strong>s mesmos bairros,<br />

<strong>no</strong> Centro, em Santa Cecília, <strong>no</strong> Bexiga, na Barra Fun<strong>da</strong>.<br />

Assim sendo, constroem-se diversos pátios-cortiços,<br />

hotéis, pensões, cortiços, casa <strong>de</strong> cômodos, e as “casinhas”,<br />

que eram uma <strong>da</strong>s principais tipologias <strong>de</strong> <strong>habitação</strong>.<br />

Eram casas simples, “sem reboco”, pequenas, porém<br />

que às vistas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> época, eram consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s<br />

atroci<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Todo este incremento habitacional, porém,<br />

não foi acompanhado por um aumento <strong>de</strong> infraestrutura.<br />

São Paulo crescia a ritmos vertigi<strong>no</strong>sos para a época,<br />

só que como não havia intervenção do estado, água ain<strong>da</strong><br />

continuava sendo busca<strong>da</strong> em fontes espalhas pela ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

esgoto era jogado em qualquer lugar. Se for analisar<br />

a situação habitacional <strong>da</strong>s <strong>no</strong>vas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s construí<strong>da</strong>s,<br />

localizavam-se em locais péssimos, várzeas, áreas inundáveis,<br />

por conseguinte charcos e lo<strong>da</strong>çais, tipicamente<br />

insalubres. E isso era necessário pois não se previa alta<br />

investimento inicial para tais casas, ou o locatário não teria<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> arcar com o aluguel <strong>da</strong> casa. A situação<br />

se torna insustentável com o surto <strong>de</strong> cólera em 1893,<br />

1 - rua capitão salomão, 1900. fonte: biblioteca mário <strong>de</strong> andra<strong>de</strong><br />

2 - os triângulos históricos <strong>de</strong> são paulo<br />

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