Informalidade no projeto formal de habitação - blog da Raquel Rolnik
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época, que influenciariam significativamente. A questão<br />
habitacional, subjuga<strong>da</strong> até então, passa a ser prioritária<br />
para o gover<strong>no</strong>. Nesse contexto, a criação do SERFHAU -<br />
Serviço Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Habitação e Urbanismo, e o BNH tem<br />
papel fun<strong>da</strong>mental. O SERFHAU po<strong>de</strong> ser tido como a<br />
“<strong>no</strong>va” FCP, pois ele incorporou todo o pessoal <strong>da</strong> instituição,<br />
e não apenas isso, como boa parte <strong>de</strong> sua maneira <strong>de</strong><br />
trabalhar, <strong>no</strong> que diz respeito à formulação <strong>de</strong> estatísticas,<br />
<strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s; à política <strong>de</strong> auxílio municipal, <strong>de</strong>ntre outras<br />
atribuições <strong>da</strong> FCP.<br />
Já o BNH constituía-se num banco <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> or<strong>de</strong>m,<br />
isto é, não aten<strong>de</strong> diretamente o público, porém age<br />
através <strong>de</strong> fundos e financiamentos para a iniciativa em<br />
<strong>habitação</strong>; financiava a produção habitacional <strong>da</strong>s mais<br />
varia<strong>da</strong>s formas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> conjuntos habitacionais em larga<br />
escala, tais como muitos <strong>da</strong> Zona Leste <strong>de</strong> São Paulo (caso<br />
do conjunto Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes), até habitações unifamiliares<br />
através <strong>da</strong> Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral. Com a entra<strong>da</strong><br />
do FGTS como um dos fundos vinculados, o problema <strong>de</strong><br />
financiamento se esvai, e o BNH se torna o maior banco<br />
<strong>de</strong> financiamento habitacional do mundo. Contudo, o<br />
BNH passa também a viabilizar, mais do que a <strong>habitação</strong>,<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento urba<strong>no</strong>. Além disso, gradualmente,<br />
passa a produzir me<strong>no</strong>s para as me<strong>no</strong>res faixas salariais.<br />
Como banco, o BNH não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> movimentar<br />
seus recursos, então passa a estimular também outras faixas<br />
salariais e outras linhas <strong>de</strong> atuação, o que garantiria,<br />
<strong>de</strong> certa maneira, retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> seu investimento. A meta do<br />
BNH era, portanto, não necessariamente apenas ser um<br />
órgão gestor dos diversos fundos que surgiram na época,<br />
voltados à produção habitacional, mas gerir e “fazer girar”<br />
os recursos, investir pra garantir o <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
Até esta época, po<strong>de</strong>mos colocar em pauta que as favelas<br />
não recebiam qualquer tipo <strong>de</strong> intervenção para melhoramentos<br />
salvo casos muito específicos; <strong>no</strong>rmalmente<br />
favela era sinônimo <strong>de</strong> remoção e reassentamento. Por<br />
outro lado, até então, o já crescente déficit habitacional<br />
aumenta significativamente na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960, com o<br />
milagre brasileiro e o <strong>de</strong>senvolvimento acelerado <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
A urbanização se acentua drasticamente; São Paulo,<br />
em específico, é foco <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>va leva <strong>de</strong> migrantes, em<br />
especial fomentados pelo êxodo rural em favor <strong>da</strong> mecanização<br />
agrícola e do <strong>de</strong>senvolvimento industrial <strong>no</strong> eixo<br />
do ABC, e como a produção habitacional é insuficiente,<br />
o crescimento <strong>de</strong> favelas em especial próximo a áreas industriais<br />
e periferias é e<strong>no</strong>rme. Datam <strong>de</strong> épocas como<br />
essa o incentivo <strong>de</strong> prefeitos à ocupação pelos migrantes<br />
<strong>de</strong> áreas extremas <strong>de</strong> são Paulo, como é o caso <strong>de</strong> São Mateus<br />
- e a formulação dos primeiros ca<strong>da</strong>stros habitacionais<br />
em regiões <strong>de</strong> favela, para verificação do número <strong>de</strong><br />
habitantes. Esse <strong>de</strong>senvolvimento, apesar <strong>de</strong> ter inserido<br />
o Brasil <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> perspectiva econômica mundial, era<br />
baseado numa superexploração <strong>da</strong> mão <strong>de</strong> obra. Assim<br />
sendo, ain<strong>da</strong> que o emprego estivesse em alta, o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
só era alcançado através do alto lucro obtido que<br />
se revertia em investimento na própria indústria e rentabilizava<br />
o capital do empresário. Por outro lado, a intensa<br />
participação do estado na eco<strong>no</strong>mia fomentava a indústria<br />
<strong>da</strong> construção civil, em especial na área <strong>de</strong> infraestrutura<br />
urbana. O problema é que, <strong>no</strong> contexto <strong>da</strong> exploração priva<strong>da</strong><br />
do capital, para maximizar os lucros, apostava-se em<br />
baixos salários e na manutenção <strong>da</strong> mão <strong>de</strong> obra. Se for<br />
avaliar, a alta disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra viabilizava<br />
que os salários fossem baixos, pois quaisquer imprevistos<br />
que pu<strong>de</strong>ssem ocorrer, era possível ocasionar a <strong>de</strong>missão<br />
do empregado e contratar um <strong>no</strong>vo. Isso evitava manifestações<br />
<strong>de</strong> qualquer porte por parte dos funcionários.<br />
Desta maneira, o BNH como produtor habitacional<br />
para as cama<strong>da</strong>s mais baixas racionalizou ao extremo as<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção. A repetição <strong>de</strong> padrões e formas<br />
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