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Dignidade e Autonomia Individual no Final da Vida - Emerj

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formulações recorrentes, que figuram como “consensos sobrepostos”<br />

77 na matéria, que podem ser assim sumariados: a) correlação<br />

<strong>da</strong> fórmula do ‘homem objeto’, ou <strong>da</strong> não instrumentalização dos<br />

seres huma<strong>no</strong>s, à liber<strong>da</strong>de humana e às garantias constitucionais<br />

<strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de 78 ; b) manutenção <strong>da</strong> integri<strong>da</strong>de física e moral dos<br />

chamado caso Ellwanger, acerca dos discursos do ódio. Entretanto, é bom trazer à tona que<br />

a CF/88 contém dispositivo específico sobre o crime de racismo (art. 5º, XLII). BRASIL. STF.<br />

ADPF nº 130-7/DF – MC. Rel. Min. Carlos Britto. 07/11/2008. BRASIL. STF. HC nº 82.959-7/<br />

SP. Rel. Min. Marco Aurélio. 01/09/2006. BRASIL. STF. HC nº 82.424/RS. Rel. Min. Moreira<br />

Alves. 19/03/2004.<br />

77<br />

Consenso sobreposto é uma expressão cunha<strong>da</strong> por John Rawls. Ao elaborar sua célebre<br />

teoria <strong>da</strong> justiça, tomou ele como pressuposto o fato do pluralismo, assumindo que é um<br />

traço permanente <strong>da</strong> cultura política de uma democracia a convivência de diversas crenças<br />

religiosas, filosóficas, políticas e morais. Para que seja possível a construção de uma<br />

socie<strong>da</strong>de política, faz-se necessária a adesão razoável de todos a princípios básicos de<br />

justiça. A partir dessa adesão primeira, formam-se, mediante emprego do procedimento<br />

<strong>da</strong> razão pública, outros pontos de consenso político, justamente aqueles que podem ser<br />

razoavelmente aceitos por indivíduos ou grupos que não compartilham as mesmas crenças.<br />

Tais pontos são o chamado consenso sobreposto. RAWLS, John. Justiça como eqüi<strong>da</strong>de –<br />

uma reformulação. Trad. Cláudia Berliner. Rev. Técnica Álvaro de Vita. São Paulo: Martins<br />

Fontes: 2003, p. 44-53.<br />

78<br />

A fórmula do homem-objeto, oriun<strong>da</strong> do direito germânico, tem por base os trabalhos<br />

de Dürig, que, por sua vez, partiu de premissas kantianas. Como exemplo, vários julgados<br />

tornaram cediço que o indivíduo não pode, a pretexto de manutenção <strong>da</strong> ordem e <strong>da</strong><br />

segurança públicas: (a) ter sua liber<strong>da</strong>de cercea<strong>da</strong> <strong>no</strong> curso do processo penal por tempo<br />

indeterminado ou maior do que os prazos permitidos, se não deu causa à mora processual,<br />

ou se, ressalvados outros fatos muito relevantes, exauriu-se a justificativa para mantê-lo<br />

preso; (b) ser conduzido ou mantido preso <strong>no</strong> curso do processo apenas em razão <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong>de<br />

ou <strong>da</strong> repercussão do crime, ain<strong>da</strong> que hediondo, tampouco por fun<strong>da</strong>mentos decisórios<br />

genéricos; (c) ter o seu silêncio, na persecução penal, interpretado em seu desfavor;<br />

(d) não ser devi<strong>da</strong>mente citado em processo penal. Na linha de casos, a motivação é a de<br />

que o indivíduo não pode ser mais uma engrenagem do processo penal, ou seja, não pode<br />

ser instrumentalizado para o efetivo funcionamento <strong>da</strong> máquina persecutória estatal, impondo-se<br />

sua digni<strong>da</strong>de a proteger as liber<strong>da</strong>des e as garantias constitucionais <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de.<br />

Ademais, por insistência do Min. Gilmar Mendes, a prisão instrumental à extradição está<br />

sendo revisita<strong>da</strong>, pois, como entende o Ministro, o extraditando torna-se um instrumento<br />

ante objetivos estatais. A ideia kantiana de fim-em-si foi utiliza<strong>da</strong> em acórdão que discutiu<br />

a competência para o julgamento de crimes de redução de pessoas à condição análoga à de<br />

escravo. Pese embora ser o conteúdo <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de passível de leitura como ‘hetero<strong>no</strong>mia’,<br />

pois a escravidão é considera<strong>da</strong> um mal em si, o seu conteúdo é fortemente relacionado à<br />

preservação <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de humana e de suas pré-condições. Cf. BRASIL. STF. HC nº 92.604-<br />

5/SP. Rel. Min. Gilmar Mendes. 25/04/2008. BRASIL. STF. HC nº88.548-9/SP. Rel. Min.<br />

Gilmar Mendes. 26/09/2008. BRASIL. STF. HC nº 91.657-1/SP. Rel. Min. Gilmar Mendes.<br />

28/03/2008. BRASIL. STF. HC nº 91.414-4/BA. Rel. Min. Gilmar Mendes. 25/04/2008. BRA-<br />

SIL. STF. HC nº 91.121-8/MS. Rel. Min. Gilmar Mendes. 28/03/2008. BRASIL. STF. HC nº<br />

91.524-8/BA. Rel. Min. Gilmar Mendes. 25/04/2008. BRASIL. STF. HC nº 91.662/PR. Rel.<br />

Min. Celso de Melo. 04/04/2008 (neste acórdão, o ponto principal <strong>da</strong> motivação é o due<br />

52<br />

Revista <strong>da</strong> EMERJ, v. 13, nº 50, 2010

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