Dignidade e Autonomia Individual no Final da Vida - Emerj
Dignidade e Autonomia Individual no Final da Vida - Emerj
Dignidade e Autonomia Individual no Final da Vida - Emerj
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
IX. CONCLUSÃO<br />
O presente estudo procurou refletir sobre a morte com intervenção<br />
à luz <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pessoa humana. Sua hipótese de<br />
trabalho recaiu sobre pessoas que se encontram em estado terminal<br />
ou em estado vegetativo persistente. É possível enunciar algumas<br />
<strong>da</strong>s principais ideias desenvolvi<strong>da</strong>s nas proposições seguintes:<br />
1. A morte é uma fatali<strong>da</strong>de, não uma escolha. Por essa<br />
razão, é difícil sustentar a existência de um direito de morrer.<br />
Contudo, a medicina e a tec<strong>no</strong>logia contemporâneas são capazes<br />
de transformar o processo de morrer em uma jorna<strong>da</strong> mais longa<br />
e sofri<strong>da</strong> do que o necessário, em uma luta contra a natureza e o<br />
ciclo natural <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Nessa hora, o indivíduo deve poder exercer<br />
sua auto<strong>no</strong>mia para que a morte chegue na hora certa, sem sofrimentos<br />
inúteis e degra<strong>da</strong>ntes. To<strong>da</strong> pessoa tem direito a uma<br />
morte digna.<br />
2. No contexto <strong>da</strong> morte com intervenção, alguns conceitos<br />
devem ser bem demarcados. Eutanásia consiste <strong>no</strong> comportamento<br />
ativo e intencional de abreviação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de um doente terminal,<br />
adotado pelo profissional de saúde, com finali<strong>da</strong>de benevolente.<br />
Suicídio assistido é a retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> própria vi<strong>da</strong> com auxílio<br />
de terceiro. Distanásia é o retar<strong>da</strong>mento máximo <strong>da</strong> morte, inclusive<br />
com o emprego de meios extraordinários e desproporcionais.<br />
Ortotanásia identifica a morte <strong>no</strong> tempo certo, de acordo com<br />
as leis <strong>da</strong> natureza, sem o emprego de meios extraordinários ou<br />
desproporcionais de prolongamento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Elementos essenciais<br />
associados à ortotanásia são a limitação consenti<strong>da</strong> de tratamento<br />
e os cui<strong>da</strong>dos paliativos.<br />
3. A digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pessoa humana, na sua expressão mais essencial,<br />
significa que todo indivíduo é um fim em si mesmo. Não<br />
deve, por essa razão, servir de instrumento à satisfação dos interesses<br />
de outros indivíduos ou à realização de metas coletivas.<br />
A digni<strong>da</strong>de é fun<strong>da</strong>mento e justificação dos direitos fun<strong>da</strong>mentais,<br />
que devem conviver entre si e harmonizar-se com valores<br />
compartilhados pela socie<strong>da</strong>de. Ela pode se apresentar como uma<br />
condição interna ao indivíduo – digni<strong>da</strong>de como auto<strong>no</strong>mia – ou<br />
como produto de uma atuação externa a ele – digni<strong>da</strong>de como<br />
hetero<strong>no</strong>mia.<br />
62<br />
Revista <strong>da</strong> EMERJ, v. 13, nº 50, 2010