Prevalência <strong>de</strong> infecção por Chlamydia tracomatis em amostras oculares <strong>de</strong> pacientes com conjuntivite em laboratório...207INTRODUÇÃOOtracoma (do grego Tráchomas) significa rugoso,áspero ou e<strong>de</strong>maciado, é umaceratoconjuntivite crônica palpebral causadapela bactéria Chlamydia trachomatis, que em sua formaaguda se apresenta como uma afecção inflamatória daconjuntiva e da córnea (1,2) .De acordo com a Organização Mundial da Saú<strong>de</strong>(OMS), com seis milhões <strong>de</strong> pessoas atualmente cegascomo resultado da doença, o tracoma é uma das trêsmaiores causas da cegueira. A doença é endêmica emáreas rurais pobres da África, em partes do mediterrâneooriental, América Central e do Sul, e alguns paísesda Ásia. Para controlar a doença, a Global Alliance toEliminate Trachoma by 2020 - GET 2020 - (AliançaGlobal para Eliminação do Tracoma até 2020) foi criadaem 1997 pela OMS, numa colaboração com representantesdos setores <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong> governos (3) .No Brasil, o tracoma teria chegado no século XVIII<strong>de</strong>senvolvendo-se na região do Cariri no interior doCeará, o mais antigo foco do país (4,5) . No final do séculoXIX, com a chegada dos Europeus outros focos surgiramnos Estados <strong>de</strong> São Paulo e Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, expandindo-separa outras regiões (6) . A infecção ocorre pelocontato direto com secreções dos olhos, do nariz e dagarganta <strong>de</strong> pessoas infectadas ou com objetos que tiveramcontato com as secreções, como toalhas, fronhas elençóis. Alguns insetos, como a mosca doméstica, tambémpo<strong>de</strong>m servir <strong>de</strong> veiculadores do agente causador (7) .A C. trachomatis é uma bactéria patogênica causadora<strong>de</strong> doenças sexualmente transmissíveis e causainfecção principalmente no trato urogenital, mas tambémpo<strong>de</strong> causar linfogranuloma venéreo (LGV),tracoma e conjuntivite <strong>de</strong> inclusão. No caso <strong>de</strong> tracoma,a bactéria possui um período <strong>de</strong> incubação <strong>de</strong> 5 a 12 dias,<strong>de</strong>pois dos quais o indivíduo apresenta sintomas <strong>de</strong>conjuntivite ou irritação ocular; os sintomas no infectadoincluem olhos vermelhos, secreção, fobia à luz, dor,lacrimejamento excessivo, e - por último - a obstruçãoda visão (cegueira) (2) .A C. trachomatis possui 15 sorotipos diferentes jái<strong>de</strong>ntificados. Os sorotipos L1, L2 e L3 são os gran<strong>de</strong>sresponsáveis pela síndrome do linfogranuloma venéreo;A, B, Ba e C são mais freqüentemente associados aotracoma; o D a K estão ligados a outras manifestaçõessexualmente transmitidas, sendo que os sorotipos maisfrequentes são os do tipo D, E e F (8) . Assim como emoutras doenças sexualmente transmissíveis (DST), a infecçãogenital é uma porta <strong>de</strong> entrada e aumenta o risco<strong>de</strong> contrair o vírus HIV, agente da síndrome daimuno<strong>de</strong>ficiência adquirida (Aids/SIDA). O controle dotracoma <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> portadoresassintomáticos, os quais representam um reservatóriopara o agente patogênico. Acredita-se que a imunida<strong>de</strong>é apenas parcialmente protetora, pois o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolverseqüelas como gravi<strong>de</strong>z ectópica ou infertilida<strong>de</strong>,aumenta com os sucessivos episódios <strong>de</strong> infecção (9) .A queda acentuada da incidência do tracoma empaíses industrializados pela melhoria das condições <strong>de</strong>vida e, especialmente, as <strong>de</strong> higiene, tem diminuído suavisibilida<strong>de</strong> como problema em saú<strong>de</strong> pública (10) . Poucosestudos têm <strong>de</strong>talhado o comportamento do tracomaem áreas hipoendêmicas. A maioria das publicações focaliza-seno su<strong>de</strong>ste do Brasil, principalmente no Estado<strong>de</strong> São Paulo por ser uma região com muitos imigrantesdo nor<strong>de</strong>ste, principal região endêmica do Brasil. No estado<strong>de</strong> Santa Catarina existem poucos estudos sobre opadrão epi<strong>de</strong>miológico do tracoma.Os métodos laboratoriais utilizados para a<strong>de</strong>tecção do patógeno causador <strong>de</strong> conjuntivite são emgeral exames <strong>de</strong> bacterioscopia e sorologia. A introdução<strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> biologia molecular no laboratórioclínico, como a técnica da reação da polimerização emca<strong>de</strong>ia (PCR), permite <strong>de</strong>tectar o agente causador commais precisão, exatidão, sensibilida<strong>de</strong> e especificida<strong>de</strong>,permitindo assim uma i<strong>de</strong>ntificação do agente infecciosocom maior confiabilida<strong>de</strong> e em menor tempo (9) . Oconhecimento do agente causador e da progressão dadoença, bem como estabelecimento do tratamento coerentee eficaz, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a sua evolução e prognóstico(11,12) .Devido a esse cenário epi<strong>de</strong>miológico, o presentetrabalho teve por objetivo conhecer a prevalência <strong>de</strong>infecção ocular em amostras <strong>de</strong> raspado conjuntival causadapor C. trachomatis, no período <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2004 ajunho <strong>de</strong> 2007 em laboratório <strong>de</strong> Genética e BiologiaMolecular da região metropolitana <strong>de</strong> Florianópolis, SC.MÉTODOSO DNAnálise - Laboratório <strong>de</strong> Análise e Pesquisado Gene - presta assistência à região metropolitana<strong>de</strong> Florianópolis, SC, realizando exames laboratoriaispor técnicas <strong>de</strong> análises <strong>de</strong> DNA/RNA para fins <strong>de</strong> diagnóstico<strong>de</strong> alta especificida<strong>de</strong> e sensibilida<strong>de</strong>.Foi realizado um estudo transversal envolvendotodos os casos <strong>de</strong> conjuntivite ocular registrados no banco<strong>de</strong> dados do Laboratório <strong>de</strong> Genética e BiologiaMolecular (DNAnálise) localizado em Florianópolis, SCRev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 206-11
208Machado MO, Fraga DS, Floriano JF, Menezes ME, Traebert JTabela 1Prevalência <strong>de</strong> infecção ocular por Chlamydia trachomatis em amostras<strong>de</strong> pacientes da região metropolitana <strong>de</strong> FlorianópolisSexo masculinoSexo femininoPeríodo N o testado N o positivo Prevalência (%) N o testado N o positivo Prevalência (%)2004-1 9 2 22,2 13 3 23,72004-2 18 3 16,7 14 1 7,12005-1 24 2 8,3 27 3 11,12005-2 23 6 26,1 19 4 21,02006-1 53 43 81,1 135 106 78,52006-2 85 54 65,5 131 89 67,92007-1 31 11 35,5 78 32 41,0Total 243 121 49,8 417 238 57,0Tabela 2Prevalência <strong>de</strong> infecção ocular por Chlamydia trachomatis em amostras <strong>de</strong>pacientes por faixa etária (anos) da região metropolitana <strong>de</strong> FlorianópolisSexo masculinoSexo femininoFaixa etária Teste positivo N o total Prevalência(%) Teste positivo N o total Prevalência (%)0 a 15 24 43 55,8 30 48 62,516 a 30 27 58 46,5 60 105 57,131 a 45 30 65 46,1 63 109 57,846 a 60 26 50 52,0 51 93 54,8> 61 14 27 51,8 34 62 54,8Total 121 243 49,8 238 417 57,1Tabela 3Prevalência <strong>de</strong> infecção ocular por Chlamydiatrachomatis em amostras <strong>de</strong> pacientes da regiãometropolitana <strong>de</strong> Florianópolis-SC, por regiãoanatômica ocularSexo masculinoSexo femininoRegião Anatômica N % N %Superior esquerdo 81 24,9 141 24,7Inferior esquerdo 82 25,3 144 25,3Superior direito 81 24,9 138 24,2Inferior direito 81 24,9 147 25,8Total 325 100,0 570 100,0Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 206-11
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