Melanocitoma associado à membrana neovascular sub-retiniana239sos (1-4) . A transformação maligna é bastante rara, comocorrência estimada entre 1 a 2% dos casos (1-4) .No caso <strong>de</strong>scrito, a diminuição da acuida<strong>de</strong> visual,o <strong>de</strong>scolamento seroso <strong>de</strong> retina e hemorragia, eexsudação sub-retinianas em um olho que exibia tumorpigmentado sobre o disco óptico motivou o encaminhamentocom o suposto diagnóstico <strong>de</strong> melanoma.A AFG, embora não seja exame fundamental para odiagnóstico <strong>de</strong> melanoma uveal, em casos difíceis comoeste, po<strong>de</strong> se mostrar <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia ao evi<strong>de</strong>nciarlesão pigmentada sobre o disco, com total bloqueio dafluorescência associada à membrana neovascular subretiniana.Assim, foi possível especular que a exsudaçãoe a baixa <strong>de</strong> visão estavam sendo causadas pela membranae não pelo crescimento do tumor pigmentado <strong>de</strong>disco óptico. O aparecimento <strong>de</strong> membrananeovascular sub-retiniana é uma complicação possívelem qualquer do polo posterior sendo relacionada a rupturana membrana <strong>de</strong> Bruch e possível produção <strong>de</strong>fatores angiogênicos pelo tumor. Na série <strong>de</strong> 115melanocitomas <strong>de</strong>scrita por Shields e colaboradores,neovascularização sub-retiniana foi encontrada emapenas um paciente (3) . Em dois outros relatos, o quadroclínico foi muito similar ao do nosso paciente, com início<strong>de</strong> sintomatologia na 5ª década <strong>de</strong> vida, presença<strong>de</strong> exsudatos e hemorragia sub-retiniana (5,6) . Em um dosrelatos o paciente foi submetido à remoção cirúrgicada membrana neovascular com bom resultado funcionalfinal (6) . Chalam e colaboradores <strong>de</strong>screvem um casotratado <strong>de</strong> maneira bem-sucedida com terapiafotodinâmica (7) . Não encontramos referência ao uso <strong>de</strong>injeção intravítrea <strong>de</strong> antiangiogênicos para tratamentoda membrana associada ao melanocitoma. Em nossopaciente, <strong>de</strong>vido ao estado avançado da membrana comaparente gliose retiniana, optamos apenas pelo acompanhamento.Chama a atenção o encaminhamento com suspeita<strong>de</strong> melanoma uveal e sugestão <strong>de</strong> enucleação. A diferenciaçãoentre um melanocitoma causando baixa <strong>de</strong> visão eum pequeno melanoma peripapilar com invasão <strong>de</strong> nervoóptico po<strong>de</strong> ser difícil. A invasão do nervo óptico pormelanoma uveal é evento raro, com ocorrência estimadaem apenas 0,8 a 3,7% dos casos, po<strong>de</strong>ndo acontecer tantoem tumores negligenciados, que preenchem toda a cavida<strong>de</strong>vítrea, como em pequenos melanomas peripapilares (8-11). Para dificultar ainda mais, sempre <strong>de</strong>vemos lembrarque a transformação maligna em um melanocitoma emborarara, po<strong>de</strong> ocorrer existindo até mesmo a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>tumores com uma porção benigna e outra maligna, o quepo<strong>de</strong> inclusive resultar em interpretação errônea embiópsia <strong>de</strong> aspiração por agulha fina (2,3,12) .Apesar das dificulda<strong>de</strong>s no diagnóstico diferencialentre melanocitoma com baixa <strong>de</strong> visão e pequenomelanoma com invasão <strong>de</strong> nervo óptico, alguns dadospo<strong>de</strong>m ser úteis. O aspecto oftalmoscópico domelanocitoma é <strong>de</strong> tumor <strong>de</strong>nsamente pigmentado, comaspecto negro ou castanho, superfície aveludada, comfrequente componente retiniano (1-4) . Já o melanoma usualmenteexibe pigmentação menos <strong>de</strong>nsa e menos homogênea,com predominância do componentecoroidal (10) . A AFG no melanocitoma mostra intensahipofluorescência por bloqueio <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>nsa pigmentaçãodo tumor, enquanto o melanoma costuma exibirvascularização intrínseca (3,4,10) . A ecografia, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>valia no diagnóstico diferencial dos tumores oculares,tem papel limitado nesta situação <strong>de</strong>vido às pequenasdimensões das lesões. Um pequeno melanoma com invasão<strong>de</strong> nervo óptico po<strong>de</strong>ria apresentar aspectooftalmoscópico (exsudação e <strong>de</strong>scolamento <strong>de</strong> retina) esintomatologia (baixa visual), muito similares aos do casoem questão (10) . Os achados que mais contribuíram para aelucidação diagnóstica em nosso caso foram ausência<strong>de</strong> dupla circulação à AFG e presença <strong>de</strong> membrananeovascular justificando a baixa <strong>de</strong> visão. Frente a taldúvida diagnóstica, uma alternativa é observar a evoluçãodo tumor em um período relativamente curto, comofizemos. Caso se tratasse <strong>de</strong> melanoma, po<strong>de</strong>ríamos esperaruma evolução do quadro com aumento do tumor epiora da acuida<strong>de</strong> visual, orientando <strong>de</strong> forma correta otratamento.ABSTRACTWe report a case of optic disc melonocytoma associatedto subretinal neovascular membrane. The patientpresented with low visual acuity, serous retinal <strong>de</strong>tachmentwith haemorrhage and exudates and was referred withthe diagnosis of melanoma and an orientation to enucleatethe eye. We discuss the major aspects of both tumors andthe <strong>de</strong>tails of differential diagnostic.Keywords: Optic nerve neoplasms; Optic nerveneoplasms/complications; Melanoma/diagnosis;Choroidal neovascularizationREFERÊNCIAS1. Zimmerman LE, Garron LK. Melanocytoma of the optic disk.Int Ophthalmol Clin. 1962; 2:431—4 .2. 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