Biometria ultrassônica no cálculo do po<strong>de</strong>r dióptrico <strong>de</strong> lentes intraoculares: estudo comparativo dos métodos...213INTRODUÇÃOOuso do ultrassom na oftalmologia teve seu inícioem 1938, com estudos analisando o possívelefeito do ultrassom <strong>de</strong> alta intensida<strong>de</strong> emolhos, passando posteriormente a pesquisar seu efeito <strong>de</strong>hipertermia com função terapêutica (1) . A primeiraultrassonografia foi publicada em 1956, mostrando aomundo seu potencial diagnóstico, e logo em seguida, expandindoseu uso através <strong>de</strong> ondas ultrassonográficastipo “A” no diagnóstico <strong>de</strong> patologias intraoculares, coma análise das diferentes características sonográficas dosvariados tecidos do olho humano. Em 1958 foi <strong>de</strong>senvolvidoo modo “B” (bidimensional), e em 1960 passou-se amedir as distâncias entre as estruturas oculares (2) .Além <strong>de</strong> realizar medidas biométricas do globoocular, permitindo o cálculo preciso do po<strong>de</strong>r dióptrico<strong>de</strong> lentes intraoculares artificiais (LIO), as técnicas básicas<strong>de</strong>senvolvidas são ondas tipo “A” e “B”, Doppler, emodalida<strong>de</strong>s tridimensionais, e atualmente abiomicroscopia ultrassônica (1-4) .O exame <strong>de</strong> ecobiometria realiza medidas ocularesatravés <strong>de</strong> ondas lineares do tipo “A”, po<strong>de</strong>ndo serrealizado pelo método <strong>de</strong> contato, que consiste no encontrodireto da sonda do aparelho com a córnea do paciente,ou pela imersão, na qual é utilizada uma interfaceaquosa entre a sonda e o olho (1-5) .Com o crescente avanço técnico e tecnológico dascirurgias <strong>de</strong> catarata com implante <strong>de</strong> lentes intra-oculares,e a conseqüente expectativa do paciente, tornousefundamental um exame acurado <strong>de</strong> biometria e fórmulasa<strong>de</strong>quadas para aperfeiçoar a escolha da lente (6).Consi<strong>de</strong>rando as proprieda<strong>de</strong>s inerentes a cadatécnica usada, o objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi comparar asmedidas biométricas obtidas no método <strong>de</strong> contato e <strong>de</strong>imersão, e avaliar sua precisão, e a reprodutibilida<strong>de</strong>das mesmas em subsequentes medidas.MÉTODOSVinte e sete pacientes foram submetidos ao examepré-operatório <strong>de</strong> catarata, sendo que todos realizarambiometria ultrassônica pelos dois métodos, <strong>de</strong>imersão e <strong>de</strong> contato. Foram excluídos pacientes comdoenças oculares ou outras patologias que causassemdificulda<strong>de</strong> na interpretação do gráfico <strong>de</strong> onda “A”, além<strong>de</strong> não ser realizado o exame nos olhos afácicos oupseudofácicos. Dos vinte e sete pacientes, a média <strong>de</strong>ida<strong>de</strong> foi <strong>de</strong> 68,4 anos, variando entre 42 e 92 anos.O OcuScan RxP - Alcon® foi o biômetro utilizadono padrão automático seriado <strong>de</strong> ondas tipo “A”, comganho aproximado <strong>de</strong> 60 dB. Todas as medidas foramrealizadas em um único aparelho pelo autor <strong>de</strong>sse trabalho,treinado para utilização <strong>de</strong>sse biômetro e com 1ano <strong>de</strong> experiência em ambas as técnicas utilizadas.Inicialmente os pacientes foram submetidos aoexame com contato direto da sonda, sendo aferidas 10medidas <strong>de</strong> cada olho e posteriormente ao exame <strong>de</strong>imersão, também com 10 medidas <strong>de</strong> cada olho.Foram obtidas a média do comprimento axial doglobo ocular (AL), a média <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> da câmaraanterior (ACD), o <strong>de</strong>svio padrão (DP) entre os 10ecogramas do comprimento axial do globo, e o po<strong>de</strong>rdióptrico <strong>de</strong> 3 possíveis lentes nas constantes <strong>de</strong> 118,30,118,70 e 118,90 utilizando a fórmula SRK-T.Para avaliar a diferença no po<strong>de</strong>r da lente, entreos dois métodos, foram incluídas no estudo apenas aslentes <strong>de</strong> constante 118,30, e o valor mais próximo <strong>de</strong>uma refração plana.Foi realizada a análise <strong>de</strong>scritiva <strong>de</strong> todas as variáveisatravés <strong>de</strong> suas medidas <strong>de</strong> tendência central e<strong>de</strong> dispersão. Para as variáveis que apresentaram distribuiçãonormal (teste <strong>de</strong> Kolmogorov-Smirnov) foi utilizadoo teste t pareado, para as variáveis que não apresentaramesse princípio satisfatório, foi utilizado o teste<strong>de</strong> Wilcoxon. Foi calculado o coeficiente <strong>de</strong> correlação<strong>de</strong> Pearson. O nível <strong>de</strong> significância foi <strong>de</strong> 5%. Pacoteestatístico utilizado SPSS 16.0 for windows. E para seobter um mo<strong>de</strong>lo matemático foi utilizado o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>regressão linear.RESULTADOSA média do comprimento axial ocular dos 120exames foi <strong>de</strong> 23,23 mm, e o comprimento médio dacâmara anterior <strong>de</strong> todos os exames foi <strong>de</strong> 3,19 mm.No método <strong>de</strong> imersão a média do comprimentoaxial foi <strong>de</strong> 23,29 mm, e do comprimento da câmaraanterior foi <strong>de</strong> 3,26 mm. Enquanto sob a técnica <strong>de</strong>contato, o comprimento axial médio encontrado foi<strong>de</strong> 23,16 mm e a média da câmara anterior foi <strong>de</strong>3,12 mm. As medidas <strong>de</strong> tendência central e <strong>de</strong> dispersãopara as variáveis <strong>de</strong> comprimento axial nos doismétodos encontram-se na Tabela 1, e os valores relacionadosà profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> câmara anterior encontram-sena Tabela 2.Foi constatada correlação muito forte 0,984 entreos valores <strong>de</strong> comprimento axial, pelo Coeficiente <strong>de</strong>Correlação <strong>de</strong> Pearson, e também entre os valores <strong>de</strong>câmara anterior (0,922). A diferença entre o compri-Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 212-5
214Martins FCR, Miyaji ME, Lima VL, Reh<strong>de</strong>r JRCLmento axial ocular médio entre os dois métodos foi <strong>de</strong>0,18 mm, e entre as médias dos valores <strong>de</strong> câmara anteriorfoi <strong>de</strong> 0,13 mm, mostrando significância estatísticapelo teste t <strong>de</strong> amostras pareadas.A reprodutibilida<strong>de</strong> do exame, e consequentementesua confiabilida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> ser avaliada através do <strong>de</strong>sviopadrão das 10 medidas realizadas em cada olho, e comparandoo mesmo nos dois métodos. Portanto, quanto menor o<strong>de</strong>svio padrão entre as diversas medições, mais confiável éo método. A média do <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> todas as medidasecobiométricas foi <strong>de</strong> 0,05. No método <strong>de</strong> imersão foi <strong>de</strong>0,02, enquanto no método <strong>de</strong> contato a média do <strong>de</strong>sviopadrão foi <strong>de</strong> 0,07 (Tabela 3), apresentando significânciaestatística pelo teste <strong>de</strong> Wilcoxon.A média da diferença do po<strong>de</strong>r dióptrico das LIOsentre o método <strong>de</strong> contato e <strong>de</strong> imersão foi <strong>de</strong> 0,58 dioptria(D), variando <strong>de</strong> 0 a 2,0 D <strong>de</strong> diferença no valor da LIO.DISCUSSÃOCom o advento das cirurgias <strong>de</strong> facoemulsificaçãocom finalida<strong>de</strong>s refrativas, e um aumento na expectativapor parte do paciente, a precisão da biometria é fundamentalpara reduzir os erros <strong>de</strong> cálculo do po<strong>de</strong>rdióptrico da LIO, tornando-se essencial a aplicação <strong>de</strong>um método preciso e acurado para calcular com exatidãoa LIO, vindo <strong>de</strong> encontro com as expectativas docirurgião e obviamente do paciente.Além da biometria através <strong>de</strong> ondas <strong>de</strong> ultrassom,existe atualmente a biometria <strong>de</strong> interferometria óptica,em que estudos mostram sua superiorida<strong>de</strong> na precisãodo cálculo da LIO, porém esta não po<strong>de</strong> substituir totalmentea biometria acústica, principalmente em casos <strong>de</strong>baixa acuida<strong>de</strong> visual por catarata <strong>de</strong>nsa e outras patologiasassociadas à opacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> meios (7-14) .Um inconveniente no uso da biometriaultrassônica é o contato com olho, requerendo assim ouso <strong>de</strong> anestesia tópica e cuidados especiais para evitarabrasão corneana e infecção secundária (7) .O método <strong>de</strong> contato apresenta a vantagem <strong>de</strong>ser mais prático, mais rápido, e mais confortável para opaciente, em que o mesmo po<strong>de</strong> estar <strong>de</strong>itado ou sentado;apresenta menos instrumentos e menor chance <strong>de</strong>contaminação instrumental. Já a técnica <strong>de</strong> imersão temas vantagens <strong>de</strong> ter maior reprodutibilida<strong>de</strong>, não há compressãoda córnea; e melhor alinhamento em pacientespouco colaborativos (7,8) .O principal motivo da menor confiabilida<strong>de</strong> doexame sob contato se <strong>de</strong>ve a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntaçãocorneana, medindo uma câmara anterior menor, su-AL(contato)AL(imersão)Média 23,16 23,29Mediana 23,01 23,29Desvio padrão 1,11 1,12Mínima 21,66 21,81Máxima 29,18 29,21(p
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