RELATO DE CASO241Importância do exame oftalmológico nadoença <strong>de</strong> von Hippel-LindauThe importance of the ophthalmological examinationin von Hippel-Lindau diseaseRicardo Evangelista Marrocos <strong>de</strong> Aragão 1 , Iêda Maria Alexandre Barreira 2 , Andreya Ferreira Rodrigues Bezerra 3Régia Maria Gondim Ramos 4 , Felipe Bezerra Alves Pereira 5RESUMOVon Hippel-Lindau (VHL) é uma síndrome tumoral autossômica dominante. Essestumores incluem hemangioblastoma da retina e sistema nervoso central (CSN), carcinoma<strong>de</strong> células renais, feocromocitoma, tumores <strong>de</strong> pâncreas, cistoa<strong>de</strong>noma <strong>de</strong> rins,pâncreas e epidídimo. Os sintomas mais comuns são perda da visão, aumento da pressãointracraniana, déficits neurológicos, aumento da pressão arterial sistêmica paradoxal edor local. Relatamos o caso <strong>de</strong> um paciente com perda <strong>de</strong> visão e história <strong>de</strong>hemangiomas cerebelares cujo diagnóstico <strong>de</strong> VHL foi feito após exame oftalmológico.Descritores: Doença <strong>de</strong> von Hippel-Lindau; Hemangioblastoma; Hamartoma;Feocromocitoma; Hipertensão intracraniana; Relatos <strong>de</strong> casos1Doutor em Medicina pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Regensburg – Alemanha; Especialista em Retina e Vítreo pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Regensburg– Alemanha; Preceptor da Residência Médica <strong>de</strong> Retina e Vítreo do Departamento <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> do Hospital Universitário WalterCantídio da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará – UFC – Fortaleza (CE), Brasil;2Especialista em Retina e Vítreo pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil;3Resi<strong>de</strong>nte do terceiro ano do Serviço <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará –UFC – Fortaleza (CE), Brasil;4Resi<strong>de</strong>nte do terceiro ano do Serviço <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará –UFC – Fortaleza (CE), Brasil;5Ex-resi<strong>de</strong>nte do Serviço <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará – UFC –Fortaleza (CE), Brasil.Instituição: Serviço <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará – UFC – Fortaleza(CE), BrasilRecebido para publicação em: 9/4/2009 - Aceito para publicação em 22/9/2009Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 241-4
242Aragão REM, Barreira IMA, Bezerra AFR, Ramos RMG, Pereira FBAINTRODUÇÃOAdoença <strong>de</strong> von Hippel-Lindau (VHL), ouangiomatose cerebelorretiniana familiar, éuma facomatose autossômica dominante, compenetrância incompleta e expressivida<strong>de</strong> retardada (1)caracterizada por aparecimento <strong>de</strong> hemangioblastomada retina, do cerebelo e/ou medula espinhal, carcinoma<strong>de</strong> células renais, tumor <strong>de</strong> pâncreas, tumores do sacoendolinfático, bem como cistos e cistoa<strong>de</strong>noma dos rins,pâncreas e epidídimo (2) . Diferindo <strong>de</strong> outras facomatoses,as manifestações cutâneas são raras em VHL. Outrasmanifestações <strong>de</strong> VHL que po<strong>de</strong>m chamar atenção dooftalmologista incluem retinopatia hipertensiva <strong>de</strong>vidoa feocromocitoma, hamartoma vascular da retina,síndrome quiasmática, <strong>de</strong>feito pupilar aferente <strong>de</strong>vido ahemangioblastoma do nervo óptico (NO) e papile<strong>de</strong>mapor lesões do SNC ou do nervo óptico (3) .O hemangioma capilar da retina (HCR) é a manifestaçãomais precoce da doença <strong>de</strong> VHL e usualmentenão está presente ao nascimento. Existe uma correlaçãopositiva entre o aumento da ida<strong>de</strong> e o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> HCR na VHL. O HCR po<strong>de</strong> ser umtumor único e algumas vezes é a única manifestação dapatologia, mas os tumores são mais frequentementemúltiplos, ocorrendo em 45% a 60% dos pacientes comVHL. A localização preferencial do tumor é a periferiatemporal da retina, sendo facilmente reconhecido porsua aparência avermelhada, globulosa, com uma artérianutridora e uma veia tortuosa que drena o tumor (4) . Apesarda sua natureza benigna e clássico crescimento lento,o HCR po<strong>de</strong> causar complicações como <strong>de</strong>scolamentototal da retina, catarata e phthisis bulbi nos estágios finais(5) . O HCR permanece como a maior causa <strong>de</strong>morbida<strong>de</strong> visual e algumas vezes cegueira nos pacientescom VHL. A <strong>de</strong>tecção precoce e tratamento po<strong>de</strong>malterar o prognóstico visual (4) .No presente artigo, relatamos o caso <strong>de</strong> um pacienteportador <strong>de</strong> VHL com história prévia <strong>de</strong> cirurgiasneurológicas para remoção <strong>de</strong> hemongioblastomacerebelar, perda da visão com phthisis bulbi no olhodireito (OD) e presença <strong>de</strong> HCR no olho esquerdo(OE),no qual foi realizado tratamento com laser.Relato <strong>de</strong> CasoPaciente masculino, 29 anos, branco, procurou oambulatório com queixa <strong>de</strong> baixa acuida<strong>de</strong> visual acompanhada<strong>de</strong> discreta dor em região orbitária direita. Pacientetinha história pregressa <strong>de</strong> três cirurgias neurológicaspara ressecção <strong>de</strong> hemangioblastoma cerebelar(diagnóstico proposto antes das cirugias por exames <strong>de</strong>imagem, tomografia computadorizada <strong>de</strong> SNC, e confirmadocom os exames anátomo-patológicos) e cistos <strong>de</strong>epidídimo. História familiar negativa.Ao exame oftalmológico, o paciente apresentavaacuida<strong>de</strong> visual (AV) <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong> percepção luminosano olho direito (OD) e 20/20 no olho esquerdo (OE).A biomicroscopia mostrou <strong>de</strong>sorganização das estruturasdo segmento anterior do OD e OE sem alterações. Àoftalmoscopia binocular indireta revelou <strong>de</strong>scolamentototal <strong>de</strong> retina no OD e no OE um HCR <strong>de</strong> localizaçãotemporal inferior. A ecografia ocular mostrou<strong>de</strong>scolamento <strong>de</strong> retina associado a espessamento <strong>de</strong>esclera e <strong>de</strong>sorganização das estruturas (Phitisis bulbi)no OD. A angiografia fluoresceínica (AF) no OE mostroulesão hiperfluorescente temporal inferior, comvasos aferente e eferente característicos do HCR (Figura1).O paciente foi submetido, no OE, à fotocoagulaçãocom laser <strong>de</strong> diodo ver<strong>de</strong> na lesão e vasos nutridores.Após 20 dias, realizou-se nova AF, que mostrou regressãoda lesão (Figura 2).DISCUSSÃOOs hemangiomas da retina que ocorrem esporadicamenteou em associação com VHL são clinicamenteindistinguíveis. O diagnóstico <strong>de</strong> VHL se baseia emtrês elementos, que incluem: hemangioma (retina/SNC),lesões viscerais e história familiar <strong>de</strong> lesões similares.Se história familiar <strong>de</strong> VHL está presente, apenas umalesão é requerida. Com história familiar negativa, presença<strong>de</strong> pelo menos dois hemangiomas ou umhemangioma e uma lesão visceral são critérios para odiagnóstico <strong>de</strong> VHL (6) . Tumores assintomáticos po<strong>de</strong>mser <strong>de</strong>tectados tão precocemente quanto na primeiradécada <strong>de</strong> vida ou tão tardiamente quanto na nona décadaem uma retina previamente normal. Embora o HCRseja um hamartoma, usualmente não está presente congenitamente.Comumente, hemangiomas da retina são<strong>de</strong>tectados em pacientes entre 25 e 30 anos, quando elestêm crescido suficientemente para serem diagnosticadosclinicamente no exame <strong>de</strong> rotina (7) . A história naturaldo HCR consiste <strong>de</strong> progressão com o tempo. Entretanto,alguns hemangiomas permanecem estáveis e algunspo<strong>de</strong>m até regredir espontaneamente.O HCR po<strong>de</strong>exsudar, po<strong>de</strong>ndo levar a perda visual pormaculopatia (7) e <strong>de</strong>scolamento <strong>de</strong> retina seroso outracional (8) . Embora rara, neovascularização <strong>de</strong> retinae íris po<strong>de</strong> ocorrer, potencialmente evoluindo paraRev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 241-4
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