23.11.2012 Views

Arte e Cultura - Instituto Votorantim

Arte e Cultura - Instituto Votorantim

Arte e Cultura - Instituto Votorantim

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

dutos como CDs e camisetas. Sem perder a coerência<br />

mesmo nas tempestades mais pesadas. “Quatro anos<br />

atrás, recusamos um cachê de R$ 40 mil para tocar em<br />

um festival patrocinado por uma empresa de tabaco”,<br />

relembra Junior, orgulhoso. “Estávamos com quatro<br />

meses de salários atrasados, mas resistimos.”<br />

Para sair do buraco financeiro, muita conversa em<br />

busca de outros parceiros e todo o pragmatismo possível<br />

no dia-a-dia. O Afro Reggae hoje supera em prestígio<br />

o tráfico de drogas, antigo sinônimo de poder e prosperidade<br />

nas comunidades populares. O fenômeno explica-se,<br />

entre outras razões, pelo trabalho junto à mídia.<br />

“A TV Globo é muito importante para nós. Podemos aparecer<br />

lá sem ter o rosto desfocado. E nos shows fazemos<br />

saudações a favelas independentemente das facções<br />

que as dominam”, ensina ele.<br />

Mas na batalha que nunca termina, popularidade é apenas<br />

uma arma. “Nesse momento, no caos, o que resolve é<br />

emprego. Educação só não basta”, diz Junior, citando o<br />

exemplo de um gerente do tráfico que o abordou, meses<br />

atrás. “Se tiver uma oportunidade, eu saio agora”, avisou.<br />

Teve. Novo desfalque no exército das drogas.<br />

Ultrapassando fronteiras<br />

O prestígio levou Júnior e outros sete “puros-sangues”<br />

a formar um comitê de mediação de conflitos que atormentam<br />

os milhões de moradores honestos das favelas<br />

do Rio. O acesso privilegiado permite a eles negociar<br />

PARA SABER MAIS SOBRE<br />

GRUPO CULTURAL AFRO REGGAE<br />

ÁREA DE ATUAÇÃO COMUNIDADES POPULARES DO RIO DE JANEIRO, ENTRE ELAS VIGÁRIO GERAL, PARADA<br />

DE LUCAS E CANTAGALO, EM PROJETOS PRÓPRIOS, E OUTRAS EM PARCERIA<br />

PROPOSTA Desviar jovens do caminho do narcotráfico e do subemprego por meio da inclusão e justiça<br />

social. Como ferramentas, a arte, a cultura afro-brasileira e a educação<br />

JOVENS ATENDIDOS 972<br />

APOIO AVINA, FUNDAÇÃO FORD, FUNDAÇÃO KELLOG, HP, INSTITUTO CREDICARD, INSTITUTO DESIDERATA,<br />

SUPERMERCADOS EXTRA, PREFEITURA DO RIO, REDE GLOBO E SESC-RIO<br />

CONTATO Av. marechal Câmara, 350/703 – Centro – 20020-080 – Rio de Janeiro (RJ) –<br />

Tel.: 21/2532-0171 – www.afroreggae.org.br<br />

tréguas em guerras a que a polícia apenas assiste, impotente e derrotada.<br />

A interferência em batalhas sangrentas inspirou-se em outro projeto social,<br />

o Rompendo Fronteiras, que desde 2001 busca levar o trabalho social onde<br />

ele é necessário, independentemente de conflitos. Em Parada de Lucas, as<br />

armas são cursos básicos de informática. No Cantagalo-Pavão-Pavãozinho, a<br />

isca é a linguagem do circo – malabares, trapézio, acrobacias. De lá saíram<br />

dois meninos para o Ringling Bros., o maior circo de picadeiro do mundo.<br />

O prestígio do Afro Reggae também se estende a endereços antes exclusivos<br />

da elite. O Prêmio Orilaxé, entregue a personalidades que contribuíram<br />

com a divulgação e promoção da cultura afro, teve como palco, em 2005, o<br />

Canecão, a mais famosa casa de shows do Rio. Com a presença do ministro<br />

da <strong>Cultura</strong>, Gilberto Gil, um público diferente ocupou a platéia para aplaudir<br />

iniciativas incríveis, como o Juventude e Polícia, espetáculo de dança em parceria<br />

com a Polícia Militar de Minas Gerais. Isso mesmo: PMs fardados dançando<br />

com jovens do Afro, num espetáculo de inesperada harmonia.<br />

As histórias do Afro Reggae chegam agora ao cinema, em cinco<br />

documentários que devem ser lançados em breve. O primeiro a ficar pronto<br />

foi o americano “Favela Rising”, premiado em três mostras. A produção conta<br />

a história de Anderson Sá, sobrevivente da chacina de Vigário Geral, que perdeu<br />

parentes na carnificina, tentou ser traficante, foi baleado, chegou a ficar<br />

paraplégico mas se recuperou, e hoje é mais um “puro-sangue”.<br />

“Temos a cultura do perdedor que deu certo. Sabemos como é o fracasso”,<br />

diz Junior. “Queremos preparar as pessoas para ter poder. A sociedade brasileira<br />

tinha outro destino para elas. Isso precisa mudar.” E assim vai-se alterando a<br />

triste ordem das coisas na desigualdade brasileira. No ritmo do Afro Reggae.<br />

25

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!