Arte e Cultura - Instituto Votorantim
Arte e Cultura - Instituto Votorantim
Arte e Cultura - Instituto Votorantim
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
por _ Iara Biderman<br />
BADAH<br />
MENSAGENS<br />
CIFRADAS DA<br />
JUVENTUDE, AS<br />
PICHAÇÕES<br />
LEVANTAM<br />
QUESTÕES<br />
SOBRE O PODER<br />
DE INCLUSÃO E<br />
OS LIMITES DA<br />
ARTE URBANA<br />
Decifra-me ou devoro-te. No alto dos prédios e viadutos,<br />
nas fachadas das casas e nos muros das grandes<br />
cidades, principalmente, as frases desconexas e<br />
letras indecifráveis repetem o desafio da esfinge. Que<br />
mensagens são essas, que nos joga na cara perguntas<br />
ainda sem respostas consensuais: sinais de deterioração<br />
urbana ou arte de rua?<br />
Para o fotógrafo profissional Iatã Canabrava, é comunicação<br />
visual popular. Convidado para fazer um trabalho<br />
sobre as intervenções visuais urbanas - pichações,<br />
grafites, anúncios, faixas -, Canabrava chamou<br />
jovens fotógrafos e grafiteiros para realizarem juntos<br />
uma leitura da cidade. O resultado foi a exposição<br />
“Spray - Tatuagens Urbanas”, que ficou à mostra na<br />
sede do <strong>Instituto</strong> GTech, em São Paulo, em meados<br />
deste ano, como “uma reflexão, nem a favor, nem contra,<br />
sobre essa demarcação visual do espaço urbano”,<br />
segundo o fotógrafo.<br />
Mas é difícil não ser “contra ou a favor” nessa questão.<br />
“A cidade é o suporte para a pichação e o grafite, e muita<br />
gente não gosta. Muitas vezes, é a situação de um outro<br />
agredindo diretamente algo que é seu”, diz Daniel<br />
Fernandes, o Badah, educador de oficinas do <strong>Instituto</strong><br />
Gtech. A busca desesperada por qualquer espaço de expressão<br />
leva os excluídos da arte e da cultura a marcar<br />
território de forma ostensiva, por vezes agressiva. “Se tivessem<br />
outras oportunidades de atividades culturais, os<br />
pichadores talvez escolhessem outras formas de expressão.<br />
Poderia ser o grafite, mas poderia ser qualquer outra<br />
coisa”, acredita Badah.<br />
Para L. F. A. C., 17, a escolha foi outra.<br />
O garoto era “invocado”, bastava alguém<br />
olhar torto para ele partir para a<br />
briga. “Minha mãe vivia preocupada. Eu<br />
andava com uma turma de gente mais<br />
velha, ‘me achava’. Vivia na rua, era muito<br />
rap e pinga com groselha. Subia em<br />
carro, escalava muro e pichava em uns<br />
lugares incríveis”, conta. O que deu “um<br />
rumo” para L.F., segundo suas próprias<br />
palavras, foi o encontro com a música<br />
clássica. Há quatro anos, participa do<br />
Projeto Guri, e toca violino na orquestra<br />
do projeto, que surgiu no âmbito do governo<br />
do Estado e hoje é uma organização<br />
social na área de cultura que promove<br />
inclusão por meio do ensino coletivo<br />
da música.<br />
A foto de uma construção<br />
pichada em rua de São Paulo<br />
integrou uma mostra em que<br />
fotógrafos e grafiteiros fizeram<br />
uma leitura visual da cidade<br />
47