Arte e Cultura - Instituto Votorantim
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mas já fui muito pior. Às vezes, ficava<br />
perdido nas ruas, procurando um endereço<br />
feito maluco porque tinha vergonha<br />
de pedir informação. Pode imaginar<br />
isso?! Ser ator me obrigou a falar<br />
com as pessoas.<br />
Esse papel desempenhado por organizações<br />
em projetos sociais por<br />
meio da arte e cultura não deveria<br />
ser também da escola pública? Como<br />
foi sua experiência como aluno?<br />
Falta vontade aos governos. Uma<br />
coisa, por exemplo, que ajudaria<br />
muito nos processos de aprendizagem<br />
seria incluir aulas de técnicas<br />
de audiovisual. Eu tive sorte. Estudei<br />
no Ciep (projeto educacional de<br />
Darci Ribeiro no governo Brizola, no<br />
Rio, 1982-1986). Ficava o dia todo<br />
na escola, tinha aulas de capoeira,<br />
de interpretação. Fazia bagunça na<br />
aula da professora Marília, que jus-<br />
tamente dava aula de interpretação. Mesmo assim, foi<br />
uma sorte pegar essa época boa. Hoje em dia, não vejo<br />
esse empenho da escola pública.<br />
O Nós do Cinema tornou-se ONG há apenas dois anos.<br />
Já deu tempo para corrigir possíveis erros de percurso?<br />
Ainda estamos aprendendo e, pelo jeito, vamos aprender<br />
sempre. No início, não estávamos chegando em quem<br />
mais precisava. Existem muitas organizações que acabam<br />
só trabalhando com jovens que têm uma boa base: estrutura<br />
familiar forte, oportunidades em outros projetos e<br />
escola. Aí é muito fácil. Hoje, temos um departamento<br />
socioeducativo preparado para chegar, durante a seleção<br />
para os cursos, na moçada em situação de risco. Já conseguimos<br />
criar perspectivas para meninos que, no passado,<br />
tiveram envolvimento com o tráfico ou passagem pela<br />
Vice-presidente da ONG Nós do Cinema<br />
e já lançando seu primeiro<br />
filme como co-diretor, Leandro<br />
acredita que o ensino das técnicas de<br />
audiovisual nas escolas ajudaria no<br />
processo de aprendizagem<br />
polícia. Mas é claro que a gente não<br />
vence sempre.<br />
Antes de ser ator você tinha oportunidade<br />
de ir ao cinema, shows, teatro,<br />
exposições?<br />
Meus pais curtem muita música, especialmente<br />
samba de roda, black e<br />
soul music. Cresci ouvindo James<br />
Brown, Bezerra da Silva, Dicró. No cinema,<br />
só ia mesmo com meu pai, umas<br />
duas vezes por ano. Hoje, apesar de<br />
algumas promoções para dar acesso à<br />
população pobre, como a temporada<br />
de teatro a R$ 1,00, a cultura ainda é<br />
para a elite. No fim de semana, um ingresso<br />
de cinema custa R$ 18,00.<br />
Quem ganha pouco e tem filhos não<br />
pode gastar isso para ver um filme.<br />
“Cidade de Deus” gerou polêmica e<br />
alguns moradores declararam que o<br />
filme fazia um retrato prejudicial à<br />
comunidade. O filme teve impacto<br />
negativo ou positivo para a Cidade<br />
de Deus real?<br />
De um jeito ou de outro, o filme<br />
contribuiu para que a sociedade começasse<br />
a pensar sobre esse grande<br />
problema que é o domínio do tráfico<br />
em algumas comunidades. Contou<br />
a história da Cidade de Deus, mas<br />
podia ser a história da Rocinha, do<br />
Cantagalo e outras comunidades pobres<br />
do país. O filme foi um soco para<br />
a elite acordar e perceber que a coisa<br />
existe e está cada vez mais próxima.<br />
Com o filme, surgiram vários projetos<br />
sociais na Cidade de Deus,<br />
como a cooperativa de cinema Boca<br />
de Filme. Isso é o mais importante:<br />
fazer algo que tem um impacto positivo<br />
na vida das pessoas.<br />
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