Arte e Cultura - Instituto Votorantim
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intenção original, o efeito do<br />
“branding” avançado é empurrar a cultura<br />
que a hospeda para o fundo do<br />
palco e fazer da marca a estrela. Isso<br />
não é patrocinar cultura, é ser cultura.<br />
E por que não deveria ser assim? Se<br />
as marcas não são produtos, mas conceitos,<br />
atitudes, valores e experiências,<br />
por que também não podem ser cultura?<br />
Esse projeto tem sido tão bemsucedido<br />
que os limites entre patrocinadores<br />
corporativos e a cultura patrocinada<br />
desaparecem completamente.”<br />
Esse processo consolida a<br />
“coisificação do ser e a humanização<br />
das coisas”, segundo o antropólogo<br />
italiano Massimo Canevacci, autor do<br />
livro “<strong>Cultura</strong>s Extremas”.<br />
A International Network for <strong>Cultura</strong>l<br />
Diversity (www.incd.net) promove essa<br />
pauta junto aos associados em mais<br />
de 50 países. Trabalha pelo desenvolvimento<br />
cultural local em face do processo<br />
de homogeneização da cultura,<br />
impetrado sobretudo pela voracidade<br />
dos conglomerados globais da indústria<br />
cultural. Fruto desse trabalho de<br />
pesquisa e discussão e pressão junto<br />
a organismos internacionais como<br />
Unesco, OMC e demais células do sistema<br />
ONU, está a criação no Brasil do<br />
<strong>Instituto</strong> Diversidade <strong>Cultura</strong>l (www.<br />
diversidadecultural.org.br) e a publicação<br />
do livro “Diversidade <strong>Cultura</strong>l”, lançado<br />
recentemente pela editora Escrituras,<br />
em parceria com o <strong>Instituto</strong><br />
Pensarte. A tônica geral da publicação,<br />
que traz 17 textos de especialistas<br />
internacionais, volta-se para a análise<br />
e a proposição de mecanismos internacionais<br />
que auxiliem a salvaguarda<br />
dessas culturas, tanto quanto sua promoção nos ambientes<br />
internos.<br />
Pesquisa da Fundação João Pinheiro, publicada em<br />
1998 pelo Ministério da <strong>Cultura</strong>, aponta que 1% do PIB<br />
brasileiro seria gerado pela cultura. A cada 1 milhão de<br />
reais investido, teríamos 160 postos de trabalho. A relação<br />
emprego/investimento seria a melhor do Brasil,<br />
mesmo em comparação com a indústria automotiva e<br />
de tecnologia. Num país em que o desafio de geração<br />
de trabalho e renda para os jovens em idade de ingressar<br />
no mercado de trabalho é enorme, isso poderia significar<br />
um grande potencial.<br />
Dados de uma pesquisa realizada pelo IBGE em 1999<br />
demonstram, por outro lado, a ausência da oferta cultural<br />
no Brasil: 82% dos municípios brasileiros não possuíam<br />
museus, 84,5% não tinham teatro, 92% não tinham<br />
sequer uma sala de cinema e cerca de 20% não<br />
tinham bibliotecas públicas. Mesmo aqueles municípios<br />
que contavam com bibliotecas, 69% deles possuíam<br />
apenas uma e, nos municípios com até 20 mil habitantes,<br />
935 não tinham nenhuma.<br />
Nos municípios com até 5 mil habitantes, a presença<br />
de livrarias e lojas que vendem discos, fitas e CDs era<br />
muito rara, com percentuais de 13,6% e 5,6%, respectivamente.<br />
E em termos de território brasileiro, dos<br />
5.506 municípios pesquisados, 65% não possuíam esse<br />
comércio. Nos municípios com mais de 50 mil habitantes,<br />
90% tinham esse tipo de loja e, como já era de se<br />
esperar, todos os grandes centros urbanos possuíam<br />
esse gênero de comércio, com destaque para a Região<br />
Sul, onde em 60% dos municípios se identificaram livrarias<br />
e em 40% lojas de discos, fitas e CDs.<br />
Esses dados apontam para um estrangulamento da<br />
capacidade econômica, com uma grande concentração<br />
nos grandes centros, que obviamente não é capaz de<br />
absorver a grande miríade criativa da cultura brasileira.<br />
Por outro lado, mostra a oportunidade de se investir<br />
num mercado promissor e necessário para a própria<br />
valorização das manifestações culturais locais e para o<br />
desenvolvimento de nossas crianças e jovens. Nesse<br />
caso, bom negócio para o Brasil.<br />
Leonardo Brant é presidente da Brant<br />
Associados e do <strong>Instituto</strong> Diversidade<br />
<strong>Cultura</strong>l, autor dos livros “Mercado<br />
<strong>Cultura</strong>l, Políticas <strong>Cultura</strong>is”, vol.1<br />
(org.) e “Diversidade <strong>Cultura</strong>l” (org.)<br />
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