11.07.2015 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Dalma NascimentoPor isso, suas histórias colocam logo o leitor no jogo do texto, quando ela,por exemplo, relata as festivas Lau<strong>de</strong>s da infância com o avô Daniel e os paisCarmen e Lino na Galícia, no Rio e nas férias em São Lourenço, ou narra asgradativas fases das Horas Intermediárias do seu <strong>de</strong>senvolvimento mental, osestudos e leituras preparando-a para ser escritora, o gran<strong>de</strong> amor pela Artee pela Língua Portuguesa, o vigor e esplendores da juventu<strong>de</strong> transformadosem categoria estética. Mas, entre prazeres e alegrias, também <strong>de</strong>screve as cruzesencravadas no meio da jornada dos passos da sua paixão literária. Agora,principia a entoar as Vésperas, sons crepusculares do anoitecer das ilusões,apesar <strong>de</strong> a vida, ainda intensa, nela palpitar. Confessa, então, sua pequenez efragilida<strong>de</strong> humanas diante da inexorável força do <strong>de</strong>stino, conforme escrevenas frases iniciais do livro: “Não sou forte e nem po<strong>de</strong>rosa. Tampouco estouna flor dos 20 anos. (...) Mas quem seja eu hoje, não pu<strong>de</strong> combater as rugas,o <strong>de</strong>clínio (...) Levo no rosto uma história curtida e que me ajuda a envelhecer”.(p. 11)Ao traduzir em folhas poéticas sentenças que a emoção vai ditando, certamenteela segue o preceito bíblico <strong>de</strong> que “a boca só fala do que inundao coração” (ex abundantia cordis os loquitur. Mateus: 12, 34). Aliás, também nascelebrações da Liturgia das Horas da Ida<strong>de</strong> Média exigia-se que a voz do<strong>de</strong>voto, ao rezar, se harmonizasse com as batidas do seu coração. É precisamenteisso que ocorre nos textos tão singulares <strong>de</strong>sta obra inventiva. Vindasdo coração aos lábios para a escrita 6 poética, as palavras trazem humanasrecordações <strong>de</strong> “histórias bem curtidas”, compondo memórias bem diferentesdas convencionais. Tudo vai minando aleatoriamente aos borbotões semplanos estabelecidos nos flashes <strong>de</strong> cenas literalizadas que fluem ao sabor dassensações, segundo proclama o eu narrativo em páginas mais à frente comeloquentes metáforas: “Apalpo a emoção que é a âncora humana” (p. 163) ou“Tenho à disposição o repertório arqueológico dos sentimentos”. (p. 196)6Tal é mesmo o pensamento da autora, porque, no livro Aprendiz <strong>de</strong> Homero (2008), ao iniciar o capítulo“A <strong>de</strong>scoberta do mundo”, ela assim se expressou: “A experiência humana, on<strong>de</strong> quer que se manifeste,começa com o coração. Em meio às veias que irrigam o nosso ser.” (p. 217)168

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!