Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Teria o Império do Brasil um <strong>de</strong>stino trágico?eternida<strong>de</strong> se encontrariam <strong>de</strong>vidamente preparados para suportar as agrurasincessantes oferecidas pela vida, pois se encontravam “mais chegados aocéu, que à terra, e <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> seus pés vendo <strong>de</strong>snovelar-se as nuvens, roncaras tormentas, e disparar o raio”. Uma natureza que ainda prevalecia pelosanos 30 do século XIX, apesar dos maus-tratos do colonizador, e que seguiasendo cantada e <strong>de</strong>scrita por homens como “Langsdorff, Nisved, Spixe Martius, Saint-Hilaire, Debret, e uma multidão <strong>de</strong> outros viajadores (...)(MAGALHÃES, 1978, p. 154).Entretanto, há algo mais na <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> Magalhães que não se reduz ànatureza perfeita que o “Brasil” sempre fora; trata-se do próprio homem quehabitara e mobilizara essa natureza perfeita, e o autor fala dos “primeiroshabitadores”, entes que nasciam poetas e músicos, homens e mulheres que,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre, tocavam a existência afinados pelas “cenas” da natureza e pelamedida da eternida<strong>de</strong>. Eles viviam <strong>de</strong> acordo com as necessida<strong>de</strong>s e sentidosoferecidos por aquilo que era próprio – a natureza, bem como animados ealegres graças à lembrança dos sentimentos <strong>de</strong> completu<strong>de</strong> e <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> queexperimentavam junto à natureza, através da poesia e da música, e isto porque“(...) à Poesia e à Música é dado o assenhorear-se da liberda<strong>de</strong> humana, vibraras fibras do coração, abalar e extasiar o espírito” (Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães,p. 156). Magalhães <strong>de</strong>screve que em meio ao espaço “Brasil”, em um tempooriginário, digno <strong>de</strong> ser lembrado e revigorado em seus aspectos fundamentais,existira uma espécie <strong>de</strong> homem alegre, que seria capaz <strong>de</strong> festejar a natureza,amante da “liberda<strong>de</strong>”, da “in<strong>de</strong>pendência”, bem como “corajoso”,e isto porque saberia se entregar a uma natureza perfeita e sublime capaz <strong>de</strong>alçá-lo aos céus, fazendo-o experimentar a medida do eterno, medida animadorae asseguradora. Não sem motivo, esses homens selvagens rapidamente“abandonavam-se ao Cristianismo e à civilização” (MAGALHÃES,1978, p. 156), e isto porque já teriam experimentado, <strong>de</strong> certa forma, atravésda natureza, a comunhão com o inefável, a própria medida da Eternida<strong>de</strong>, jásendo orientados, ao fim, pelos sentimentos a<strong>de</strong>quados.Magalhães fala, então, <strong>de</strong> uma natureza e <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> homem, <strong>de</strong> umdueto <strong>de</strong>vemos ressaltar uma espécie <strong>de</strong> proporção, <strong>de</strong> simetria exemplar e231