Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Dalma Nascimentoe tornou-se inclusive título da obra O pão <strong>de</strong> cada dia. De fato, o Livro das horastraz mesmo o ser humano <strong>de</strong> “carne e osso” com necessida<strong>de</strong>s biológicas eintelectuais presentes no pensamento <strong>de</strong> Unamuno. E tudo isso vige no imaginário<strong>de</strong> Nélida ao entrelaçar cogitações cotidianas à fértil erudição. Emverda<strong>de</strong>, conforme profere, qualquer coisa é matéria para escrever, divagar einventar: “Fabulo a qualquer pretexto” – diz (p. 156) – “Até quando espalhomanteiga na torrada, abandono a casa, a moldura do pensamento, os modismoscariocas.”Recorda-se também dos amigos escritores e intelectuais que partiram. Detalhasua gran<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> a Clarice, as idas a cartomantes acompanhando-a aosubúrbio, as conversas que tiveram sem relatar confidências pessoais. Lembrase<strong>de</strong> Marly <strong>de</strong> Oliveira, do poeta Bruno Tolentino, <strong>de</strong> Carlos Fuentes, <strong>de</strong>Gabriel Garcia Márques, da sempre amiga Elza Tavares, a quem <strong>de</strong>dicou olivro Aprendiz <strong>de</strong> Homero. Aliás, em 6 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2012, no Colégio EstadualCompositor Luiz Carlos da Vila, em Manguinhos, à Sala <strong>de</strong> LeituraNélida Piñon foi incorporado o acervo da filóloga falecida. De igual modoa romancista se reporta aos frequentes encontros atuais com Mario VargasLlosa, eterno companheiro do literário e das causas latino-americanas, a ponto<strong>de</strong> ele ter-lhe <strong>de</strong>dicado sua obra A guerra do fim do mundo. Em <strong>de</strong>zembro último,na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lima (Peru), ambos participaram <strong>de</strong> um diálogo públicosobre questões estéticas e sociais.Além das lembranças sentimentais o Livro das horas aborda a posição políticaintimorata <strong>de</strong> Nélida diante da ditadura, sua militância, compromisso eparticipação na viagem a Brasília para entregar ao ministro da Justiça, à épocaArmando Falcão, 14 o Manifesto dos Intelectuais, ou “Manifesto dos Mil”, “oprimeiro documento da socieda<strong>de</strong> civil a reclamar a oxigenação dos espaçospúblicos, a abolição da censura, a abertura <strong>de</strong>mocrática”. (p. 29) Em pedaçosoutros, comenta sua experiência vivida numa expedição ao Araguaia diante <strong>de</strong>um jacaré à entrada <strong>de</strong> sua tenda <strong>de</strong> campanha, e sua coragem ao fotografá-lo,14O episódio foi igualmente relatado por Lygia Fagun<strong>de</strong>s Telles, que participou da comitiva a Brasília,no livro da escritora paulista Conspiração <strong>de</strong> nuvens. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rocco, 2007. pp. 59-65.182