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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Teria o Império do Brasil um <strong>de</strong>stino trágico?pela quebra daquela proporção perfeita, per<strong>de</strong>sse, <strong>de</strong>finitivamente, qualquerpossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recuperação, <strong>de</strong> alcançar, enfim, progresso moral e material e<strong>de</strong> tomar um lugar privilegiado no âmbito internacional, no entanto, e quandomenos esperamos, reaparece na narrativa <strong>de</strong> Magalhães um tom pessimista,tom que funda um discurso atento às dificulda<strong>de</strong>s que haveria <strong>de</strong> enfrentar paraa realização <strong>de</strong> seu projeto civilizacional. Era preciso, antes <strong>de</strong> tudo, recuperar omodo <strong>de</strong> ser dos “primeiros habitadores” do “Brasil” e, a partir <strong>de</strong>le, ensinaraos literatos e aos <strong>de</strong>mais homens e mulheres da boa socieda<strong>de</strong>, em tudo egoístas,a medida necessária à concretização <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> moral e rica. 1Mesmo diante <strong>de</strong>sse tempo originário e algo maravilhoso, Magalhães conservavaseu pessimismo e sua <strong>de</strong>silusão, e isto porque <strong>de</strong>sconfiava <strong>de</strong> que oshomens <strong>de</strong> sua época não seriam mo<strong>de</strong>stos o suficiente para se <strong>de</strong>dicar a ouviros primeiros “habitadores”, apren<strong>de</strong>ndo com eles sentimentos como o daalegria, da liberda<strong>de</strong>, da in<strong>de</strong>pendência e da coragem, e mais, não seriam maiscapazes <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r com eles a amar a natureza e a entregar-se às suas necessida<strong>de</strong>se possibilida<strong>de</strong>s. Os seus contemporâneos teriam-se tornado profundamentei(a)morais, distantes da natureza e seguiam sedimentando o modo<strong>de</strong> ser do egoísmo. Como vimos no início <strong>de</strong> nosso texto, o caráter português,egoísta e i(a)moral, teria contaminado o ethos brasileiro, a<strong>de</strong>quado, perfeito emrelação ao espaço “Brasil” e ao <strong>de</strong>ver-ser, “ingênuo”, para recuperar um termocaro ao Romantismo alemão, a Schiller em especial.Em verda<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos recuperar duas compreensões acerca da Históriado “Brasil” que estão sempre em jogo no texto <strong>de</strong> Magalhães, ou se1Segundo Magalhães: “Do que dito havemos, concluímos que à Poesia não se opõe o país, antes pelassuas disposições físicas muito favorece o <strong>de</strong>senvolvimento intelectual; e se até hoje a nossa Poesia nãooferece um caráter inteiramente novo e particular, é que os Poetas, dominados pelos preceitos, atadospela imitação dos Antigos, que como diz Pope, é imitar mesmo a Natureza (como se a Natureza seostentasse sempre a mesma nas regiões polares e nos Trópicos e diversos sendo os costumes, as leis e ascrenças, só a Poesia não partilhasse essa diversida<strong>de</strong>) não tiveram bastante força para <strong>de</strong>spojarem-se dojugo <strong>de</strong>ssas leis, as mais das vezes arbitrárias, daqueles que se arrogaram o direito <strong>de</strong> torturar o Gênio,arvorando-se Legisladores do Parnaso”. (MAGALHÃES, 1978, pp. 157-158)A boa socieda<strong>de</strong> significa, conforme Ilmar Rohloff <strong>de</strong> Mattos: “Aqueles que eram livres, proprietários<strong>de</strong> escravos e representados como brancos.” (MATTOS, 2010, p. 117)233

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