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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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O homem-menino-peregrinoE o acadêmico Peregrino Júnior?O <strong>de</strong>stino dos mo<strong>de</strong>rnistas foi chegar à <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>. E ela os acolheu na horaprópria. Aqui chegaram, entre outros, Manuel Ban<strong>de</strong>ira, Ribeiro Couto, Guilherme<strong>de</strong> Almeida, Cassiano Ricardo, Menotti <strong>de</strong>l Picchia. Peregrino veiono momento exato – para entoar o louvor do poeta Pereira da Silva, acolhidopor Manuel Ban<strong>de</strong>ira.O Rio Gran<strong>de</strong> do Norte é que ficou nele como a terra idílica, a infância,a ida<strong>de</strong> do ouro. Dele extraiu as recordações mais poéticas: “Natal, cida<strong>de</strong>lírica e linda na sua humil<strong>de</strong> paisagem provinciana é meu passeio ao mundomágico da infância. E os banhos alegres e livres no sítio <strong>de</strong> meu avô naRua do Morcego, on<strong>de</strong> cada cajueiro tinha um nome e cada coqueiro umdono...”No espaço da sauda<strong>de</strong>, a terra natal não apresenta <strong>de</strong>feitos. Já a Amazôniafoi para Peregrino Jr., como disse Manuel Ban<strong>de</strong>ira, “um caso clínico”. Elenão a vê com <strong>de</strong>slumbramento, mas com observação. Com os mesmos olhosviu o Rio <strong>de</strong> Janeiro, e, cronista social, registrou-lhe o movimento, em Vidafútil: o recesso dos salões literários, o surgimento do arranha-céu, a extinçãoda sala <strong>de</strong> visitas.No entanto, a crônica social, para Peregrino Jr., não foi mera obra do acaso.Seu estilo tinha algo <strong>de</strong> diferente - uma certa malícia, corroendo a aura quenão pu<strong>de</strong>sse envolver uma domingueira, uma festa do set ou um salão literário.Era o olhar do homem nor<strong>de</strong>stino, cauteloso e crítico, que o fazia ter saídascomo esta, contada por Josué Montello, no seu Diário da Manhã: “Corria emBelém a notícia <strong>de</strong> que o cronista social Peregrino Júnior, tendo caído do cavalo,havia fraturado o braço. Osvaldo Orico, seu velho amigo, foi visitá-lo nohotel em que então morava Peregrino, e o encontrou, realmente, com o braçoengessado na tipoia. Não conteve a pergunta:– Peregrino, como foi que você caiu do cavalo, se eu nunca soube que vocêpraticava esquitação?E Peregrino, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> passar a chave na porta:– Osvaldo, eu não caí do cavalo, caí da re<strong>de</strong>. Mas não ficava bem um cronistasocial cair da re<strong>de</strong>. Não diga isso a ninguém. Fica entre nós.199

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