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Vinicius de Moraes Embaixador do Brasil - Funag

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AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOrespon<strong>de</strong>u discreto, o senhor moreno e grisalho. “– Mas, então, o senhor...”“– Sou Nelson Cavaquinho, para servi-la, minha senhora.”Certa vez, <strong>Vinicius</strong> e Antônio Maria, acompanha<strong>do</strong>s das respectivasamadas <strong>de</strong> ocasião, passaram em minha casa, já tar<strong>de</strong>, para levar-me comele a São Paulo, aon<strong>de</strong> chegamos ao amanhecer. O pernambucano gor<strong>do</strong>dirigia o automóvel, e, <strong>de</strong> repente, pôs-se a reproduzir, em voz alta, a discussãoque imaginava estar-se travan<strong>do</strong> entre o casal que viajava no carro ao la<strong>do</strong>,com o qual ele apostava corrida para ultrapassá-lo: “Cuida<strong>do</strong>, Azeve<strong>do</strong>, vámais <strong>de</strong>vagar... Azeve<strong>do</strong>, você está andan<strong>do</strong> <strong>de</strong>pressa <strong>de</strong>mais... Não corra,Azeve<strong>do</strong>, por favor... Azeve<strong>do</strong>, aquilo é um negro, Azeve<strong>do</strong>!”.Às vezes, íamos ao Michel, que ficava atrás, no “beco das garrafas”,para ouvir Dolores Duran. De uma feita, <strong>Vinicius</strong> e eu percorremos váriospontos <strong>de</strong> encontro <strong>do</strong>s notívagos em Copacabana, até amanhecermos emum bar da praia, comemoran<strong>do</strong> o nascimento, naquele dia, da sua filhaGeorgiana. Afonso Arinos, ao saber disso, insinuou que o poeta, esquerdistafestivo, <strong>de</strong>ra o nome à filha para homenagear Stalin, nasci<strong>do</strong> na Geórgia.(Um dia, Oto, Marco Aurélio Matos e eu resolvemos visitar <strong>Vinicius</strong>, queestava <strong>do</strong>ente. Encontramos Tom Jobim senta<strong>do</strong> à cabeceira <strong>do</strong> poeta. Aconversa <strong>de</strong>scambou para os crimes <strong>de</strong> Stalin. Os amigos mineirospressionavam <strong>Vinicius</strong>, que acabou concordan<strong>do</strong>: “Foi uma gran<strong>de</strong> figura,mas era um monstro moral.”).A Embaixada em Paris lhe foi <strong>de</strong>stinada como posto diplomático. Entãonos afastamos, mas ele precisou <strong>de</strong> dinheiro no Rio, e arranjei-lhe empréstimocom parente meu que geria uma agência bancária. Por carta <strong>de</strong> março <strong>de</strong>1955, <strong>Vinicius</strong> me informava da França que “figura <strong>de</strong> Pedro Nava esteveexcelente aqui. Gran<strong>de</strong>s bate-papos. Ele te contará aí. Consta que meulivro esgotou rápi<strong>do</strong>, e eu estou brilhan<strong>do</strong> muito por aí. Se for verda<strong>de</strong>,escreve contan<strong>do</strong>, pois sempre dá prazer saber que a gente ainda não foiesqueci<strong>do</strong>.” O poeta diplomata pedia ainda: “Manda me avisar da data <strong>do</strong>vencimento.” Eu já estava noivo; ao aproximar-se a ocasião <strong>do</strong> matrimônio,verifiquei que teria necessida<strong>de</strong> das parcas economias imobilizadas pelafiança. Então, escrevi-lhe recordan<strong>do</strong> que a promissória por mim avalizadaestava por vencer; e me lembro <strong>de</strong> cor, até hoje, da sua resposta telegráfica,redigida em latim macarrônico: “Non Afobare Fili Mihi. PapagaiusPagatus Est. <strong>Vinicius</strong>”.Ao felicitar-me pelo casamento, em agosto, contou-me que, apesar dagran<strong>de</strong> agitação social, mesmo em Château d’Eu, “este sarcófago on<strong>de</strong> me12

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