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Vinicius de Moraes Embaixador do Brasil - Funag

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MIGUEL SANCHES NETOse viram partícipes <strong>do</strong>s conflitos bélicos. Renegan<strong>do</strong> seu fascismo juvenil, elepô<strong>de</strong> fazer parte, por exemplo, da FEB, não <strong>de</strong> forma real, mas pela ligaçãoafetiva com Rubem Braga, correspon<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> guerra na Itália, a quem ren<strong>de</strong>homenagem no poema-carta “Mensagem a Rubem Braga”, dan<strong>do</strong> notícias<strong>do</strong> Rio:[...] Digam-lhe, porém, que muito o invejamosTati e eu, e as sauda<strong>de</strong>s são gran<strong>de</strong>s, e eu seria muito felizDe po<strong>de</strong>r estar um pouco ao seu la<strong>do</strong>, farda<strong>do</strong> <strong>de</strong> segun<strong>do</strong> sargento.Essa co-participação na guerra é crucial para que <strong>Vinicius</strong> se encaminhe<strong>de</strong>finitivamente para um discurso mais humano e mais volta<strong>do</strong> para o outro,levan<strong>do</strong>-o a enxergar para além <strong>de</strong> seu gran<strong>de</strong> tema, a mulher. A sua poéticanessa quadra histórica está estampada em um poema (“Mensagem à poesia”)vincula<strong>do</strong> aos conflitos bélicos, no qual o autor se dirige à amada para dizerque a sua preocupação no momento não é com o amor a ela, mas com algomaior, no qual este amor também está incluí<strong>do</strong>: “Digam-lhe que estoutristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro. / Contem-lhe que hámilhões <strong>de</strong> corpos a enterrar / Muitas cida<strong>de</strong>s a reerguer, muita pobreza pelomun<strong>do</strong>”. Diante <strong>do</strong> sofrimento alheio, o poeta <strong>de</strong>ve se manter alerta, atento à<strong>do</strong>r coletiva, afastan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> seus interesses pessoais: “Não <strong>de</strong>vo [...]<strong>de</strong>bruçar-me sobre mim quan<strong>do</strong> a meu la<strong>do</strong> / Há fome e mentira: e o pranto<strong>de</strong> uma criança sozinha numa estrada / Junto a um cadáver <strong>de</strong> mãe”. Essedistanciamento da amada que está perto <strong>de</strong>le e a aproximação <strong>de</strong> umarealida<strong>de</strong> distante na geografia, mas muito próxima psicologicamente, é maisum elemento que mostra o po<strong>de</strong>r unifica<strong>do</strong>r da guerra, que fez <strong>de</strong> boa parte<strong>do</strong> Oci<strong>de</strong>nte uma única e gran<strong>de</strong> nação.Um aforismo poético <strong>de</strong> Murilo Men<strong>de</strong>s, outro amigo importante naformação <strong>de</strong> <strong>Vinicius</strong>, po<strong>de</strong> ilustrar sinteticamente essa dissolução da distânciaque se <strong>de</strong>u na primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong>s anos quarenta:No ano <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>ar Paris <strong>de</strong>stelhavam a casa <strong>de</strong> meu pai.(Carta geográfica, “Fragmentos <strong>de</strong> Paris”)Foi nesse momento que se consoli<strong>do</strong>u a sensibilida<strong>de</strong> para o outro numpoeta que canta suas emoções e sentimentos íntimos, legan<strong>do</strong>-lhe uns poucostextos engaja<strong>do</strong>s. O mais importante, no entanto, não é propriamente o24

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