RICARDO CRAVO ALBINAinda neste ano começa a compor com Ba<strong>de</strong>n Powell <strong>de</strong> Aquino, aquem conhecera como solista <strong>de</strong> violão na Boate Arpège, quan<strong>do</strong> Tom Jobimfazia mais um <strong>de</strong> seus shows. Os primeiros sambas da generosa safra comBa<strong>de</strong>n foram feitos quase <strong>de</strong> uma tacada só. <strong>Vinicius</strong> levou o novo parceiropara sua casa <strong>de</strong> Petrópolis e ali se trancaram ten<strong>do</strong> por companhia umacaixa <strong>de</strong> uísque. Em menos <strong>de</strong> quinze dias estavam prontas jóias como Sambaem Prelúdio, Consolação, Apelo, Tem dó e o Samba da bênção. Neste, opoeta pe<strong>de</strong> a bênção à boa parte <strong>do</strong> olimpo centenário da MPB, começan<strong>do</strong>por chamar-se a si próprio <strong>de</strong> “capitão <strong>do</strong> mato <strong>Vinicius</strong> <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong>, o brancomais preto <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, na linha direta <strong>de</strong> Xangô, saravá!”.O Samba da Bênção não apenas virou um <strong>do</strong>s cartões postais <strong>do</strong> poetaem quase todas suas apresentações públicas. Virou também um gran<strong>de</strong>problema internacional para seus autores. Em 1964, servin<strong>do</strong> em Paris eintegran<strong>do</strong> a <strong>de</strong>legação brasileira junto à UNESCO, o poeta conheceu oprodutor Pierre Barouh. Com ele negociaria a venda <strong>de</strong> um argumentocinematográfico chama<strong>do</strong> Arrastão, que resultaria num filme “<strong>de</strong>testável”,segun<strong>do</strong> <strong>Vinicius</strong>. Mais tar<strong>de</strong>, já no <strong>Brasil</strong>, Barouh pediu aos autores umagravação especial <strong>do</strong> Samba da Bênção, prometen<strong>do</strong>-lhes incluir numa gran<strong>de</strong>produção francesa.Quase <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong>pois, em 1966, foi convida<strong>do</strong> a participar <strong>do</strong> cobiça<strong>do</strong>júri <strong>do</strong> Festival Internacional <strong>do</strong> Cinema em Cannes. Era o ano daapresentação <strong>do</strong> filme <strong>de</strong> Clau<strong>de</strong> Lelouch Um homem, uma mulher, porsinal, gran<strong>de</strong> êxito <strong>de</strong> público. <strong>Vinicius</strong>, contu<strong>do</strong>, teve dupla surpresa quan<strong>do</strong>assistiu ao filme: a primeira, a <strong>de</strong> ouvir o seu Samba da Bênção, e a segunda,a <strong>de</strong> comprovar que nos créditos finais <strong>do</strong> filme era dada uma citaçãomarotíssima que dizia apenas: “musique et paroles: Francis Lai et PierreBarouh”. Como se não apenas a canção título (“Un homme, une femme”,sucesso mundial, <strong>de</strong> resto), mas também o “Samba da Bênção fossemgenericamente da dupla francesa.<strong>Vinicius</strong> reclamou, mas Clau<strong>de</strong> Lelouch alegou que a simples inclusão<strong>do</strong>s nomes <strong>Vinicius</strong> <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong> - Ba<strong>de</strong>n Powell custaria mais <strong>de</strong> 160 milfrancos. O poeta ameaçou processá-lo. Lelouch, pressiona<strong>do</strong>, incluiu o nomeda dupla brasileira no filme, muito embora, ao que comprovou <strong>de</strong>pois <strong>Vinicius</strong>,não em todas as centenas <strong>de</strong> cópias espalhadas pelo mun<strong>do</strong> inteiro...Tão intensa, aliás, seria a temporada etílico-musical com Ba<strong>de</strong>n, entre62 e 63, que internou-se numa clínica para <strong>de</strong>sintoxicar-se, o que, <strong>de</strong> resto,fazia com pru<strong>de</strong>nte frequência, sempre acompanha<strong>do</strong> pelo médico Clementino52
VINICIUS, POETA E DIPLOMATA, NA MÚSICA POPULARFraga Filho. Ali, além <strong>de</strong> limpar o fíga<strong>do</strong>, tinha ainda a missão <strong>de</strong> colocarletra no samba Pra que chorar, que Ba<strong>de</strong>n lhe entregara dias antes. O poetame contou a seguinte historinha: “Mal me <strong>de</strong>itara, passei a ouvir um choro,um chorinho <strong>de</strong> mulheres que vinha <strong>do</strong> quarto ao la<strong>do</strong>. Levantei-me e <strong>de</strong>icom um velhinho à morte, cerca<strong>do</strong> por duas velhinhas inconsoláveis. Volteipara meu quarto, passei a me inspirar no ato <strong>de</strong> chorar das velhinhas e termineio samba alta madrugada. Nesse exato momento, o chorinho das velhinhasparou. Fui até lá, o velhinho estava morto e as velhinhas, ajoelhadas e contritas,rezavam um terço interminável”.Esse perío<strong>do</strong> to<strong>do</strong>, o <strong>de</strong>cênio que me<strong>de</strong>ia entre 1957 e 1967, marca oapogeu <strong>de</strong> <strong>Vinicius</strong> <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong> como letrista <strong>de</strong> música popular, o que, segun<strong>do</strong>alguns críticos mais orto<strong>do</strong>xos, <strong>de</strong>fine também seu afastamento da literatura.Sentia-se resplan<strong>de</strong>cente com o acesso às massas brasileiras, o enormepúblico que só a extensão e o prestígio da música popular po<strong>de</strong>m permitir.Sobre essa dicotomia, música popular ou literatura, eu ouvi <strong>do</strong> poeta certanoite no Antonio’s, lá por 1968 ou 1969, uma sentida confissão feita a OttoLara Resen<strong>de</strong>, Paulo Men<strong>de</strong>s Campos, Sérgio Porto e, creio, Fernan<strong>do</strong>Sabino: “Você, Otto, está me cobran<strong>do</strong> mais um livro <strong>de</strong> poesia. Só que euquero lhe dizer que o meu trabalho como letrista nesses anos to<strong>do</strong>s dá parafazer <strong>de</strong> oito a <strong>de</strong>z livros. E mais: apenas uma ou duas <strong>de</strong>ssas letras meren<strong>de</strong>m o <strong>do</strong>bro que <strong>do</strong>is ou três livros <strong>de</strong> literatura. E, finalmente, meu xequematepara esses críticos que me ficam a fazer cobranças. Essas canções dãomemuito prazer, porque minhas letras são reverenciadas por to<strong>do</strong>s osbrasileiros. A maioria – para minha glória – as cantas <strong>de</strong> <strong>do</strong>r, quan<strong>do</strong> estãoalegres ou tristes. Ou seja, o <strong>de</strong>stino <strong>do</strong> poeta é esse mesmo, fazer <strong>de</strong> suapoesia uma arma para a emoção das pessoas. Portanto, eu recuso qualquercobrança”.<strong>Vinicius</strong>, com efeito, trabalhou muitíssimo. Entre 1962 a 1967 são gravadasquase cem composições suas. O poeta participa intensamente <strong>de</strong> shows noRio. Em 1962 comanda Encontro, ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> Tom Jobim, João Gilberto eOs Cariocas, com direção <strong>de</strong> Aluízio <strong>de</strong> Oliveira (na boate Au Bom Gourmet),quan<strong>do</strong> são lançadas músicas dar<strong>de</strong>jantes como Garota <strong>de</strong> Ipanema, Sódanço samba, Insensatez, Ela é carioca, Samba <strong>do</strong> avião e o Samba daBênção. Nessa mesma boate foi apresentada sua peça Pobre menina rica(com músicas <strong>de</strong> Carlos Lyra), que projeta Nara Leão e ainda pepitas dacanção como Primavera, Sabe você e Pau <strong>de</strong> arara. Nesse ano grava oprimeiro disco como cantor (para a Elenco), estrean<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> da cantora-53
- Page 1: EMBAIXADOR DO BRASIL
- Page 6 and 7: Tramitação Legislativa, 99a. Mens
- Page 8 and 9: CELSO AMORIMmovimento de “caça
- Page 10 and 11: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOHelle
- Page 12 and 13: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOrespo
- Page 14 and 15: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOEm um
- Page 16 and 17: MIGUEL SANCHES NETOUma visão, port
- Page 18 and 19: MIGUEL SANCHES NETOele encontra um
- Page 20 and 21: MIGUEL SANCHES NETOerótica perturb
- Page 22 and 23: MIGUEL SANCHES NETOcomo força motr
- Page 24 and 25: MIGUEL SANCHES NETOse viram partíc
- Page 26 and 27: MIGUEL SANCHES NETOGentil-homem ins
- Page 28 and 29: MIGUEL SANCHES NETOmanifestava pela
- Page 30 and 31: MIGUEL SANCHES NETOMe diga sinceram
- Page 32 and 33: MIGUEL SANCHES NETONABUCO, Joaquim.
- Page 34 and 35: RICARDO CRAVO ALBINliteratura, de p
- Page 36 and 37: RICARDO CRAVO ALBINouvidos - e o co
- Page 38 and 39: RICARDO CRAVO ALBINLogo na loura fi
- Page 40 and 41: RICARDO CRAVO ALBINsala um pequeno
- Page 42 and 43: RICARDO CRAVO ALBINO Cônsul Vinici
- Page 44 and 45: RICARDO CRAVO ALBINO senhor tenha u
- Page 46 and 47: RICARDO CRAVO ALBINAlmeida. Este sa
- Page 48 and 49: RICARDO CRAVO ALBINOh! minha amada
- Page 50 and 51: RICARDO CRAVO ALBINum violão total
- Page 54 and 55: RICARDO CRAVO ALBINatriz Odette Lar
- Page 57 and 58: Vinicius de Moraes e a PátriaFelip
- Page 59 and 60: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAgraç
- Page 61 and 62: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAPerga
- Page 63: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAque p
- Page 66 and 67: FORMATURA IRBRafastar-se de nosso c
- Page 69 and 70: Tramitação no Poder Executivo69
- Page 71 and 72: TRAMITAÇÃO NO PODER EXECUTIVO71
- Page 73 and 74: Artigo de Bernardo de Mello Franco,
- Page 75 and 76: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOOs 13 diplo
- Page 77 and 78: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOUm dossiê
- Page 79 and 80: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOCentro do R
- Page 81 and 82: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOexilados a
- Page 83 and 84: ARTIGO NO JORNAL O GLOBO83
- Page 85 and 86: Tramitação Legislativaa. Mensagem
- Page 87 and 88: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAb. Parecer
- Page 89 and 90: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAO mesmo Ruy
- Page 91 and 92: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAditaduras.
- Page 93 and 94: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAMas é a vi
- Page 95 and 96: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAd. Votaçã
- Page 97 and 98: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVADeclaraçã
- Page 99 and 100: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVA99
- Page 101 and 102: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAf. Votaçã
- Page 103 and 104:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAAprovada.É
- Page 105:
Lei nº 12.265, de 21 de junho de 2
- Page 109 and 110:
109
- Page 111 and 112:
ANEXOSVinicius, aos 20 anos de idad
- Page 113 and 114:
ANEXOSVinicius de Moraes, na décad
- Page 115 and 116:
ANEXOSVinicius de Moraes, com o Pre
- Page 117 and 118:
ANEXOSCom o Presidente Luiz Inácio
- Page 119 and 120:
ANEXOS119
- Page 121 and 122:
ANEXOSCom o Presidente Luiz Inácio
- Page 123 and 124:
ANEXOSManuscrito de carta ao amigo
- Page 125 and 126:
ANEXOSCom Baden Powell, em 1964.125
- Page 127 and 128:
ANEXOSCom Maria Bethânia, em 1966.
- Page 129:
ANEXOSVinicius, em 1976.129