FELIPE FORTUNAviu cada vez mais dividi<strong>do</strong>, buscan<strong>do</strong> sempre uma conciliação entre ofuncionário e o compositor com incursões noturnas pelas casas <strong>de</strong> show. Hámuita ironia quan<strong>do</strong> o flagramos preocupadíssimo já no seu primeiro Postodiplomático, o Consula<strong>do</strong> Geral em Los Angeles, cida<strong>de</strong> em que acabara <strong>de</strong>escrever o poema "Pátria Minha". Nostálgico, seguramente toca<strong>do</strong> pelo tommelancólico da "Canção <strong>do</strong> Exílio", sentin<strong>do</strong> falta <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> e <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s, o poetaestá em dúvida sobre a reação que po<strong>de</strong>ria provocar um verso <strong>do</strong> seu poema.Numa carta a Manuel Ban<strong>de</strong>ira, <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1948, ele <strong>de</strong>staca o verso,para fazer uma pergunta em seguida: "A minha pátria não é filha <strong>de</strong>negociante nem mulher <strong>de</strong> militar. Diga se você acha se vão me <strong>de</strong>spedirou pren<strong>de</strong>r por causa. (...) Não quero trapalhadas agora. Estou pagan<strong>do</strong>lentamente minhas dúvidas. (...) Depois po<strong>de</strong>m me pren<strong>de</strong>r, se quiserem.".O ex-Censor Cinematográfico agora se preocupa com censura - e logopercebe os conflitos nos quais sua arte po<strong>de</strong>ria metê-lo. O poema "PátriaMinha" foi afinal publica<strong>do</strong> em livro anos <strong>de</strong>pois – e, <strong>de</strong> fato, nele não seencontra aquele verso adverso: o autocensor falou mais alto. E talvez o versotenha si<strong>do</strong> substituí<strong>do</strong> por outros mais profun<strong>do</strong>s e menos agressivos, a exemplo<strong>de</strong>Não te direi o nome, pátria minhaTeu nome é pátria amada, é patriazinhaNão rima com mãe gentilEis, no entanto, a única cisão que o poeta jamais apresentou: a <strong>do</strong>sentimento nacional e genuinamente patriótico, no qual to<strong>do</strong> o ufanismo setransforma numa impressão intimista e melancólica, provocada pela distânciaque separa o poeta <strong>de</strong> "Uma ilha <strong>de</strong> ternura: a Ilha / <strong>Brasil</strong>, talvez.".É com essa nota <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrama<strong>do</strong> lirismo que o poeta inicia o poema:A minha pátria é como se não fosse, é íntimaDoçura e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> chorar; uma criança <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>É minha pátria. Por isso, no exílioAssistin<strong>do</strong> <strong>do</strong>rmir meu filhoChoro <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> minha pátria.Esse amor ao <strong>Brasil</strong> não foi adquiri<strong>do</strong> apenas quan<strong>do</strong> <strong>Vinicius</strong> <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong>passou a representar o país diplomaticamente. Ainda estudante em Oxford,58
VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAgraças a uma bolsa concedida pelo British Council, ele se envolveu em lutabraçal com um estudante inglês que "disse à mesa coisas <strong>de</strong>sairosas sobre o<strong>Brasil</strong>." Esse mesmo sentimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa e <strong>de</strong>safio seria exibi<strong>do</strong>, tempos<strong>de</strong>pois, no poema "Olhe Aqui, Mr. Buster...", espécie <strong>de</strong> acerto <strong>de</strong> contascom a arrogância <strong>de</strong> um amigo norte-americano, contra o qual o poeta lançoumão da <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> uma parte <strong>do</strong> patrimônio imaterial brasileiro:Mas me diga sinceramente uma coisa, Mr. Buster:O Sr. sabe lá o que é um choro <strong>de</strong> Pixinguinha?O Sr. sabe lá o que é ter uma jabuticabeira no quintal?O Sr. sabe lá o que é torcer pelo Botafogo?Ao longo da vida e da obra <strong>de</strong> <strong>Vinicius</strong> <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong>, foram numerosasessas <strong>de</strong>monstrações emotivas pelos valores mais caros à nacionalida<strong>de</strong>. Osentimento <strong>de</strong> exílio e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senraizamento costumava afligir o poeta até quan<strong>do</strong>caminhava em ruas estrangeiras, como bem o mostra o "Poema <strong>de</strong> Auteil".Ali sobressaem espasmos <strong>de</strong> quem praticamente havia surta<strong>do</strong> <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>.Mesmo quan<strong>do</strong> a situação política no <strong>Brasil</strong> se agravou, e o diplomata se viucomo que força<strong>do</strong> a <strong>de</strong>ixar Paris e regressar ao Itamaraty <strong>do</strong> Rio, não lhefaltava nem mesmo a lembrança da celebração <strong>do</strong> 7 <strong>de</strong> setembro. É o que<strong>de</strong>monstra, em 1964, uma carta famosa – porque também <strong>de</strong>clamada num<strong>do</strong>s seus shows – na qual, dirigin<strong>do</strong>-se a Tom Jobim, ele faz nova <strong>de</strong>claração<strong>de</strong> amor: "Deixei Paris para trás com a sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> amor, epela frente tenho o <strong>Brasil</strong> que é uma paixão permanente em minha vida<strong>de</strong> constante exila<strong>do</strong>. A coisa ruim é que hoje é 7 <strong>de</strong> setembro, a datanacional, e eu sei que em nossa Embaixada há uma festa que me cairiamuito bem, com o Ba<strong>de</strong>n mandan<strong>do</strong> brasa no violão. Há pouco telefoneipara lá, para cumprimentar o embaixa<strong>do</strong>r, e veio to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ao telefone.Estão queiman<strong>do</strong> um óleo firme!".O poema "Pátria Minha", por mais efusivo que fosse, atraiu a atenção <strong>de</strong>um poeta também diplomata, a quem notoriamente <strong>de</strong>sgostava qualquermanifestação sentimental em literatura: João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto. Foi elequem editou 50 exemplares <strong>de</strong> uma plaqueta com o poema, em 1949,<strong>de</strong>stinan<strong>do</strong>-os aos amigos. Trabalho <strong>de</strong> artesão, saí<strong>do</strong> da prensa manual queo poeta mantinha em Barcelona, a título <strong>de</strong> terapia para atenuar a forte <strong>do</strong>r<strong>de</strong> cabeça que o atacou durante décadas. Foi justamente ali pelo final <strong>do</strong>sanos 40 que a amiza<strong>de</strong> <strong>do</strong>s poetas se tornou ainda mais sólida – com a59
- Page 1:
EMBAIXADOR DO BRASIL
- Page 6 and 7:
Tramitação Legislativa, 99a. Mens
- Page 8 and 9: CELSO AMORIMmovimento de “caça
- Page 10 and 11: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOHelle
- Page 12 and 13: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOrespo
- Page 14 and 15: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOEm um
- Page 16 and 17: MIGUEL SANCHES NETOUma visão, port
- Page 18 and 19: MIGUEL SANCHES NETOele encontra um
- Page 20 and 21: MIGUEL SANCHES NETOerótica perturb
- Page 22 and 23: MIGUEL SANCHES NETOcomo força motr
- Page 24 and 25: MIGUEL SANCHES NETOse viram partíc
- Page 26 and 27: MIGUEL SANCHES NETOGentil-homem ins
- Page 28 and 29: MIGUEL SANCHES NETOmanifestava pela
- Page 30 and 31: MIGUEL SANCHES NETOMe diga sinceram
- Page 32 and 33: MIGUEL SANCHES NETONABUCO, Joaquim.
- Page 34 and 35: RICARDO CRAVO ALBINliteratura, de p
- Page 36 and 37: RICARDO CRAVO ALBINouvidos - e o co
- Page 38 and 39: RICARDO CRAVO ALBINLogo na loura fi
- Page 40 and 41: RICARDO CRAVO ALBINsala um pequeno
- Page 42 and 43: RICARDO CRAVO ALBINO Cônsul Vinici
- Page 44 and 45: RICARDO CRAVO ALBINO senhor tenha u
- Page 46 and 47: RICARDO CRAVO ALBINAlmeida. Este sa
- Page 48 and 49: RICARDO CRAVO ALBINOh! minha amada
- Page 50 and 51: RICARDO CRAVO ALBINum violão total
- Page 52 and 53: RICARDO CRAVO ALBINAinda neste ano
- Page 54 and 55: RICARDO CRAVO ALBINatriz Odette Lar
- Page 57: Vinicius de Moraes e a PátriaFelip
- Page 61 and 62: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAPerga
- Page 63: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAque p
- Page 66 and 67: FORMATURA IRBRafastar-se de nosso c
- Page 69 and 70: Tramitação no Poder Executivo69
- Page 71 and 72: TRAMITAÇÃO NO PODER EXECUTIVO71
- Page 73 and 74: Artigo de Bernardo de Mello Franco,
- Page 75 and 76: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOOs 13 diplo
- Page 77 and 78: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOUm dossiê
- Page 79 and 80: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOCentro do R
- Page 81 and 82: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOexilados a
- Page 83 and 84: ARTIGO NO JORNAL O GLOBO83
- Page 85 and 86: Tramitação Legislativaa. Mensagem
- Page 87 and 88: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAb. Parecer
- Page 89 and 90: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAO mesmo Ruy
- Page 91 and 92: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAditaduras.
- Page 93 and 94: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAMas é a vi
- Page 95 and 96: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAd. Votaçã
- Page 97 and 98: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVADeclaraçã
- Page 99 and 100: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVA99
- Page 101 and 102: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAf. Votaçã
- Page 103 and 104: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAAprovada.É
- Page 105: Lei nº 12.265, de 21 de junho de 2
- Page 109 and 110:
109
- Page 111 and 112:
ANEXOSVinicius, aos 20 anos de idad
- Page 113 and 114:
ANEXOSVinicius de Moraes, na décad
- Page 115 and 116:
ANEXOSVinicius de Moraes, com o Pre
- Page 117 and 118:
ANEXOSCom o Presidente Luiz Inácio
- Page 119 and 120:
ANEXOS119
- Page 121 and 122:
ANEXOSCom o Presidente Luiz Inácio
- Page 123 and 124:
ANEXOSManuscrito de carta ao amigo
- Page 125 and 126:
ANEXOSCom Baden Powell, em 1964.125
- Page 127 and 128:
ANEXOSCom Maria Bethânia, em 1966.
- Page 129:
ANEXOSVinicius, em 1976.129