MIGUEL SANCHES NETOmanifestava pela presença intelectual da Europa e a sentimental <strong>do</strong> espaçoem que Nabuco se criou. Vale a pena reler esta bela página da reflexão sobrenossa condição bipartida:Estamos assim con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s à mais terrível das instabilida<strong>de</strong>s, e é istoo que explica o fato <strong>de</strong> tantos sul-americanos preferirem viver naEuropa... Não são os prazeres <strong>do</strong> rastaquerismo, como se crismou emParis a vida elegante <strong>do</strong>s milionários da Sul-América, a explicação émais <strong>de</strong>licada e mais profunda: é a atração das afinida<strong>de</strong>s esquecidas,mas não apagadas, que estão em to<strong>do</strong>s nós, da nossa comum origemeuropeia. A instabilida<strong>de</strong> a que me refiro provém <strong>de</strong> que na Américafalta à paisagem, à vida, ao horizonte, à arquitetura, a tu<strong>do</strong> que noscerca, o fun<strong>do</strong> histórico, a perspectiva humana; e que na Europa nosfalta a pátria, isto é, a fôrma em que cada um <strong>de</strong> nós foi vaza<strong>do</strong> aonascer. De um la<strong>do</strong> <strong>do</strong> mar, sente-se a ausência <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>; <strong>do</strong> outro,a ausência <strong>do</strong> país. O sentimento em nós é brasileiro, a imaginaçãoeuropeia. (Minha formação, p. 49)Habitante <strong>de</strong> um outro tempo, quan<strong>do</strong> se estabelecia a hegemonia norteamericana,<strong>Vinicius</strong>, que tinha se forma<strong>do</strong> na língua francesa, cujos gran<strong>de</strong>sescritores lhe influenciaram, também vivia, pelo viés <strong>do</strong> cinema, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> umhorizonte americano, sofren<strong>do</strong> assim uma dupla atração <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, tanto porParis, capital cultural da Europa eterna, quanto pela nova se<strong>de</strong> artística daAmérica, Hollywood, que disseminava filmes e i<strong>de</strong>ologias. Não foi, por acaso,portanto, que o poeta se encaminhou para Los Angeles.Nomea<strong>do</strong> para este posto em 1946, on<strong>de</strong> fica até 1950, quan<strong>do</strong> morreseu pai, <strong>Vinicius</strong> po<strong>de</strong> se entregar a to<strong>do</strong>s os divertimentos <strong>de</strong> um mun<strong>do</strong>festivo, conhecen<strong>do</strong> gente e técnicas <strong>do</strong> cinema. Perío<strong>do</strong> mais volta<strong>do</strong> àobservação <strong>do</strong>s acontecimentos <strong>do</strong> cinema e <strong>do</strong> jazz, em que o poeta nãoproduziu muita poesia, esses anos apresentam como resulta<strong>do</strong> direto o contatocom um mun<strong>do</strong> que, para ele, era apenas ficção em celulói<strong>de</strong>. Seus poemasamericanos, no entanto, são raros e se <strong>de</strong>stacam principalmente comocenários, tal como: “Crepúsculo em Nova York” e “História passional,Hollywood, Califórnia”.Depois <strong>de</strong> uma temporada no Rio e <strong>de</strong> viagens para a Europa, parte em1953 para Paris, on<strong>de</strong> fica lota<strong>do</strong> até 1957. São nos anos parisienses que seintensifica a “atração <strong>do</strong> país”, que já se manifestara em seu outro posto,28
VINICIUS DE MORAES: O POETA DA PROXIMIDADEquan<strong>do</strong> ele escrevera “Balada <strong>do</strong> Morto Vivo”, recuperan<strong>do</strong> um casoamazônico, e um poema como “Pátria minha”, nova canção <strong>do</strong> exílio, em que<strong>Vinicius</strong> humaniza a pátria, transforman<strong>do</strong>-a em mulher acolhe<strong>do</strong>ra, fiel portantoà sua poética da paixão:Pátria minha, e perfuma o teu chão...Que vonta<strong>de</strong> me vem <strong>de</strong> a<strong>do</strong>rmecer-meEm teus <strong>do</strong>ces montes, pátria minhaAtento à fome em tuas entranhasE ao batuque <strong>do</strong> teu coração.Pelo último verso, percebemos em sua obra uma maior visibilida<strong>de</strong> dacultura musical popular, que seduzirá o poeta daqui para frente, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ser uma paixão meio secreta. Em outro poema <strong>de</strong>ssa época, “Copacabana”,ele liga sua poesia a essa praia carioca, antecipan<strong>do</strong> sua futura personalida<strong>de</strong><strong>de</strong> habitante das geografias planas. Troca as montanhas, presentes nos poemasda fase inicial, e símbolos da elevação rumo ao sublime, pelo nível zero <strong>de</strong>altitu<strong>de</strong>, novo en<strong>de</strong>reço poético.Além <strong>de</strong> dar à imaginação estrangeira uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coisaexperimentada, essas longas permanências fora <strong>do</strong> país <strong>de</strong>svelam o sentimento<strong>do</strong> país, que ele saberá incorporar às suas letras e à sua maneira <strong>de</strong> ser apartir <strong>de</strong> fins <strong>do</strong>s anos cinquenta, perío<strong>do</strong> em que a música ganha importância(principalmente financeira) em sua vida e o projeta num outro nível <strong>de</strong>recepção, mais amplo. Começam então os retratos enamora<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>,tu<strong>do</strong> funcionan<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> atraí-lo <strong>de</strong> volta a esta fôrma em que nasceu,da qual ele se sente separa<strong>do</strong>, como confessa em “Poema <strong>de</strong> Auteil”: “Nãohá nenhuma razão no mun<strong>do</strong> [...] / Para eu estar andan<strong>do</strong> nesse meio-dia poresta rua estrangeira / Eu <strong>de</strong>via estar andan<strong>do</strong> numa rua chamada Travessa DiCavalcanti / No Alto da Tijuca, ou melhor na Gávea, ou melhor ainda, nola<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> Ipanema”.Todavia, o mais próximo <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> que consegue chegar é Montevidéu –posto que assume em 1958.Quan<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua saída <strong>de</strong> Los Angeles, um milionário americano nãocompreen<strong>de</strong> a opção <strong>do</strong> cônsul que po<strong>de</strong>ria permanecer mais tempo nosEsta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Esse raciocínio autocentra<strong>do</strong> receberá uma resposta nosmesmos termos, em um poema incluí<strong>do</strong> sob a rubrica <strong>de</strong> “A lua <strong>de</strong>Montevidéu”:29
- Page 1: EMBAIXADOR DO BRASIL
- Page 6 and 7: Tramitação Legislativa, 99a. Mens
- Page 8 and 9: CELSO AMORIMmovimento de “caça
- Page 10 and 11: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOHelle
- Page 12 and 13: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOrespo
- Page 14 and 15: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOEm um
- Page 16 and 17: MIGUEL SANCHES NETOUma visão, port
- Page 18 and 19: MIGUEL SANCHES NETOele encontra um
- Page 20 and 21: MIGUEL SANCHES NETOerótica perturb
- Page 22 and 23: MIGUEL SANCHES NETOcomo força motr
- Page 24 and 25: MIGUEL SANCHES NETOse viram partíc
- Page 26 and 27: MIGUEL SANCHES NETOGentil-homem ins
- Page 30 and 31: MIGUEL SANCHES NETOMe diga sinceram
- Page 32 and 33: MIGUEL SANCHES NETONABUCO, Joaquim.
- Page 34 and 35: RICARDO CRAVO ALBINliteratura, de p
- Page 36 and 37: RICARDO CRAVO ALBINouvidos - e o co
- Page 38 and 39: RICARDO CRAVO ALBINLogo na loura fi
- Page 40 and 41: RICARDO CRAVO ALBINsala um pequeno
- Page 42 and 43: RICARDO CRAVO ALBINO Cônsul Vinici
- Page 44 and 45: RICARDO CRAVO ALBINO senhor tenha u
- Page 46 and 47: RICARDO CRAVO ALBINAlmeida. Este sa
- Page 48 and 49: RICARDO CRAVO ALBINOh! minha amada
- Page 50 and 51: RICARDO CRAVO ALBINum violão total
- Page 52 and 53: RICARDO CRAVO ALBINAinda neste ano
- Page 54 and 55: RICARDO CRAVO ALBINatriz Odette Lar
- Page 57 and 58: Vinicius de Moraes e a PátriaFelip
- Page 59 and 60: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAgraç
- Page 61 and 62: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAPerga
- Page 63: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAque p
- Page 66 and 67: FORMATURA IRBRafastar-se de nosso c
- Page 69 and 70: Tramitação no Poder Executivo69
- Page 71 and 72: TRAMITAÇÃO NO PODER EXECUTIVO71
- Page 73 and 74: Artigo de Bernardo de Mello Franco,
- Page 75 and 76: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOOs 13 diplo
- Page 77 and 78: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOUm dossiê
- Page 79 and 80:
ARTIGO NO JORNAL O GLOBOCentro do R
- Page 81 and 82:
ARTIGO NO JORNAL O GLOBOexilados a
- Page 83 and 84:
ARTIGO NO JORNAL O GLOBO83
- Page 85 and 86:
Tramitação Legislativaa. Mensagem
- Page 87 and 88:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAb. Parecer
- Page 89 and 90:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAO mesmo Ruy
- Page 91 and 92:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAditaduras.
- Page 93 and 94:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAMas é a vi
- Page 95 and 96:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAd. Votaçã
- Page 97 and 98:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVADeclaraçã
- Page 99 and 100:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVA99
- Page 101 and 102:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAf. Votaçã
- Page 103 and 104:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAAprovada.É
- Page 105:
Lei nº 12.265, de 21 de junho de 2
- Page 109 and 110:
109
- Page 111 and 112:
ANEXOSVinicius, aos 20 anos de idad
- Page 113 and 114:
ANEXOSVinicius de Moraes, na décad
- Page 115 and 116:
ANEXOSVinicius de Moraes, com o Pre
- Page 117 and 118:
ANEXOSCom o Presidente Luiz Inácio
- Page 119 and 120:
ANEXOS119
- Page 121 and 122:
ANEXOSCom o Presidente Luiz Inácio
- Page 123 and 124:
ANEXOSManuscrito de carta ao amigo
- Page 125 and 126:
ANEXOSCom Baden Powell, em 1964.125
- Page 127 and 128:
ANEXOSCom Maria Bethânia, em 1966.
- Page 129:
ANEXOSVinicius, em 1976.129