RICARDO CRAVO ALBINO senhor tenha um caco <strong>de</strong> friso <strong>do</strong> ParthenonE no quintal <strong>de</strong> sua casa em Hollywood o senhor tenha um poço <strong>de</strong>petróleoTrabalhan<strong>do</strong> <strong>de</strong> dia para lhe dar dinheiro e à noite para lhe darinsôniaEstá muito certo que em ambas as residências o senhor tenhagigantescas gela<strong>de</strong>irasCapazes <strong>de</strong> conservar o seu preconceito racial(...)Está tu<strong>do</strong> muito certo, Mr. Buster – o senhor ainda acabarágoverna<strong>do</strong>r <strong>do</strong> seu esta<strong>do</strong>E sem dúvida presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> muitas companhias <strong>de</strong> petróleo, aço econsciências enlatadasMas me diga uma coisa, Mr. BusterMe diga sinceramente uma coisa, Mr. BusterO senhor sabe lá o que é um choro <strong>de</strong> Pixinguinha?O senhor sabe lá o que é ter uma jaboticabeira no quintal?O senhor sabe lá o que é torcer pelo Botafogo?”No Rio, <strong>Vinicius</strong> <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong> <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> enveredar por <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> jornalismocom mais firmeza. Trabalhan<strong>do</strong> no Palácio <strong>do</strong> Itamaraty da velha Rua Larga,o poeta mantém no jornal Última Hora, uma participação muito ativa,assinan<strong>do</strong> uma crônica diária que tinha o título genérico <strong>de</strong> “Na hora H”. Aofinal <strong>de</strong> 1952, está lota<strong>do</strong> num setor burocrático chama<strong>do</strong> Comissão <strong>de</strong>Organismos Internacionais e ali recebe um diplomata em cargo inicial, AfonsoArinos <strong>de</strong> Melo Franco, filho <strong>de</strong> queri<strong>do</strong> amigo seu, também intelectual <strong>de</strong>primeira linha.O jovem Afonso, futuro integrante da Aca<strong>de</strong>mia <strong>Brasil</strong>eira <strong>de</strong> Letras (em1999), afeiçoa-se ao poeta e testemunha uma outra faceta singular <strong>do</strong> <strong>Vinicius</strong>jornalista. Certa tar<strong>de</strong>, o contínuo da Última Hora, que diariamente recolhiaa matéria <strong>do</strong> colabora<strong>do</strong>r e lhe entregava correspondência, chegou aoItamaraty com uma enorme caixa entupida <strong>de</strong> cartas. Afonso, entre surpresoe curioso, pergunta-lhe se aquela montanha <strong>de</strong> correspondência era para ele.“– Não, é para a Helenice”, respon<strong>de</strong> o poeta meio sem jeito. Helenice era atitular <strong>do</strong> consultório sentimental que era publica<strong>do</strong> no semanário Flan,edita<strong>do</strong> pela Última Hora a cada <strong>do</strong>mingo, on<strong>de</strong> também escrevia OttoLara Resen<strong>de</strong>. Muita gente imaginava que a coluna “Helenice” pu<strong>de</strong>sse ser44
VINICIUS, POETA E DIPLOMATA, NA MÚSICA POPULARfeita (ou ao menos inspirada) por Helle-Nice, mulher francesa <strong>de</strong> notorieda<strong>de</strong>no Rio intelectual <strong>do</strong>s anos 30. Ela era uma senhora <strong>de</strong> hábitos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>savança<strong>do</strong>s para a época – cigarro sempre à boca, lábios muito vermelhos,roupas ousadas, <strong>de</strong>cotes escandalosos. Helle-Nice dava-se ao luxo <strong>de</strong> sercorre<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> automóveis e disputou várias vezes o circuito da Gávea, lápelos anos <strong>de</strong> 37 a 39. Ficou célebre na crônica automobilística o aci<strong>de</strong>nteocorri<strong>do</strong> com sua baratinha azul <strong>de</strong> corrida, quan<strong>do</strong> uma roda <strong>do</strong> carro soltousee matou quatro pessoas.“– Mas, <strong>Vinicius</strong>, e por que essas cartas todas vêm para você e não vãopara a Helenice?”, questionou Afonso. “– Ora, Afonsinho, a Helenice sou eu.Desse mo<strong>do</strong>, o jornal me paga mais um bom dinheirinho... Ah! se você quisersaber o porquê da montanha <strong>de</strong> correspondência, é <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à receita secretacontra a perda <strong>de</strong> cabelo que eu prometi dar para quem me escrevesse.Aliás, é ótima, você ainda não precisa, mas se algum dia quiser, anote aí:escove o couro cabelu<strong>do</strong> com uma escova <strong>de</strong> pelos <strong>de</strong> arame e lave bastantecom sabão Aristolino. É tiro e queda!”Naquela altura, início <strong>do</strong>s anos 50, o eixo da boemia musical se<strong>de</strong>slocara da Lapa para as boates <strong>de</strong> Copacabana. O samba-canção<strong>do</strong>lori<strong>do</strong>, em que corações <strong>de</strong>spedaça<strong>do</strong>s e amores frustra<strong>do</strong>s eram a tônicaforte, estava em franca ascensão junto ao gosto <strong>do</strong> público. Havia um da<strong>do</strong>novíssimo e estimulante no front da música carioca. Era o interesse <strong>de</strong>poetas e jornalistas, muitos <strong>de</strong>les liga<strong>do</strong>s a jornais, como Antônio Maria,Fernan<strong>do</strong> Lobo, Reynal<strong>do</strong> Dias Leme, Sérgio Porto, Ricar<strong>do</strong> Galeno, emingressar na canção popular para cantar a solidão ou a <strong>do</strong>r <strong>do</strong> amor. Masnão era uma maladie d’amour qualquer, porque, helàs!, era assumidamenteinspirada no chique das caves francesas <strong>de</strong> Sartre e Simone <strong>de</strong> Beauvoir,on<strong>de</strong> o existencialismo transbordava angústia e solidão, personificadas nocanto rouco e sombrio da musa Juliette Greco. <strong>Vinicius</strong> ficouimpressionadíssimo quan<strong>do</strong> seu amigo Antônio Maria – cujo comportamentointelectual e bagagem literária lhe eram familiares, até muito próximos –estreou como compositor da “fossa existencial” com “Ninguém me ama” e“Se eu morresse amanhã <strong>de</strong> manhã”.Em 1953, embriaga<strong>do</strong> pela atmosfera noire em que mergulhara boa parteda música carioca, a mesma que estava sen<strong>do</strong> preferida pelo público, o poetareestreia na MPB como letrista, justamente ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> Antônio Maria. Elança “Quan<strong>do</strong> tu passas por mim”, grava<strong>do</strong> quase ao mesmo tempo porDóris Monteiro e por uma <strong>de</strong> suas melhores amigas, a cantora Aracy <strong>de</strong>45
- Page 1: EMBAIXADOR DO BRASIL
- Page 6 and 7: Tramitação Legislativa, 99a. Mens
- Page 8 and 9: CELSO AMORIMmovimento de “caça
- Page 10 and 11: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOHelle
- Page 12 and 13: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOrespo
- Page 14 and 15: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOEm um
- Page 16 and 17: MIGUEL SANCHES NETOUma visão, port
- Page 18 and 19: MIGUEL SANCHES NETOele encontra um
- Page 20 and 21: MIGUEL SANCHES NETOerótica perturb
- Page 22 and 23: MIGUEL SANCHES NETOcomo força motr
- Page 24 and 25: MIGUEL SANCHES NETOse viram partíc
- Page 26 and 27: MIGUEL SANCHES NETOGentil-homem ins
- Page 28 and 29: MIGUEL SANCHES NETOmanifestava pela
- Page 30 and 31: MIGUEL SANCHES NETOMe diga sinceram
- Page 32 and 33: MIGUEL SANCHES NETONABUCO, Joaquim.
- Page 34 and 35: RICARDO CRAVO ALBINliteratura, de p
- Page 36 and 37: RICARDO CRAVO ALBINouvidos - e o co
- Page 38 and 39: RICARDO CRAVO ALBINLogo na loura fi
- Page 40 and 41: RICARDO CRAVO ALBINsala um pequeno
- Page 42 and 43: RICARDO CRAVO ALBINO Cônsul Vinici
- Page 46 and 47: RICARDO CRAVO ALBINAlmeida. Este sa
- Page 48 and 49: RICARDO CRAVO ALBINOh! minha amada
- Page 50 and 51: RICARDO CRAVO ALBINum violão total
- Page 52 and 53: RICARDO CRAVO ALBINAinda neste ano
- Page 54 and 55: RICARDO CRAVO ALBINatriz Odette Lar
- Page 57 and 58: Vinicius de Moraes e a PátriaFelip
- Page 59 and 60: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAgraç
- Page 61 and 62: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAPerga
- Page 63: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAque p
- Page 66 and 67: FORMATURA IRBRafastar-se de nosso c
- Page 69 and 70: Tramitação no Poder Executivo69
- Page 71 and 72: TRAMITAÇÃO NO PODER EXECUTIVO71
- Page 73 and 74: Artigo de Bernardo de Mello Franco,
- Page 75 and 76: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOOs 13 diplo
- Page 77 and 78: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOUm dossiê
- Page 79 and 80: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOCentro do R
- Page 81 and 82: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOexilados a
- Page 83 and 84: ARTIGO NO JORNAL O GLOBO83
- Page 85 and 86: Tramitação Legislativaa. Mensagem
- Page 87 and 88: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAb. Parecer
- Page 89 and 90: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAO mesmo Ruy
- Page 91 and 92: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAditaduras.
- Page 93 and 94: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAMas é a vi
- Page 95 and 96:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAd. Votaçã
- Page 97 and 98:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVADeclaraçã
- Page 99 and 100:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVA99
- Page 101 and 102:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAf. Votaçã
- Page 103 and 104:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAAprovada.É
- Page 105:
Lei nº 12.265, de 21 de junho de 2
- Page 109 and 110:
109
- Page 111 and 112:
ANEXOSVinicius, aos 20 anos de idad
- Page 113 and 114:
ANEXOSVinicius de Moraes, na décad
- Page 115 and 116:
ANEXOSVinicius de Moraes, com o Pre
- Page 117 and 118:
ANEXOSCom o Presidente Luiz Inácio
- Page 119 and 120:
ANEXOS119
- Page 121 and 122:
ANEXOSCom o Presidente Luiz Inácio
- Page 123 and 124:
ANEXOSManuscrito de carta ao amigo
- Page 125 and 126:
ANEXOSCom Baden Powell, em 1964.125
- Page 127 and 128:
ANEXOSCom Maria Bethânia, em 1966.
- Page 129:
ANEXOSVinicius, em 1976.129