RICARDO CRAVO ALBINsala um pequeno caixão <strong>de</strong> <strong>de</strong>funto era vela<strong>do</strong> por senhoras cabisbaixas esoluçantes. Ele olha a cena e, constrangi<strong>do</strong>, prepara-se para sair, quan<strong>do</strong> amãe da criança-<strong>de</strong>funta, toma-lhe pelo braço e o leva a um outro aposento,on<strong>de</strong> o cavaquinista – olhos injeta<strong>do</strong>s pela vermelhidão <strong>do</strong> sofrimento – pe<strong>de</strong>que ele fique alguns minutos mais, porque tem uma coisinha para lhe mostrar.Perplexo, o jovem ouve o pai <strong>do</strong> menino morto cantar, entre soluços, o seunovo samba <strong>de</strong> breque, acaba<strong>do</strong> <strong>de</strong> compor:A minha mulher sem falaE no ambiente flores milE sobre a mesaTo<strong>do</strong> vesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> anjinhoO Manduca, meu filhinhoTinha estica<strong>do</strong> o pernil.E aí o homem dava uma paradinha, respirava fun<strong>do</strong> e finalizava com obreque surpreen<strong>de</strong>nte, quase insultuoso, não fosse a acachapante ingenuida<strong>de</strong><strong>de</strong> compositor popular:O meu filhinhoJá durinhoGeladinho...Em 1941, <strong>Vinicius</strong> <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong> abraça uma outra profissão, a <strong>de</strong> jornalista,empregan<strong>do</strong>-se como crítico <strong>de</strong> cinema no jornal A Manhã, mas colaboran<strong>do</strong>também no seu suplemento literário e ainda na revista Clima, dirigida pelocrítico Antônio Cândi<strong>do</strong>.O espírito ar<strong>de</strong>nte e inquieto <strong>do</strong> poeta logo o faria envolver-se em umapolêmica sobre cinema, cujas raízes estavam plantadas em intelectuaisfranceses: ele começa a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, apaixonadamente, a integrida<strong>de</strong> estética<strong>do</strong> cinema mu<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>z, quinze anos antes. A polêmica se espalhou e a<strong>Vinicius</strong> ficaria pespega<strong>do</strong>, por algum tempo, o rótulo <strong>de</strong> “crítico reacionárioe passadista”. Aliás, essa paixão pela imagem – e pelo cinema – marcaria seuprimeiro casamento com Beatriz Azeve<strong>do</strong> <strong>de</strong> Mello <strong>Moraes</strong>, a Tati, intelectual<strong>de</strong> esquerda e também crítica <strong>de</strong> cinema durante muitos anos seguintes. Osfilhos <strong>do</strong> casal, Susana (1940) e Pedro (1942) vieram a abraçar a imagem. Aprimeira seria cineasta e o segun<strong>do</strong>, fotógrafo.40
VINICIUS, POETA E DIPLOMATA, NA MÚSICA POPULAREnquanto <strong>de</strong>senvolvia sua polêmica atuação <strong>de</strong> crítico <strong>de</strong> cinema, começaa preparar-se para aquela que seria a sua verda<strong>de</strong>ira profissão, <strong>de</strong>pois, éclaro, <strong>de</strong> poeta, escritor e boêmio: a <strong>de</strong> diplomata. Aconselha<strong>do</strong> por Oswal<strong>do</strong>Aranha, <strong>Vinicius</strong> resolve prestar exames para o Itamaraty.A escolha da diplomacia não lhe terá si<strong>do</strong> uma súbita paixão ou umavocação irresistível. Antes, a vida diplomática lhe propiciaria a paz necessáriapara elaborar sua obra e também, por que não?, para consolidar arepercussão internacional que sua poesia já esboçava. O Itamaraty, pois,foi uma escolha pragmática, e não apaixonada. Até porque <strong>Vinicius</strong>, emnenhum momento, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser o poeta, o escritor, o espírito livre <strong>de</strong>amarras, ante qualquer circunstância funcional. Especialmente naquela queeu consi<strong>de</strong>ro como sua última fase <strong>de</strong> diplomata, a <strong>de</strong> seu reconhecimentopúblico como estrela da música popular, que vai <strong>de</strong> 1956 – com a encenação<strong>de</strong> Orfeu da Conceição e com o início da parceria com Antônio CarlosJobim – até 1969, quan<strong>do</strong> é aposenta<strong>do</strong> compulsoriamente pelo AtoInstitucional nº 5. Já a primeira fase <strong>do</strong> diplomata <strong>Vinicius</strong> é mais amena,aquela que vai <strong>de</strong> sua nomeação em 1943 até sua entrada <strong>de</strong>finitiva comocompositor <strong>de</strong> música popular, em 1956.Foi nomea<strong>do</strong> para o cargo inicial da carreira <strong>de</strong> diplomata, classe J, <strong>do</strong>Quadro Permanente, por <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1943, assina<strong>do</strong>pelo Presi<strong>de</strong>nte Getúlio Vargas e pelo Chanceler Oswal<strong>do</strong> Aranha. No diaseguinte, o chefe <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Administração, Carlos Alves <strong>de</strong>Sousa, comunica à Casa a <strong>de</strong>signação <strong>do</strong> poeta para a Divisão Econômicae Social, on<strong>de</strong>, em apenas um mês <strong>de</strong> serviço, recebe <strong>do</strong> Ministro MárioMoreira da Silva as notas máximas (cem pontos) no processo <strong>de</strong> confirmação<strong>do</strong>s funcionários recém-admiti<strong>do</strong>s, aos quais eram conferi<strong>do</strong>s pontos emitens, até bizarros hoje, como discrição, pontualida<strong>de</strong>, iniciativa, urbanida<strong>de</strong>,capacida<strong>de</strong> intelectual, disciplina, <strong>de</strong>dicação ao serviço e – surpresa maior!– caráter.Aliás, em relação a <strong>do</strong>is <strong>de</strong>sses itens, discrição e disciplina, o poeta viusemeti<strong>do</strong> em sério apuro <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> nomea<strong>do</strong>. O fato ocorreria nolimiar <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização <strong>de</strong> 1945. O escritor Aníbal Macha<strong>do</strong>,cujas tertúlias literárias o poeta frequentava no casarão <strong>de</strong> Ipanema, solicitou– como presi<strong>de</strong>nte da Associação <strong>Brasil</strong>eira <strong>de</strong> Escritores – sua dispensa <strong>de</strong>ponto no Itamaraty. Seriam <strong>de</strong>z dias, 22 <strong>de</strong> janeiro a 2 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1945,para integrar a <strong>de</strong>legação carioca ao Primeiro Congresso <strong>Brasil</strong>eiro <strong>de</strong>Escritores, realiza<strong>do</strong> em São Paulo.41
- Page 1: EMBAIXADOR DO BRASIL
- Page 6 and 7: Tramitação Legislativa, 99a. Mens
- Page 8 and 9: CELSO AMORIMmovimento de “caça
- Page 10 and 11: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOHelle
- Page 12 and 13: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOrespo
- Page 14 and 15: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOEm um
- Page 16 and 17: MIGUEL SANCHES NETOUma visão, port
- Page 18 and 19: MIGUEL SANCHES NETOele encontra um
- Page 20 and 21: MIGUEL SANCHES NETOerótica perturb
- Page 22 and 23: MIGUEL SANCHES NETOcomo força motr
- Page 24 and 25: MIGUEL SANCHES NETOse viram partíc
- Page 26 and 27: MIGUEL SANCHES NETOGentil-homem ins
- Page 28 and 29: MIGUEL SANCHES NETOmanifestava pela
- Page 30 and 31: MIGUEL SANCHES NETOMe diga sinceram
- Page 32 and 33: MIGUEL SANCHES NETONABUCO, Joaquim.
- Page 34 and 35: RICARDO CRAVO ALBINliteratura, de p
- Page 36 and 37: RICARDO CRAVO ALBINouvidos - e o co
- Page 38 and 39: RICARDO CRAVO ALBINLogo na loura fi
- Page 42 and 43: RICARDO CRAVO ALBINO Cônsul Vinici
- Page 44 and 45: RICARDO CRAVO ALBINO senhor tenha u
- Page 46 and 47: RICARDO CRAVO ALBINAlmeida. Este sa
- Page 48 and 49: RICARDO CRAVO ALBINOh! minha amada
- Page 50 and 51: RICARDO CRAVO ALBINum violão total
- Page 52 and 53: RICARDO CRAVO ALBINAinda neste ano
- Page 54 and 55: RICARDO CRAVO ALBINatriz Odette Lar
- Page 57 and 58: Vinicius de Moraes e a PátriaFelip
- Page 59 and 60: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAgraç
- Page 61 and 62: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAPerga
- Page 63: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAque p
- Page 66 and 67: FORMATURA IRBRafastar-se de nosso c
- Page 69 and 70: Tramitação no Poder Executivo69
- Page 71 and 72: TRAMITAÇÃO NO PODER EXECUTIVO71
- Page 73 and 74: Artigo de Bernardo de Mello Franco,
- Page 75 and 76: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOOs 13 diplo
- Page 77 and 78: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOUm dossiê
- Page 79 and 80: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOCentro do R
- Page 81 and 82: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOexilados a
- Page 83 and 84: ARTIGO NO JORNAL O GLOBO83
- Page 85 and 86: Tramitação Legislativaa. Mensagem
- Page 87 and 88: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAb. Parecer
- Page 89 and 90: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAO mesmo Ruy
- Page 91 and 92:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAditaduras.
- Page 93 and 94:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAMas é a vi
- Page 95 and 96:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAd. Votaçã
- Page 97 and 98:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVADeclaraçã
- Page 99 and 100:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVA99
- Page 101 and 102:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAf. Votaçã
- Page 103 and 104:
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAAprovada.É
- Page 105:
Lei nº 12.265, de 21 de junho de 2
- Page 109 and 110:
109
- Page 111 and 112:
ANEXOSVinicius, aos 20 anos de idad
- Page 113 and 114:
ANEXOSVinicius de Moraes, na décad
- Page 115 and 116:
ANEXOSVinicius de Moraes, com o Pre
- Page 117 and 118:
ANEXOSCom o Presidente Luiz Inácio
- Page 119 and 120:
ANEXOS119
- Page 121 and 122:
ANEXOSCom o Presidente Luiz Inácio
- Page 123 and 124:
ANEXOSManuscrito de carta ao amigo
- Page 125 and 126:
ANEXOSCom Baden Powell, em 1964.125
- Page 127 and 128:
ANEXOSCom Maria Bethânia, em 1966.
- Page 129:
ANEXOSVinicius, em 1976.129