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Vinicius de Moraes Embaixador do Brasil - Funag

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MIGUEL SANCHES NETOMe diga sinceramente uma coisa, Mr. Buster:O Sr. sabe lá o que é um choro <strong>do</strong> Pixinguinha?O Sr. sabe lá o que é uma jabuticabeira no quintal?O Sr. sabe lá o que é torcer pelo Botafogo?Perguntas incompreensíveis para um estrangeiro, mas que dão ao poetarazões para retornar. É ainda em Montevidéu que surge, em 1958, um retrato<strong>do</strong> poeta como jovem, o que estava perfeitamente sincroniza<strong>do</strong> com a postura<strong>de</strong> prazer perene e <strong>de</strong> novas conquistas amorosas <strong>de</strong> <strong>Vinicius</strong>. “O poetaaprendiz” recupera uma infância alegre e ativa, em versos breves e musicais(o poema viria a ser musica<strong>do</strong>), mostran<strong>do</strong>-o como um ser que colecionaacha<strong>do</strong>s <strong>do</strong> chão e ama todas as mulheres, tanto as vadias como as suas tias.Este texto é mais uma das poéticas <strong>de</strong> <strong>Vinicius</strong>, posta em prática em um viver,a partir <strong>do</strong>s anos sessenta, sob o signo da juventu<strong>de</strong>, que vai incorporar umvisual e um comportamento hippies. Há portanto uma inversão em suatrajetória. Aproxima-se <strong>de</strong> um discurso mais antiqua<strong>do</strong> nos anos <strong>de</strong> estreia,assumin<strong>do</strong> posturas ascéticas e posições elitistas, para aos poucos se <strong>de</strong>sfazer<strong>de</strong>sta vestimenta pesada e ir re<strong>de</strong>scobrin<strong>do</strong> e valorizan<strong>do</strong> a maneira <strong>de</strong>spojadada alma a<strong>do</strong>lescente, que o torna contemporâneo <strong>de</strong> gerações bem maisnovas.O retorno sentimental às coisas <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> coinci<strong>de</strong> com a recuperaçãosimbólica <strong>do</strong> tempo da infância através da figura <strong>do</strong> poeta aprendiz, “ummenino valente e caprino, um pequeno infante, sadio e grimpante”.Os anos fora <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, a serviço <strong>do</strong> Itamaraty, ocupam um papelimportante em sua produção, reconheci<strong>do</strong> pelo poeta que, ao organizar asobras completas, criou três rubricas para abrigar poemas: “Nossa Senhora<strong>de</strong> Los Angeles”, “Nossa Senhora <strong>de</strong> Paris” e “A lua <strong>de</strong> Montevidéu” –sugerin<strong>do</strong> assim a relevância <strong>de</strong> sua estada no estrangeiro, que lhe <strong>de</strong>u umapoética <strong>do</strong> retorno.Num poema incompleto que se dirige a Millôr Fernan<strong>de</strong>s, “Poesiacoligidas”, <strong>Vinicius</strong> sente-se <strong>de</strong> volta à pátria amada: “sou apenas o filhopródigo e sinto-me ainda obnubila<strong>do</strong> / <strong>de</strong> beleza”. Toda a gran<strong>de</strong>za daterra natal reaparece para o poeta, que a vê com outros olhos, valorizan<strong>do</strong>as suas pequenas coisas, que antes passavam <strong>de</strong>spercebidas. É nessesenti<strong>do</strong> que ele se enxerga, em outro texto, como “O poeta em trânsitoou o filho pródigo”, <strong>de</strong>scobrin<strong>do</strong>, em sua volta, a cida<strong>de</strong> antes habitadatimidamente.30

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