BERNARDO DE MELLO FRANCOo Palácio La Moneda, da Presidência da República chilena, ardia em chamas,ele atendia o telefone com uma exclamação festiva: “Ganhamos¡”No livro “A ditadura <strong>de</strong>rrotada”, o jornalista Elio Gaspari <strong>de</strong>screveCâmara Canto como “um golpista militante”. Traça o perfil <strong>de</strong> um homemconserva<strong>do</strong>r, “famoso no Itamaraty pela severa sincerida<strong>de</strong> e, nos postoson<strong>de</strong> passou, pelas habilida<strong>de</strong>s como cavaleiro”. Um embaixa<strong>do</strong>r aposenta<strong>do</strong>,que na época das cassações ainda estava em início <strong>de</strong> carreira, o classificaapenas como fascista.Antes <strong>de</strong> colaborar com a repressão no Chile, Câmara Canto chefiou arepresentação <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> na Espanha, que vivia a ditadura <strong>do</strong> generalíssimoFrancisco Franco. Seu currículo oficial, no Almanaque <strong>do</strong> Ministério dasRelações Exteriores, registra a participação em duas comissões <strong>de</strong> inquérito.Sobre as cassações que coman<strong>do</strong>u em 1969, nenhuma palavra. A ditaduramilitar soube reconhecer os serviços presta<strong>do</strong>s pelo embaixa<strong>do</strong>r. Em 1970, umano <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> instruir a cassação <strong>de</strong> 15 colegas, ele foi agracia<strong>do</strong> com a Or<strong>de</strong>m<strong>do</strong> Rio Branco no grau <strong>de</strong> Grã Cruz. O diplomata se aposentou em 1975.Morreu <strong>de</strong> câncer, no Rio, <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong>pois.Expurgo não foi o únicoO expurgo <strong>de</strong> 1969 foi o maior, mas não o único da história <strong>do</strong> Itamaraty.Em 1954, em meio a uma campanha anticomunista li<strong>de</strong>rada por Carlos Lacerda,o rótulo <strong>de</strong> “subversivo” selou a <strong>de</strong>missão <strong>de</strong> cinco diplomatas, entre eles osintelectuais João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto e Antonio Houaiss. To<strong>do</strong>s conseguiramreaver o cargo num julgamento histórico <strong>do</strong> Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral (STF).A ilegalida<strong>de</strong> das cassações foi <strong>de</strong>fendida por uma banca que reunia EvandroLins e Silva, Sobral Pinto e Luiz Gonzaga <strong>do</strong> Nascimento Silva.Os militares esperaram <strong>de</strong>z anos para dar o troco em Houaiss. Em 1964,o filólogo seria afasta<strong>do</strong> <strong>de</strong>finitivamente, junto com os colegas Jayme Azeve<strong>do</strong>Rodrigues. Dessa vez, Houaiss foi puni<strong>do</strong> por um discurso na Assembleia dasNações Unidas em que atacou a ditadura salazarista em Portugal, durante ogoverno João Goulart. Todas as cassações foram <strong>de</strong>cretadas <strong>do</strong>is meses <strong>de</strong>pois<strong>do</strong> golpe.Além <strong>do</strong>s 13 da lista <strong>de</strong> Câmara Canto, outros cinco diplomatas seriamcassa<strong>do</strong>s pelo AI-5 entre 1969 e 1975. O caso mais conheci<strong>do</strong> foi o <strong>do</strong>ssecretários Mário da Graça Roiter e Miguel Darcy <strong>de</strong> Oliveira, acusa<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ação antipatriótica. Segun<strong>do</strong> os militares, os <strong>do</strong>is teriam ajuda<strong>do</strong> brasileiros80
ARTIGO NO JORNAL O GLOBOexila<strong>do</strong>s a <strong>de</strong>nunciar, no exterior, a prática <strong>de</strong> tortura e perseguição política no<strong>Brasil</strong>.O Globo, 10 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2010***A reabilitação <strong>de</strong> <strong>Vinicius</strong> no ItamaratyTrinta anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua morte, o diplomata cassa<strong>do</strong> Marcus <strong>Vinicius</strong>da Cruz <strong>de</strong> Mello <strong>Moraes</strong> vai virar embaixa<strong>do</strong>r. A Câmara aprovou ontem apromoção <strong>do</strong> ex-servi<strong>do</strong>r a ministro <strong>de</strong> primeira classe <strong>do</strong> Itamaraty, cargomais alto da carreira diplomática. O ato reabilita a trajetória profissional <strong>do</strong>poeta <strong>Vinicius</strong> <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong>, que foi persegui<strong>do</strong> pela ditadura militar e expulso<strong>do</strong> Ministério das Relações Exteriores em abril <strong>de</strong> 1969, com base no AtoInstitucional nº 5 (AI-5).Redigi<strong>do</strong> por amigos <strong>de</strong> <strong>Vinicius</strong> no Itamaraty, o texto da promoçãopassou três anos numa gaveta <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Planejamento. Foi finalmenteenvia<strong>do</strong> ao Congresso no fim <strong>de</strong> 2009, <strong>de</strong>pois que uma reportagem <strong>do</strong>GLOBO revelou basti<strong>do</strong>res da <strong>de</strong>missão sumária <strong>do</strong> poeta. Documentosinéditos <strong>do</strong> Serviços Nacional <strong>de</strong> Informações (SNI) comprovaram que elefoi vigia<strong>do</strong> <strong>de</strong> perto por diversos órgãos <strong>de</strong> espionagem, incluin<strong>do</strong> a políciada antiga Guanabara e o temi<strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> Informações da Marinha (Cenimar).— A expulsão <strong>de</strong> <strong>Vinicius</strong> foi mais um ato <strong>de</strong> violência e arbítrio daditadura. Ele foi embaixa<strong>do</strong>r não só <strong>do</strong> Itamaraty, mas da cultura brasileira— disse ontem a cineasta Suzana <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong>, filha primogênita <strong>do</strong> poeta.A homenagem foi aprovada num raro consenso entre governo e oposição,com discursos favoráveis <strong>de</strong> representantes <strong>do</strong>s principais parti<strong>do</strong>s políticos.O único <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> a se manifestar contra a promoção foi o militar da reservaJair Bolsonaro (PP-RJ), conheci<strong>do</strong> por <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o golpe <strong>de</strong> 1964. Após aaprovação <strong>do</strong> texto no Sena<strong>do</strong>, os <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>Vinicius</strong> terão direito apensão correspon<strong>de</strong>nte ao topo da carreira <strong>do</strong> Itamaraty.O poeta foi a vítima mais conhecida da Comissão <strong>de</strong> Investigação Sumária,que usou o AI-5 para investigar vidas privadas e expulsar diplomatas que oregime tachava <strong>de</strong> homossexuais, alcoólatras ou emocionalmente instáveis.<strong>Vinicius</strong> foi puni<strong>do</strong> por sua vida boêmia, que <strong>de</strong>sagradava à linha-durada caserna. Apesar disso, os registros <strong>do</strong> Ministério das Relações Exterioresrevelam que ele era consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um diplomata exemplar e recebeu uma série81
- Page 1:
EMBAIXADOR DO BRASIL
- Page 6 and 7:
Tramitação Legislativa, 99a. Mens
- Page 8 and 9:
CELSO AMORIMmovimento de “caça
- Page 10 and 11:
AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOHelle
- Page 12 and 13:
AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOrespo
- Page 14 and 15:
AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOEm um
- Page 16 and 17:
MIGUEL SANCHES NETOUma visão, port
- Page 18 and 19:
MIGUEL SANCHES NETOele encontra um
- Page 20 and 21:
MIGUEL SANCHES NETOerótica perturb
- Page 22 and 23:
MIGUEL SANCHES NETOcomo força motr
- Page 24 and 25:
MIGUEL SANCHES NETOse viram partíc
- Page 26 and 27:
MIGUEL SANCHES NETOGentil-homem ins
- Page 28 and 29:
MIGUEL SANCHES NETOmanifestava pela
- Page 30 and 31: MIGUEL SANCHES NETOMe diga sinceram
- Page 32 and 33: MIGUEL SANCHES NETONABUCO, Joaquim.
- Page 34 and 35: RICARDO CRAVO ALBINliteratura, de p
- Page 36 and 37: RICARDO CRAVO ALBINouvidos - e o co
- Page 38 and 39: RICARDO CRAVO ALBINLogo na loura fi
- Page 40 and 41: RICARDO CRAVO ALBINsala um pequeno
- Page 42 and 43: RICARDO CRAVO ALBINO Cônsul Vinici
- Page 44 and 45: RICARDO CRAVO ALBINO senhor tenha u
- Page 46 and 47: RICARDO CRAVO ALBINAlmeida. Este sa
- Page 48 and 49: RICARDO CRAVO ALBINOh! minha amada
- Page 50 and 51: RICARDO CRAVO ALBINum violão total
- Page 52 and 53: RICARDO CRAVO ALBINAinda neste ano
- Page 54 and 55: RICARDO CRAVO ALBINatriz Odette Lar
- Page 57 and 58: Vinicius de Moraes e a PátriaFelip
- Page 59 and 60: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAgraç
- Page 61 and 62: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAPerga
- Page 63: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAque p
- Page 66 and 67: FORMATURA IRBRafastar-se de nosso c
- Page 69 and 70: Tramitação no Poder Executivo69
- Page 71 and 72: TRAMITAÇÃO NO PODER EXECUTIVO71
- Page 73 and 74: Artigo de Bernardo de Mello Franco,
- Page 75 and 76: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOOs 13 diplo
- Page 77 and 78: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOUm dossiê
- Page 79: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOCentro do R
- Page 83 and 84: ARTIGO NO JORNAL O GLOBO83
- Page 85 and 86: Tramitação Legislativaa. Mensagem
- Page 87 and 88: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAb. Parecer
- Page 89 and 90: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAO mesmo Ruy
- Page 91 and 92: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAditaduras.
- Page 93 and 94: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAMas é a vi
- Page 95 and 96: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAd. Votaçã
- Page 97 and 98: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVADeclaraçã
- Page 99 and 100: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVA99
- Page 101 and 102: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAf. Votaçã
- Page 103 and 104: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAAprovada.É
- Page 105: Lei nº 12.265, de 21 de junho de 2
- Page 109 and 110: 109
- Page 111 and 112: ANEXOSVinicius, aos 20 anos de idad
- Page 113 and 114: ANEXOSVinicius de Moraes, na décad
- Page 115 and 116: ANEXOSVinicius de Moraes, com o Pre
- Page 117 and 118: ANEXOSCom o Presidente Luiz Inácio
- Page 119 and 120: ANEXOS119
- Page 121 and 122: ANEXOSCom o Presidente Luiz Inácio
- Page 123 and 124: ANEXOSManuscrito de carta ao amigo
- Page 125 and 126: ANEXOSCom Baden Powell, em 1964.125
- Page 127 and 128: ANEXOSCom Maria Bethânia, em 1966.
- Page 129: ANEXOSVinicius, em 1976.129