TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAÉ o Relatório.II – VOTO DO RELATORO que terá feito <strong>de</strong> <strong>Vinicius</strong> <strong>de</strong> Morais um diplomata? E como ele conseguiuconciliar tanto pen<strong>do</strong>r criativo, tanta explosão musical, tanta veia poética,tanto violão, tanta bossa nova com os rigores da carreira <strong>do</strong> Itamaraty? Talvezcoubesse ao relator <strong>de</strong>bruçar-se um pouco que seja sobre sua trajetória para,então, respon<strong>de</strong>r a essas inquietações.Uma pista, antes <strong>de</strong> qualquer outro argumento, po<strong>de</strong> ser encontrada emuma reflexão feita por ele próprio: “Poucas coisas fazem tão bem quanto asolidão sincera”. É uma revelação feita à mãe em carta <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> março <strong>de</strong>1935. Nasci<strong>do</strong> em 1913, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, aos 21 anos já raciocinava <strong>de</strong>mo<strong>do</strong> maduro, vivia angústias e dúvidas que ficariam melhor num homemmais velho, como diz Ruy Castro no prefácio <strong>do</strong> livro Queri<strong>do</strong> Poeta –Correspondência <strong>de</strong> <strong>Vinicius</strong> <strong>de</strong> Morais –, organiza<strong>do</strong> pelo próprio RuyCastro, que subsidia esse voto. A solidão era uma parceira com que contava,nem que esporadicamente.Entra para a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Forma-se em1933. Essa década já o surpreen<strong>de</strong> crian<strong>do</strong>, compon<strong>do</strong>, poetan<strong>do</strong>.Em 1932, a primeira música gravada, com os irmãos Tapajós: “Loura ouMorena”. Surgem também seus primeiros livros <strong>de</strong> poesia: “O caminho paraa distância”, <strong>de</strong> 1933 “Forma e exegese”, <strong>de</strong> 1938, e “Novos Poemas”,também <strong>de</strong> 1938. Seu aparecimento como poeta provoca admiração emManoel Ban<strong>de</strong>ira e alguns outros poetas <strong>de</strong> nomeada. De Manoel Ban<strong>de</strong>iratorna-se amigo.O poeta tinha vocação para o mun<strong>do</strong>. Diplomata seria, por essa vocação.Uma vocação para o mun<strong>do</strong> que não conseguia afastá-lo da criação, e dacriação em torno <strong>de</strong> sua terra. Da poesia <strong>de</strong> sua gente. Da poesia vinculadaà paixão.Em1938, ano intenso para ele, vai para Oxford estudar Literatura Inglesa.Casa-se em 1939, pela primeira vez, e essa citação é feita apenas pararegistrar o primeiro casamento, a paixão que irrompeu por Tati – BeatrizAzeve<strong>do</strong> <strong>de</strong> Mello. Serão muitos os casamentos, inúmeras as paixões.O poeta, o diplomata, o intelectual refina<strong>do</strong> tinha uma propensão incrívelà paixão. Por tu<strong>do</strong> que fazia. E pelas mulheres. Apaixonou-se, e perdidamente,por muitas <strong>de</strong>las. O amor, infinito enquanto dure.88
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAO mesmo Ruy Castro lembra que a facilida<strong>de</strong> com que o poetinha seapaixonava e a <strong>de</strong>dicação com que se empenhava à paixão só encontravamparalelo na paixão seguinte, que não <strong>de</strong>morava muito a vir.Tentou sempre enten<strong>de</strong>r as mulheres, mas confessou, ainda no fértil ano<strong>de</strong> 1938, nunca saber se conhecia uma mulher direito. Achava mesmo quenunca conseguia o feito. “Minha admiração pelo que elas são em si, e pelopapel que têm na vida é tão gran<strong>de</strong> que eu acho que não me <strong>de</strong>ixa fazerpsicologia sobre”. A confissão está numa carta a Tati, sua primeira mulher.Sofria e amava. E amava e sofria. E se perdia sempre <strong>de</strong> amor.E era o amor, a paixão, que provavelmente estimulavam sua veia poética,o levavam à poesia, à bossa, ao violão. E tu<strong>do</strong> isso seguramente tornava asua missão <strong>de</strong> diplomata mais rica, mesmo que eventualmente, para os padrões<strong>de</strong> então, nem sempre seguisse os exatos cânones <strong>do</strong> Itamaraty. E era tu<strong>do</strong>isso que o tornava um gran<strong>de</strong> diplomata, um extraordinário embaixa<strong>do</strong>r <strong>do</strong><strong>Brasil</strong>.“Não importa. O que importa é ir embora/ Pela alegria <strong>de</strong> buscar a aurora/E pela <strong>do</strong>r <strong>de</strong> caminhar sozinho”.Os versos são <strong>de</strong> <strong>Vinicius</strong>. E o revelam.Amor e paixão. Amor e solidão. Solidão e criativida<strong>de</strong>. A busca da aurora.A solidão nele, quan<strong>do</strong> alcançada, talvez fosse aquela <strong>do</strong> momento criativo.Há quem diga ter ele leva<strong>do</strong> uma vida invejável. E talvez seja verda<strong>de</strong>iro.Em que senti<strong>do</strong>? No senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser a vida <strong>de</strong> um homem cheio <strong>de</strong> coragem,capaz <strong>de</strong> atirar-se em tu<strong>do</strong> que fazia com to<strong>do</strong> o vigor <strong>de</strong> sua inteligência.Com a característica <strong>de</strong> ser um homem <strong>de</strong> idéias, <strong>do</strong> pensamento. Capaz <strong>de</strong>suportar perdas e, como já se disse, insistin<strong>do</strong> na trilha <strong>de</strong> Ruy Castro, <strong>de</strong>distribuir amor, muito amor. Pela humanida<strong>de</strong>, pela poesia, pela música, pelasmulheres, por seus filhos, por sua mãe, por seus amigos. Foi assim, caminhan<strong>do</strong>pela vida <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> solidário, fraterno, que ele foi tentan<strong>do</strong> <strong>de</strong>cifrar o mistérioda vida, mistério ao qual ele se refere numa carta a Lúcio Car<strong>do</strong>so, em 1936.Ninguém o imagine um sujeito indisciplina<strong>do</strong>, sem metas, sem caminho<strong>de</strong>fini<strong>do</strong>. “O melhor caminho é sempre o mais difícil, e não o que sai <strong>do</strong>s pés.Muito provavelmente, a vida <strong>do</strong>s macacos é mais divertida que a <strong>do</strong>spassarinhos. E eu me tracei uma regra, que não é regra, não é nada senão umuso poético da minha vida: só rir para as coisas trágicas. Só chorar <strong>de</strong> emoção.Só andar na ponta <strong>do</strong>s pés. Só ser <strong>de</strong>lica<strong>do</strong>. Só topar paradas duras. Só<strong>do</strong>rmir em último caso. Só pensar nos outros. Só castigar a si próprio. Sóaceitar o inaceitável. Só criar em alegria e, sobretu<strong>do</strong>, só ser íntimo”.89
- Page 1:
EMBAIXADOR DO BRASIL
- Page 6 and 7:
Tramitação Legislativa, 99a. Mens
- Page 8 and 9:
CELSO AMORIMmovimento de “caça
- Page 10 and 11:
AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOHelle
- Page 12 and 13:
AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOrespo
- Page 14 and 15:
AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOEm um
- Page 16 and 17:
MIGUEL SANCHES NETOUma visão, port
- Page 18 and 19:
MIGUEL SANCHES NETOele encontra um
- Page 20 and 21:
MIGUEL SANCHES NETOerótica perturb
- Page 22 and 23:
MIGUEL SANCHES NETOcomo força motr
- Page 24 and 25:
MIGUEL SANCHES NETOse viram partíc
- Page 26 and 27:
MIGUEL SANCHES NETOGentil-homem ins
- Page 28 and 29:
MIGUEL SANCHES NETOmanifestava pela
- Page 30 and 31:
MIGUEL SANCHES NETOMe diga sinceram
- Page 32 and 33:
MIGUEL SANCHES NETONABUCO, Joaquim.
- Page 34 and 35:
RICARDO CRAVO ALBINliteratura, de p
- Page 36 and 37:
RICARDO CRAVO ALBINouvidos - e o co
- Page 38 and 39: RICARDO CRAVO ALBINLogo na loura fi
- Page 40 and 41: RICARDO CRAVO ALBINsala um pequeno
- Page 42 and 43: RICARDO CRAVO ALBINO Cônsul Vinici
- Page 44 and 45: RICARDO CRAVO ALBINO senhor tenha u
- Page 46 and 47: RICARDO CRAVO ALBINAlmeida. Este sa
- Page 48 and 49: RICARDO CRAVO ALBINOh! minha amada
- Page 50 and 51: RICARDO CRAVO ALBINum violão total
- Page 52 and 53: RICARDO CRAVO ALBINAinda neste ano
- Page 54 and 55: RICARDO CRAVO ALBINatriz Odette Lar
- Page 57 and 58: Vinicius de Moraes e a PátriaFelip
- Page 59 and 60: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAgraç
- Page 61 and 62: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAPerga
- Page 63: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAque p
- Page 66 and 67: FORMATURA IRBRafastar-se de nosso c
- Page 69 and 70: Tramitação no Poder Executivo69
- Page 71 and 72: TRAMITAÇÃO NO PODER EXECUTIVO71
- Page 73 and 74: Artigo de Bernardo de Mello Franco,
- Page 75 and 76: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOOs 13 diplo
- Page 77 and 78: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOUm dossiê
- Page 79 and 80: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOCentro do R
- Page 81 and 82: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOexilados a
- Page 83 and 84: ARTIGO NO JORNAL O GLOBO83
- Page 85 and 86: Tramitação Legislativaa. Mensagem
- Page 87: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAb. Parecer
- Page 91 and 92: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAditaduras.
- Page 93 and 94: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAMas é a vi
- Page 95 and 96: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAd. Votaçã
- Page 97 and 98: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVADeclaraçã
- Page 99 and 100: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVA99
- Page 101 and 102: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAf. Votaçã
- Page 103 and 104: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAAprovada.É
- Page 105: Lei nº 12.265, de 21 de junho de 2
- Page 109 and 110: 109
- Page 111 and 112: ANEXOSVinicius, aos 20 anos de idad
- Page 113 and 114: ANEXOSVinicius de Moraes, na décad
- Page 115 and 116: ANEXOSVinicius de Moraes, com o Pre
- Page 117 and 118: ANEXOSCom o Presidente Luiz Inácio
- Page 119 and 120: ANEXOS119
- Page 121 and 122: ANEXOSCom o Presidente Luiz Inácio
- Page 123 and 124: ANEXOSManuscrito de carta ao amigo
- Page 125 and 126: ANEXOSCom Baden Powell, em 1964.125
- Page 127 and 128: ANEXOSCom Maria Bethânia, em 1966.
- Page 129: ANEXOSVinicius, em 1976.129