FELIPE FORTUNAna apropriação <strong>de</strong> textos clássicos, para que sejam atingi<strong>do</strong>s os i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong>beleza e <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> surgi<strong>do</strong>s na Antiguida<strong>de</strong>. Por isso mesmo, aemulação tinha valor pedagógico, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se que po<strong>de</strong>ria estimular– e não tolher – a criação <strong>do</strong> poeta: haveria sempre uma relação reverencialcom o passa<strong>do</strong>. Sutilmente, <strong>Vinicius</strong> <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong> inverte a cronologiaobrigatória no processo <strong>de</strong> imitação, e passa a homenagear um poetamais jovem. Descreve João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto com os mesmosinstrumentos cria<strong>do</strong>s pelo poeta pernambucano, e com igual dicção, comoque transforman<strong>do</strong> a originalida<strong>de</strong> em mo<strong>de</strong>lo a ser copia<strong>do</strong>. O resulta<strong>do</strong>final é um poema que, na obra <strong>de</strong> <strong>Vinicius</strong> <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong>, encontra-secompletamente <strong>de</strong>sloca<strong>do</strong>: não é nem mesmo um soneto, forma a quetanto se afeiçoou, e que foi <strong>de</strong>cididamente repudiada pelo amigonor<strong>de</strong>stino. A pontuação quase inexistente – não fosse a exclamação final– e a oscilação por vezes confusa entre maiúsculas e minúsculas são oselementos fortes que traem o mo<strong>de</strong>lo, e induzem to<strong>do</strong> o retrato que estásen<strong>do</strong> elabora<strong>do</strong> a uma caricatura fraterna. Merece apreço, ainda, aseleção vocabular trazida pelo autor <strong>do</strong> retrato, que habilmente mistura asemântica mineral <strong>de</strong> João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto (pedras, calcárias,grafito, ári<strong>do</strong>, <strong>de</strong>serto, diamante) a um vocabulário nunca por estetematiza<strong>do</strong> (irmão, camarada, fraterno, ae<strong>do</strong>).O último verso <strong>do</strong> poema traz uma informação relevante, pois ampliaa amiza<strong>de</strong> entre os <strong>do</strong>is poetas a uma dimensão política: é ao camaradaCabral a quem <strong>Vinicius</strong> se dirige, como se aquele fosse um homem <strong>de</strong>parti<strong>do</strong>. E está aí, mas nunca na concepção artística, o ponto <strong>de</strong> encontro.Tanto assim que a saudação final se transforma em epígrafe <strong>do</strong> poema <strong>de</strong>resposta, que também i<strong>de</strong>ntifica em <strong>Vinicius</strong> <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong> um camarada <strong>de</strong>igual dureza... O poema <strong>de</strong> João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto não é, por suavez, uma tentativa <strong>de</strong> retratar o amigo – mas uma autoexplicação <strong>de</strong> quemse acha "incapaz <strong>do</strong> vago" e, ironicamente, pe<strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpas pela limitação.O poeta pernambucano distinguia entre os que faziam e construíam apoesia e os que a encontravam em atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> receptivida<strong>de</strong> – comoseguramente era o caso <strong>de</strong> <strong>Vinicius</strong> <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong>. Na política e nadiplomacia, ambos se encontrariam pelo menos uma vez mais com asdificulda<strong>de</strong>s trazidas por suas opções. João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto foicoloca<strong>do</strong> em disponibilida<strong>de</strong> pelo Itamaraty, em 1953, acusa<strong>do</strong> <strong>de</strong>subversão. E <strong>Vinicius</strong> <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong> foi aposenta<strong>do</strong> pelo AI-5, em 1968.Resta, no entanto, um elemento consola<strong>do</strong>r na relação <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, em62
VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAque pesem as ressalvas críticas, e no projeto <strong>de</strong> uma Pátria melhor. APátria que po<strong>de</strong> ocasionalmente maltratar os seus admira<strong>do</strong>res genuínos,mas que consegue encontrar um tempo para reparar o erro.63
- Page 1:
EMBAIXADOR DO BRASIL
- Page 6 and 7:
Tramitação Legislativa, 99a. Mens
- Page 8 and 9:
CELSO AMORIMmovimento de “caça
- Page 10 and 11:
AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOHelle
- Page 12 and 13: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOrespo
- Page 14 and 15: AFFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOEm um
- Page 16 and 17: MIGUEL SANCHES NETOUma visão, port
- Page 18 and 19: MIGUEL SANCHES NETOele encontra um
- Page 20 and 21: MIGUEL SANCHES NETOerótica perturb
- Page 22 and 23: MIGUEL SANCHES NETOcomo força motr
- Page 24 and 25: MIGUEL SANCHES NETOse viram partíc
- Page 26 and 27: MIGUEL SANCHES NETOGentil-homem ins
- Page 28 and 29: MIGUEL SANCHES NETOmanifestava pela
- Page 30 and 31: MIGUEL SANCHES NETOMe diga sinceram
- Page 32 and 33: MIGUEL SANCHES NETONABUCO, Joaquim.
- Page 34 and 35: RICARDO CRAVO ALBINliteratura, de p
- Page 36 and 37: RICARDO CRAVO ALBINouvidos - e o co
- Page 38 and 39: RICARDO CRAVO ALBINLogo na loura fi
- Page 40 and 41: RICARDO CRAVO ALBINsala um pequeno
- Page 42 and 43: RICARDO CRAVO ALBINO Cônsul Vinici
- Page 44 and 45: RICARDO CRAVO ALBINO senhor tenha u
- Page 46 and 47: RICARDO CRAVO ALBINAlmeida. Este sa
- Page 48 and 49: RICARDO CRAVO ALBINOh! minha amada
- Page 50 and 51: RICARDO CRAVO ALBINum violão total
- Page 52 and 53: RICARDO CRAVO ALBINAinda neste ano
- Page 54 and 55: RICARDO CRAVO ALBINatriz Odette Lar
- Page 57 and 58: Vinicius de Moraes e a PátriaFelip
- Page 59 and 60: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAgraç
- Page 61: VINICIUS DE MORAES E A PÁTRIAPerga
- Page 66 and 67: FORMATURA IRBRafastar-se de nosso c
- Page 69 and 70: Tramitação no Poder Executivo69
- Page 71 and 72: TRAMITAÇÃO NO PODER EXECUTIVO71
- Page 73 and 74: Artigo de Bernardo de Mello Franco,
- Page 75 and 76: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOOs 13 diplo
- Page 77 and 78: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOUm dossiê
- Page 79 and 80: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOCentro do R
- Page 81 and 82: ARTIGO NO JORNAL O GLOBOexilados a
- Page 83 and 84: ARTIGO NO JORNAL O GLOBO83
- Page 85 and 86: Tramitação Legislativaa. Mensagem
- Page 87 and 88: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAb. Parecer
- Page 89 and 90: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAO mesmo Ruy
- Page 91 and 92: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAditaduras.
- Page 93 and 94: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAMas é a vi
- Page 95 and 96: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAd. Votaçã
- Page 97 and 98: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVADeclaraçã
- Page 99 and 100: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVA99
- Page 101 and 102: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAf. Votaçã
- Page 103 and 104: TRAMITAÇÃO LEGISLATIVAAprovada.É
- Page 105: Lei nº 12.265, de 21 de junho de 2
- Page 109 and 110: 109
- Page 111 and 112: ANEXOSVinicius, aos 20 anos de idad
- Page 113 and 114:
ANEXOSVinicius de Moraes, na décad
- Page 115 and 116:
ANEXOSVinicius de Moraes, com o Pre
- Page 117 and 118:
ANEXOSCom o Presidente Luiz Inácio
- Page 119 and 120:
ANEXOS119
- Page 121 and 122:
ANEXOSCom o Presidente Luiz Inácio
- Page 123 and 124:
ANEXOSManuscrito de carta ao amigo
- Page 125 and 126:
ANEXOSCom Baden Powell, em 1964.125
- Page 127 and 128:
ANEXOSCom Maria Bethânia, em 1966.
- Page 129:
ANEXOSVinicius, em 1976.129