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Vinicius de Moraes Embaixador do Brasil - Funag

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MIGUEL SANCHES NETOUma visão, portanto, elitista da arte, bem ao gosto <strong>do</strong>s encaminhamentospolíticos da primeira fase <strong>do</strong> governo Vargas (1930-1945), para o qual opoeta trabalhará, em 1936, como censor cinematográfico, posto herda<strong>do</strong> <strong>do</strong>amigo Presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Morais, neto.A força centraliza<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> grupo foi fundamental para que <strong>Vinicius</strong> se<strong>de</strong>dicasse plenamente à arte poética. Isso, no caso <strong>de</strong> uma pessoa dispersivacomo ele, <strong>de</strong>finiu seu próprio futuro, pois seus primeiros livros criaram,<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> sólida, a figura <strong>do</strong> vate marca<strong>do</strong> pela grandiloquência <strong>de</strong> dramasmetafísicos que davam origem a versos dilata<strong>do</strong>s – verda<strong>de</strong>iros tapetesaristocráticos que não cabiam nos apartamentos acanha<strong>do</strong>s <strong>de</strong> uma poesiamo<strong>de</strong>rna já naquele instante repleta <strong>de</strong> cacoetes. O la<strong>do</strong> positivo <strong>de</strong>stainfluência é visível no ritmo criativo <strong>do</strong> poeta, que, em apenas três anos,editou três livros, média que nunca mais atingirá. É claro que não há umacorrespondência entre a quantida<strong>de</strong> e a qualida<strong>de</strong>. Os seus melhores poemasserão escritos <strong>de</strong>pois, quan<strong>do</strong> o autor adquire voz própria. Suas raízes, noentanto, permanecem em seu universo <strong>de</strong> estréia, que não será mais repeti<strong>do</strong>e sim, nega<strong>do</strong>.Ao filiar-se a um grupo, ele tem valorizada a sua criativida<strong>de</strong>, receben<strong>do</strong><strong>de</strong> empréstimo a nomeada <strong>de</strong> seus mestres e as posições conquistadas. Negar,por isso, essa influência primeira é <strong>de</strong>sconhecer o seu papel na formação <strong>do</strong>poeta e na conquista <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong>, mesmo que mascarada por traçoscoletivos. Seus primeiros livros guardam um gran<strong>de</strong> interesse crítico, mesmosen<strong>do</strong> esteticamente secundários.Não se po<strong>de</strong> falar, nem em seus momentos mais religiosos, <strong>de</strong> uma poesiacatólica, embora fosse esta a orientação <strong>do</strong> grupo. Os seus são versosassinala<strong>do</strong>s, como fica dito em “Místico”, por um “vago senti<strong>do</strong> <strong>de</strong>espiritualização” (p. 161). Poeta aprendiz, o <strong>Vinicius</strong> <strong>de</strong>ssa fase sofre o choque<strong>do</strong>s apelos eróticos e a orientação para a superação <strong>de</strong> sua natureza sensual.Na verda<strong>de</strong>, os poemas refletem o embate entre <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> satisfação, aespiritual e a carnal. Não se encontra o poeta em um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> pacificação,mas no meio <strong>de</strong> uma disputa acalorada entre suas experiências <strong>de</strong> homem esua formação religiosa e filosófica, referendada pelo tutor intelectual que eraOctavio <strong>de</strong> Faria. Daí os versos <strong>de</strong>sbraga<strong>do</strong>s, num <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>spara to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s, razão da vaguida<strong>de</strong> que o próprio poeta confessa aoabrir o livro. Entram em disputa a formação e a <strong>de</strong>formação, puxan<strong>do</strong> opoeta para la<strong>do</strong>s opostos. A poesia é uma maneira <strong>de</strong> tentar impor (fazen<strong>do</strong>ecoar os ensinamentos <strong>de</strong> seus mestres) os conceitos adquiri<strong>do</strong>s, obrigan<strong>do</strong>-16

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